segunda-feira, 30 de abril de 2012

Life goes on

Existem alguns momentos, meio raros, em que tudo parece tão excepcional, tão maravilhoso, que você se pergunta "Essa é mesmo a minha vida?". E são por esses momentos que você percebe o quanto vale a pena viver.

Existe um tipo de felicidade tão grande que chega a ser extremamente doloroso de se sentir, pois seu lado racional, sempre alerta, continua murmurando "Não fique animada demais. Vai acabar. Você está feliz demais, mas daqui a pouco vão perceber que foi um erro e mandá-la para o destinatário correto".

Basicamente, foi assim que me senti durante os meus 20 dias de viagem, onde tudo pareceu possível, onde desafiamos o improvável, onde tudo certo mesmo quando deu errado, onde eu realmente descobri a importância de usar três calças e por que você nunca deve pegar um trem em Milano Cadorna.


Certas vidas podiam facilmente ser transformadas em filme. Há o começo, onde o protagonista está passando por uma crise existencial, triste que só vendo; o meio, onde tudo acontece, vem as cenas de ação e os problemas se desenrolam; e o final, onde tudo dá certo (ou muito errado) e a tela fica negra, as pessoas vão embora, os créditos passando.

Quando meu filme acabou, eu já tinha tudo isso - potencial para um grande blockbuster, ótimo roteiro, bons atores, começo, meio, fim, todas essas coisas. Exceto por diferença essencial - a tela não ficou negra e os créditos não começaram a rolar. Pelo contrário, eu saí do avião e a vida continuou.

A vida, quer você queira ou não, continua sem você. Se for parar para pensar, é uma ideia assustadora. Não importa o que você esteja fazendo, não importa nem ao mesmo se você não estiver mais aqui, ela vai continuar.


Eu vi dragões e lutei grandes batalhas, eu vi pessoas de todos os reinos, eu fiz parte. Pela primeira vez, eu me senti parte de um todo. Como mais uma pessoa na multidão. E isso é bom, muito bom. Isolados aqui na Floresta Amazônica, às vezes esquecemos que tudo não é só sobre "eu, eu e eu". Existem outras 6.999.999 pessoas, todas espalhadas por aí, todas fazendo a vida continuar.

O mais frustrante, cá para nós, é justamente ter essa realidade alternativa limitada, que só se abre como um portal a cada 12 meses, abrindo novamente seus olhos, lembrando novamente de como é a sensação, esse preenchimento, essa felicidade e esse caos absoluto. Porque tão rápido quanto ele abre, ele fecha, e você é cuspido para fora do universo sem piedade, aguardando ansiosamente pela sua próxima abertura, se é que ele vai abrir outra vez. Nunca se sabe.

A R.A.L (Realidade Alternativa Limitada) é péssima. As duas semanas póstumas são as piores. Se você não tiver a cabeça no lugar, cai num buraco bem fundo. A realidade como a conhecemos, que na verdade nem realidade é, ou talvez seja, ou talvez queremos que seja, ou talvez queiram que queiramos que seja, não sei - essa realidade é estressante demais, porque como disse anteriormente, o mundo continua sem você. Para melhor ou para pior, ele continua. As pessoas mudam, você muda, e tudo não parece mais fazer sentido.


"Ontem mesmo eu estava em King's Cross... Céus, foi ontem". 

Aqui vai o desabafo - minha recepção foi um horror. Todos que ficaram aqui pareciam trabalhar incessantemente para me derrubar enquanto tudo que eu queria era continuar lá em cima,  com lembranças de tirar o fôlego, e indubitavelmente feliz. Indubitável e estonteantemente feliz.

Tais problemas já -  e estou confiante quando digo isso - foram parcialmente, se não periodicamente, talvez inteiramente resolvidos. Certo, não.

Mas após quatro meses, considero-me sóbria o bastante para avaliar os incríveis acontecimentos que se sucederam entre 29 de dezembro de 2011 e 30 de abril de 2012, que é o dia que estou escrevendo este post.


Ronald Weasley disse uma vez "You're gonna suffer... but you're gonna be happy about it", e acho que nenhuma frase poderia exprimir melhor o que se passa na minha cabeça entorno deste assunto no momento. Deste, em particular.

É com muita saudade e aperto no coração que eu me despeço de Lisboa, Madri, Barcelona, Milão, Berna, Paris e Londres. E de você também, Slough. Nunca esquecendo de Lausanne. E todas as paradas de trem. E  da vovó gente fina da Suíça. E do Steven Spielberg. E das chatas comissárias de bordo, como sentirei falta de vocês e da sua carne duvidosa. Da senhora presa no banheiro. Do dia em que tivemos que arrastar malas por todo o comprimento de um trem em movimento. Do zoológico de Londres. Ah, de Londres. E do telefonema do Mickey na DisneyLand Paris. Da Torre Eiffel naquele belo dia azul. E de tudo, tudo, absolutamente tudo, cada momento, cada segundo, cada respiração, cada sorriso, muito obrigada.

Muito obrigada.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Welcome to London!


Amanhece tarde, escure muito cedo. No inverno, os ventos cortantes vêm direto do Ártico e o frio é de bater os queixos. Sempre nublado, sempre chovendo. O tempo é imprevisível. As pessoas têm pressa, muita pressa, e vivem correndo adoidadamente pelas escadas rolantes do metrô - então deixe a esquerda livre, faça o favor, se não quiser ser atropelado. Deve ser por isso que dizem que a Inglaterra só é boa pra inglês, mesmo. 

That's rubbish.

Nunca eu conheci lugar mais encantador. Mesmo entre a pressa e as corridinhas básicas, as pessoas são (na maior parte das vezes) cordiais, até mesmo nas longas viagens de metrô atravessando a cidade, diferentemente da capital francesa. É uma vida solitária, sim, a do londrino. A educação, porém, impera de atendentes a taxistas, que, aliás, dirigem os famosos carros retrôs que dão um charme especial à cidade. Os ônibus vermelhos de dois andares? Tudo verdade. Ficam peruando de um lado para o outro, sem parar, o dia todo.


Como turista, felizmente, não precisei me preocupar com o tempo, já que havia tanto para ver, sentir, conhecer e fazer. Londres é mágica de uma forma própria, que brilha apesar das cores tristes da cidade. Há história - séculos de vida - em cada construção, cada rua, praticamente em todo lugar que o olho bate. A emoção de passar por um endereço famoso - 221B Baker Street, Downing Street number 10, Fleet Street e segue o bonde.


A emoção ainda maior de encarar o Big Ben e finalmente poder exclamar, com indiferença: "Pensei que fosse maior". Olhar para a London Eye e receber a notícia de que está fechada para re-estofamento. Chegar 5 minutos atrasados para entrar no museu do Sherlock Holmes. Tantas emoções, boas ou ruins, tanto faz, mas ainda assim, memórias. E todas elas são relevantes, afinal, é Londres.

Trafalgar Square
Como chamar de infeliz uma cidade em que o condutor do seu translado, o típico senhor inglês, surge às 3:30 da madrugada, no frio de -1o C, para apanhar somente sua família de três pessoas no hotel, e ainda brincar de driblar cones nas ruas desertas, divertindo-se pacas, perguntando como andam seus "driving skills", e arrancando risadas de todo mundo? O sorriso vem de onde menos se espera.

Cada um tem sua própria maneira de encontrar a felicidade, e Londres, de um jeito nada convencional, com tudo para dar errado, parece ter encontrado a sua. E que só inglês entende, mesmo.

E dá-lhe, chuva.
E viva a rainha.