domingo, 30 de dezembro de 2012

A semana antes

Tardei, mas cheguei. Na verdade, pra ser mais realista, procrastinei, procrastinei, morri, fui ressuscitada e no momento encontro-me amarrada ao computador, porque esse texto precisa sair antes do ano que vem.

Antes de tudo, um aviso (aviso este que será o assunto do post e do próximo mês todinho, mas não quero estragar a surpresa): pessoal, eu vou fazer intercâmbio.

Não, não se preocupem, não é daqueles que você passa o ano todo fora e tem que trabalhar de babá pra sobreviver, criança não é mesmo o meu forte. Também não é daqueles que você tem uma mãe feliz, um pai feliz, filhos felizes e um cachorro feliz, todos vivendo numa casa pacata com um jardim cheio de gnomos no subúrbio de um país desenvolvido, felizes. Na verdade, pode até ser, mas por enquanto eu não sei muita coisa.

Detalhe: começa dia 4. Hoje é dia 30. Eu volto dia 4 (de fevereiro). E não, eu não sei ainda dos detalhes. Procuro não esquentar muito a cabeça com isso agora, tenho certeza de que não estou sendo enganada, ou pior, traficada, mas você esperaria saber mais à essa altura. Mas relaxem, depois explico melhor.

A culpa nem é exatamente da agência, é mais minha, porque eu resolvi tudo muito apressado. Pode ser só por um mês, mas ainda assim, acho que subestimei a relevância dessa Coisa com C maiúsculo que eu vou fazer. E sozinha.

Intercâmbio. Se você me perguntasse a definição de intercâmbio, eu diria que é: vai trabalhar, vagabundo.
É você sair da sua zona de conforto, se entregar de olhos fechados e de braços abertos pro desconhecido. É você descobrir o mundo como ele realmente é, sem os floreiros dos folhetos de viagem, sem os discursos fervorosos (e francamente, ilusórios) do guia do seu passeio, sem falsas impressões, na cara e na coragem, você por conta própria. Você e sua mochila. 

É você, ser medíocre, adolescente deslumbrado, crescendo e descobrindo a vida. Com direito a todos os pontapés, "nãos", "sims", apertos de mão desajeitados, orçamentos apertados pra caber tudo, dinheiro jogado fora em bugiganga, decepções amorosas, experiências extraordinárias, lugares espetaculares, pessoas, pessoas, muitas pessoas e comida suspeita do barzinho da esquina - que você só experimentou porque se perdeu no metrô e está tentando não entrar em pânico e voltar são e salvo pra casa.

Você e sua câmera fotográfica. É fazer poses ridículas, é abordar aquele ator famoso de Hollywood, é fingir ser profissional, é virar profissional, mesmo que com uma ajudinha do Instagram. É tirar foto de tudo mesmo, de tudo e de todos, porque acredite quando eu digo que você não vai querer esquecer nenhum momento.

E como eu sei dessas coisas? Eu não sei. Eu sinto. Já sou bem viajadinha (neste caso, significando crescidinha) para entender o que devo esperar, o que tenho que fazer, quem eu tenho que procurar, como não me descontrolar e como não vale a pena querer ligar chorando à noite para a minha "MAMÃE!" vir me buscar.

Já viajei muito, sim, mas agora é a primeira vez que eu vou poder usar usar este verbo legitimamente. A primeira vez que eu vou poder usá-lo na 1a pessoa do singular. Eu viajei. Minha viagem. Minhas experiências. Minhas presepadas. Boas ou não, serão minhas e isso ninguém nunca vai poder tirar.

E que Deus me acuda.

Agora que estamos devidamente informados sobre a natureza do meu intercâmbio, está na hora de revelar meu destino. Dica: seu ponto turístico principal não é o fundo do meu blog. Não é o lugar que eu me imagino todos os dias. Não é o berço de todos os meus livros favoritos, atores admirados, história apreciada, cultura  curiosa, monarquia carismática.



Eu não estou indo para Londres.

Tipo, não mesmo. Eu estou indo para Bristol. Mas é só por uma semana. Depois disso, eu definitivamente estou indo para Londres, e por lá ficarei por mais três semanas antes de voltar para o Brasil e para o marasmo da vida real.

Este post é o primeiro do meu especial de 2013 ainda não intitulado, mas que por agora será chamado como Diário de Intercambista, porque não acordei inspirada.

Nele escreverei tudo, absolutamente tudo que passar na minha cabeça pelo próximo mês de janeiro, das expectativas à realidade, pelas dicas e pelos "FIQUE LONGE", pelos planos e pelos amigos e pelos professores e pelas dificuldades e por... tudo, basicamente. Acho que vocês já entenderam essa parte.

Então é isso, meus amigos, vejo vocês daqui a pouco com mais posts sobre a "pré-viagem", ou como também é conhecida, pela preparação, em que pretendo ser um pouco mais específica nas minhas explicações, se é que vocês querem a parte chata e teórica (e necessária) da coisa. Agência, datas, documentos necessários, por aí.

Por enquanto, desejem-me boa sorte porque o pior ainda está por vir.
E lembrem-se: é com o pessimismo que a gente é capaz de ficar admirado.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Então é Natal?


Natal é uma celebração na medida certa para crianças. Cor, empolgação, presentes, neve (se é que você tem essa sorte). Criança vê tudo através de lentes coloridas e por isso o Natal é tão apropriado para ser, bem, a data delas. 

Criança não vê o pai acordando de madrugada e colocando sorrateiramente o brinquedo debaixo da árvore (e tendo que engolir todos os biscoitos maravilhosos em forma de rena feitos pela própria), criança não se estressa durante o caos aéreo de fim de ano se tiver um Angry Birds em mãos, criança nem suspeita que o motivo do papai estar franzindo as sobrancelhas e suspirando para um papel é que ele acabou de receber a conta do cartão de crédito após as compras natalinas.

Criança não sabe nada disso, graças a Deus. Se soubesse, talvez encontrasse um meio de subir aos céus e chegar lá na "segunda estrela à direita e então direto até amanhecer" para viver na Terra do Nunca com o Peter Pan - e assim nunca crescer. Ou então se esconder num armário e se recusar a sair até achar o caminho para Nárnia. Sei disso, porque dada a escolha, eu iria feliz e de bom grado (hoje mesmo).

Não é que o Natal deixe de ser colorido. São só as lentes que mudam. Lentes que caem dos nossos olhos quando crescemos. Se Natal para as crianças é colorido, então para os adultos ele deve ter mais ou menos uns 50 tons de cinza, que variam conforme o humor do chefe.

E nem tente me enganar dizendo que a magia do Natal continua "em seu coração". Não da mesma forma. Ninguém, repito, ninguém suporta fazer/comprar lista de presentes. No meu caso, não suporto fazer porque sinto que estou incomodando as pessoas e não vejo porque elas precisam me dar presentes se mal me conhecem. Não suporto comprar por motivos óbvios. Estresse, engarrafamento, lojas lotadas, além do mais, mal te conheço.

E não importa o quanto sorria e acene, você sabe muito bem que atrás daquela barba do Papai Noel do shopping há na verdade um moreno baixinho e mirrado, cansado de lidar com guris loucões o dia todo, morrendo de vontade de voltar pra casa, no meio de uma crise existencial do tipo "Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida". E fritando de calor.

E então perde a graça. Perde a graça, o Natal perde a graça. Os jantares cada vez mais monótonos, as mesmas pessoas, as mesmas perguntas, a mesma comida, o mesmo especial do Roberto Carlos na Globo, o mesmo tio bêbado, o mesmo presente "Oh, meias de novo, tia?". O mundo em 50 tons de cinza. E não é que foi esse livro que a sua tia velha e safada resolveu te dar, dando risinhos e dizendo "Não conta pra sua mãe...". 

Monótono, monocromático, cinza. Meu Natal. Por que tem que ser assim? Eu nunca pedi por isso, Papai Noel, nunca pedi. Eu queria continuar acreditando.

Mas na aula eu aprendi que é impossível o senhor viajar para todas as casas do mundo em uma noite, mesmo com a ajuda de todos os seus elfos. E que a sua barriga entalaria logo na primeira chaminé. E que renas não voam. E que ninguém vive no lado inóspito do Pólo Norte. E que o senhor foi uma brilhante jogada de marketing bolada pela Coca-Cola.

Eles me disseram que o senhor não existe.

Eu chorei aos sete anos, Papai Noel, quando te perdi, e choro hoje de novo, porque me perdi. Eu sei que é tarde para fazer meu pedido, mas na verdade ele é bem simples, e se é que o senhor realmente contraria todas as leis da física e do espaço-tempo, por favor tome um tempo para ler a minha cartinha e me atender no Natal que vem.

Tudo que eu peço é um par de óculos, porque minha vista anda embaçada. Não um daqueles chatos que tratam astigmatismo ou miopia. Um bem bonito, com armação arrojada, que nem o do John Lennon. E com lentes coloridas.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

(Para ouvir e ler e se inspirar)

Everybody's Free (To Wear Sunscreen), por Baz Luhrmann
Tradução: Filtro Solar (com narração de Pedro Bial)

Filtro solar! Nunca deixem de usar o filtro solar. Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar! Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência, já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês… 

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece… Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas pode crer que daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos, e perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia, quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente. E como você realmente estava com tudo em cima, você não está gordo ou gorda… Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça-feira modorrenta.

Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade. Cante. Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine. Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos. Estique-se. Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem. 

Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles. Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo. 

É assim para todo mundo.

Desfrute de seu corpo use-o de toda maneira que puder, mesmo! Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance. Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto. Leia as instruções mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio. 

Brother and Sister 
Together we’ll make it trough 
Someday a spirit will take you 
And guide you there I know you’ve be hurting 
But I’ve been waiting to be there for you 
And I’ll be there just helping you out 
Whenever I can 

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons. 

Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, Mais você vai precisar das pessoas que você conheceu quando jovem. More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje. Aceite certas verdades inescapáveis: Os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também vai envelhecer. E quando isso acontecer você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, E as crianças respeitavam os mais velhos. 

Respeite os mais velhos! E não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez você case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois de repente pode acabar. Não mexa demais nos cabelos se não quando você chegar aos 40 vai aparentar 85. Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale. Mas, no filtro solar, acredite.

***

Sábias palavras na voz do nosso querido apresentador Pedro Bial. Agora me deem licença que eu preciso passar o fio dental.