sábado, 28 de maio de 2011


E o ciclo continua...


Dreams - Brandi Carlile


Dreams, I have dreams
when I'm awake
when I'm asleep

And you, you are in my dreams
You're underneath my skin,
how am I so weak

And now in my dreams,
I can feel the wait,
I can just come clean

I keep it to myself,
I know what it means
I can't have you,
but I have dreams

How long, can you hold your breath?
Can you count to ten, can you let it pass?
To keep, can you keep it in?
Keep it behind lashes, can you make it last?

And now in my dreams,
I can feel the way
I can just come clean

I keep it to myself,
I know what it means
I can't have you,
but I have dreams

Oh, I have dreams,
I have dreams

Mind, can you read my mind?
Has it come undone,
am I showin' signs?

And now, in my dreams
I can feel the wait,
I can just come clean

I keep it to myself,
I know what it means
I can't have you,
but I have dreams

I have dreams, I have, I have, I have
Dreams



How I wanted to write something that someone would be really proud of, some day.


segunda-feira, 23 de maio de 2011

A garota da capa azul


Sorrateiramente, a garota da capa azul perambula pelos confins da cidade. Não floresta. A garota da capa azul vive na selva urbana.

Ela não é loira de belos cabelos cacheados, e muito menos de pele rosada. Pelo contrário, anos vivendo debaixo do sol de rachar a deixaram mais morena e queimada que nunca. Os cabelos escuros e rebeldes presos num rabo improvisado, com uma liga que ela achou pela rua.

Sua capa azul não é de seda. Na verdade, era de uma cortina antiga de uma das patroas de sua mãe. Nada luxuoso, ela sabia, mas era o que podia vestir. E a usava com dignidade.

Os doces não eram para a vovozinha. Eram para vender.
Andava rapidamente pelos carros, oferecendo uma das guloseimas de sua mãe. Se o dia fosse bom, talvez ela pudesse ficar com o último do pacote. E esse simples pensamento já a deixava feliz.

Não que sua mãe fosse tão irresponsável quando a do conto, pois não era. Mas é que não havia escolha, e a garota entendia já entendia isso, no auge dos seus 8 anos.

Também entendia que não podia deixar nenhum lobo mau a pegar. Sabia que eram perigosos, e que se visse um na rua, deveria correr o mais rápido que pudesse. Mamãe nunca explicou o porquê, mas sabia que era isso que deveria fazer.

Mas a garota da capa azul tinha um sonho. E você sabe, não há nada mais forte que um sonho. Especialmente em uma garotinha de 8 anos.

Tudo que ela queria... bem, era uma capa nova.
De uma cortina que ela viu por aí... estampa de estrelas. É, isso seria legal.

Pois não há nada mais puro que o coração de uma criança, não importa o lugar de onde vem.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Professores, aqui vai uma sugestão legal


Mês de maio, e já queremos nos matar. Ou só morrer. As aulas demoram 12 horas para passar, e lá vem aquele Everest de tarefas e trabalhos. Não aguentamos mais as vozes dos professores, e tudo que queremos é fugir da escola... ou, pelo menos, uma aula divertida.

Então, professores de todo o Brasil, anotem essas sugestões para deixar seus alunos mais felizes. Ou para não enlouquecer até as férias de julho.

Português
Chega de orações subordinadas, aposto, predicativo do sujeito... Vamos aprender a língua portuguesa como se deve. Organizando uma viagem para a terrinha, Portugal, no meio do ano letivo. Visitaremos castelos, aquários, zoológicos, e faremos amizade com nossos colonizadores lusitanos. Tudo pela preservação, consideração e admiração à nossa língua, é claro. Questões acadêmicas.

Matemática
Minha querida, por favor, CRESÇA e resolva os seus próprios problemas. Ou contrate um psicólogo, tanto faz. JÁ SEI, TENHO UMA IDEIA MELHOR. Vamos para o shopping, nós duas... e a classe também. Isso melhora o ânimo de qualquer um. Nos ensine a gastar da melhor maneira, aproveitando todas as promoções, liquidações... ou seja, a como gastar melhor o cartão de crédito do papai. Muito mais útil.

História
Peça encenando os momentos históricos mais importantes da humanidade, a ser apresentada no final do ano, com efeitos visuais de tirar o fôlego e cenários fabulosos. AH, É UM MUSICAL. Eu serei a Cleópatra, logicamente.

Geografia
Trabalho em conjunto com o professor de português, entitulado "Volta ao mundo em um ano letivo". Teremos as aulas nos aviões, a caminho de Portugal, França, Itália, Rússia, Egito, Inglaterra... Quer maneira melhor de aprender geografia?

Inglês
Sessão pipoca -  assistir todos os clássicos do cinema americano e britânico, passando por todos os gêneros. Tudo sem legenda, é claro. E abstraia se não estiver entendendo nada, O IMPORTANTE É SE DIVERTIR.

Biologia
Que dissecação de sapos, o quê? Agora a moda é aula prática PRA VALER. Um dia na Floresta Amazônica para observação da vida aninal, você e mais seis colegas (de sua escolha), cada um levando sua mochilinha de sobrevivência. Cozinharemos no mato, acenderemos o fogo e cantaremos até o amanhecer. Tudo isso enquanto fugimos da onça, em parceria com as aulas de Educação Física.

Redação
Um dia na vida de J.K. Rowling. Ela lerá para nós o primeiro capítulo da Pedra Filosofal e dará dicas para melhorarmos nossa escrita, enquanto gritamos na montanha-russa Dragon Challenge, do parque The Wizarding World of Harry Potter.

E se depois de tudo isso você não passar a gostar da escola, meu amigo... MORRA VOCÊ.

E aí, que tal a ideia?


INDICADO POR MELHOR TEXTO DE COMÉDIA ORIGINAL.
Indicado por mim, é claro, mas abafa.
Mas ficou legal, né?
DIGA NÃO AO PLÁGIO.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aquele momento estranho

- Aquele momento estranho em que sua mãe coloca uma árvore de Natal na sala e ainda estamos no mês de Maio.

-Aquele momento estraho em que você percebe que o seu primeiro melhor amigo era russo e, logicamente, não falava a sua língua.

- Aquele momento estranho em que você percebe que tem paranóia com digitais e gente pegando em comida com a mão.

- Aquele momento estranho em que você pega a batata frita com o garfo.

- Aquele momento estranho em que o Harry agarra o Voldemort e se atira de um penhasco.

- Aquele momento estranho em que você não consegue lembrar uma palavra da sua própria língua, e fica balançando as mãos loucamente até conseguir.

- Aquele momento estranho em que você percebe que tem mais amigos virtualmente que socialmente.

- Aquele momento estranho em que você corta o cabelo e fica parecida com a Branca de Neve.

- Aquele momento estranho em que te colocam em um tubo, e você está vestindo um saco de batatas verde.

- Aquele momento estranho em que toda a sua sala para te falar abruptamente, e sempre tem alguém falando uma besteira.

- Aquele momento estranho em que você percebe que é uma pessoa muito estranha.

- Aquele momento estranho em que você sonha que está almoçando na Pizza Hut com o primo chato do Harry Potter. Sério. Pizza no almoço?

- Aquele momento estranho em que você percebe que já leu e gostou de revistas adolescentes.

- Aquele momento estranho em que suas amigas começam a se abraçar, e você não sabe o que fazer.

- Aquele momento estranho em que você percebe que o seu melhor amigo só existe na sua cabeça.

- Aquele momento super estranho em que você está andando pelo quarto, abre os braços e atinge uma boneca de porcelana que está na sua estante, e derruba ela.

- Aquele momento assustador em que a boneca fica presa no seu braço, sentada, e olhando pra você.

- Aquele momento em que você percebe o quanto esse mês foi estranho, e que hoje ainda é dia 18.

*foge para as colinas*

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vida de sardinha


Ainda falta inventar uma coisa mais chata/aterrorizante/incômoda do que fazer exames. Deita pra lá, vira pra cá, agora fica quietinha, não, não mexe. Tremeu. De novo.

E era exatamente nisso que eu estava pensando na sala de espera do consultório enquanto O Clone passava na TV. Pensava nisso e fazia a tarefa de matemática, ou simplesmente pensava nisso e deixava a caneta no automático.

Pra quem não sabe, colegas, eu tenho problemas mandibulares. Meu maxilar é deslocado, e eu estou no meio de um tratamento dentário. Até tirei o aparelho esses dias, mas eu sabia que a felicidade não iria durar muito. Porque eu só tirei por causa do exame.

Ressonância magnética.
Se você assiste House como eu, não preciso explicar como funciona. Mas se não, leigos da medicina, em palavras vulgares - é aquele tubo que te colocam dentro, sem poder se mexer, enquanto te assistem na outra sala.

Um tubo simpático e claustrofóbico. Ou só claustrofóbico, é.

Não larguei o livro de Matemática quando me chamaram para a outra sala de espera. Meu pai ia fazer um raio-X, e ele logo apareceu vestindo uma bata verde vômito.

Às vezes eu acho que os médicos, não satisfeitos em nos ver sofrendo, querem nos humilhar também. Essas batas, de tamanho único, são o pior atentado à moda - e à dignidade - que existe no mundo moderno.

Estava ansiosa. Queria terminar aquilo logo. Tentei passar confiança para as crianças (nem tão) felizes ao meu lado, tentando pagar uma de intelectual com o meu X (literalmente). Mas a minha borracha caiu, meu fichário caiu, e a minha vontade também. Logo fechei o livro e esperei minha vez.

-Sra. Ana Rodrigues? - perguntou uma moça pra mim.
Eu nem prestei atenção, já que eu tenho um bando de nomes, e Ana Rodrigues, muito mais Sra. Ana Rodrigues, seriam as últimas coisas que eu iria pensar que se referiam a mim.
Ela perguntou de novo, aí eu saquei.
-Aaaaah, sou eu.
-Vista isso. - e me entregou a maldita bata verde, com uma chave para guardar minhas coisas em um dos armários.

Enquanto seguia solenemente para o cubículo onde as pessoas se trocavam, passando pelos banquinhos das pessoas verdes, lembrei que logo me tornaria uma delas.

No cubículo, consegui derrubar a bata, meus óculos, meu relógio e quase tropecei no meu sapato. É que eu sou muito jeitosinha. Aquilo nem tinha espelho. Melhor, pensei.

Saí e encontrei meu pai verde, que colocou meu colar e relógio dentro do meu tênis e os guardou no armário. E agora, esperaríamos. Quanto? Não sei.

Nem relógio eu tinha. E isso foi agoniante. Eu só tiro meu relógio pra tomar banho, e olhe lá. Vivo em função dos minutos, e sem eles, sinto-me completamente perdida.

E lá na cadeira, vestida num saco verde, sem relógio, prestes a encarar a vida em um tubo, enquanto luzes vermelhas indicando radiotividade piscavam na porta ao lado, eu poderia estar filosofando sobre a aventura que é a vida. Mas é claro que meu cérebro estava ocupado demais em reclamar para divagar sobre tudo isso. I REGRET NOTHING.

Já estava prestes a virar uma autisa e bater minha cabeça na parede quando ouvi alguém chamar o meu nome. Uma mulher de bata rosa claro, cabelos presos e cara de quem não aguentava mais ver pessoas de verde naquele dia.

Entrei na sala de exame e vi. O tubo. Lá estava ele, me desafiando. Deitei na maca na frente dele, e a mulher começou a me amarrar (literalmente) na cama. Disse que eu não podia me mexer, nem ao menos mexer a cabeça, muito menos falar. Disse que o exame iria durar meia hora, e me deu um botão para apertar caso eu começasse a infartar lá dentro. Disse também que se isso acontecesse, eu só podia arrastar meu dedinho até o botão e pressioná-lo. Disse que no final do exame, ela iria colocar três seringas na minha boca e...

-O QUÊÊ? - gritei, enquanto bolava um plano de fuga. Bolas, estava amarrada, e minha cabeça, presa. - Tem agulhas envolvidas no meio?

A mulher não deu ouvidos para o meu pânico, e explicou que iria colocar seringas de tamanhos diferentes na minha boca para avaliar a mordida e...

-Você pode dizer que vai colocar tubinhos? Eu me sinto melhor se você falar tubinhos.

... e que eu não podia mexer a boca, nem ao menos engolir saliva. Eram três tubinhos, um maior que o outro, como ela fez questão de me mostrar antes de me esconder no tubo, deixando-me mais desesperada que nunca.

De repente, eu estava no tubo. O tubo-mór. A mulher deve ter empurrado minha maca pra lá. Era claustrofóbico, mal iluminado, frio e assustador. Qualquer contato com o mundo exterior foi perdido.


E os barulhos começaram. Parecia que tinha uma banda de rock pesado tocando lá. Os barulhos eram constantes, periódicos, e logo começaram a formar padrões na minha cabeça. Uns pareciam exclamar "VERLMELHO! VERMELHO!", e outros "ME ERRA! ME ERRA!".

E tudo ficava cada vez mais escuro, e de repente, eu estava saltitando em um campo florido e... EI! NÃO POSSO DORMIR! Tentei me manter acordada, mas não sabia o que fazer para isso. Tudo dava sono lá, e era melhor passar por aquilo dormindo.

Pensei que estavam me empurrando mais pra dentro do tubo, mas na verdade, era só a minha perna dando uns espasmos muito doidos. Lembrei das palavras da mulher. Não se mexa.

Ok, ok. Tentei contar os segundos, mas desisti depois do 78. Não fazia ideia de quantos minutos estava lá. Podiam ter sido 20, ou 5. Nunca iria saber.

Perguntei-me se realmente existia vida lá fora, ou se tudo tinha sido apenas um sonho louco, e que a minha vida estava no tubo. Eu era uma sardinha. Nadando nos mares da minha mente.

Ou então eu estava apenas drogada. Tanto faz.
E então, eu ouvi uma voz.

Deus. Então Ele existe mesmo, e veio me buscar, como pude negar por toda a minha vida e...

-Seu exame acabou. Abra a boca para eu colocar a primeira seringa. - disse a mulher atrás de mim, eu nem sabia que a porcaria do tubo era aberto. Porque a minha cabeça estava dentro dele e...

De repente, eu estava com uma seringa na boca.

-VAI, JOSÉ! - ouvi a moça gritar, e os barulhos recomeçaram.
Senti-me como um cachorro com seu osso, mas aí pensei que ossos deviam ter um gosto muito melhor que aquele. Parecia perfume barato com esmalte. E isso não é bom, na sua boca.

Eu queria regurgitar, babar, derrubar tudo. Mas aí lembrei a mulher disse que eu só podeira sair quando o exame estivesse completo, e segurei toda a minha raiva.

Os barulhos pararam. Próxima seringa. E de novo. Última seringa. E de novo.

-Espera aí, vou ver como ficou.
Mais longos minutos de espera...

-Tremeu. Vamos fazer de novo.

Eu respirei fundo, contei de 1 a 10, e deixei a mulher colocar o tubinho de novo. O último era o maior, e doía muito, mas quem se importa? Ela? Não.

Senti que tinha tremido mais que da primeira vez, mas não disse nada. E quando ela disse que estava tudo bem, e que eu podia ia, quase sorri.

Não, eu não sou uma pessoa que não sorri, mas é que eu não sabia se já podia me mexer.
Esperei sair do tubo para isso.

A mulher me desamarrou, e eu me senti como uma mãe prestes a dar a luz. Na maca, com médicos, de bata, sabia que algo novo iria começar...

Eu iria dar a luz a mim mesma, nascer de novo. Sair do tubo e encarar a realidade.

E eu estava livre. Cambaleei para fora da maca, e andei meio grogue até meus óculos. Tentei estabilizar meus pés. A luz ainda era fraca, mas eu ia com toda a força de vontade. Senti o chão frio. Estendi meu braço. Abri a porta. Fechei os olhos.

E vi que tudo continuava a mesma coisa.
Bah.


domingo, 8 de maio de 2011

Pensamento do dia

Talvez meu futuro esteja mesmo lá fora, e não aqui. E tudo vai começar a dar certo quando eu finalmente chegar lá.

Mas, enquanto isso...



quarta-feira, 4 de maio de 2011

A nossa história de Harry Potter

Andando a passadas largas pelo shopping, tudo parece normal. O mundo aparentemente não mudou, mas você sabe melhor que isso. O seu mundo mudou, nos últimos anos. E agora, estava prestes a acabar.

Não sabendo para onde ir, segue automaticamente para a livraria. Seus pés gostam de lá. Mas seus olhos, ah, seus olhos ficam fascinados. Após o deslumbre habitual, outra atitude mais habitual ainda. Onde estão os livros? Será que, assim como na livraria da esquina, eles estavam em uma estante especial? Eles precisam ficar em uma estante especial, pensa.

Mas esta não era a familiar e acolhedora livraria da esquina. Esta era a loja de livros do shopping mais visitado da cidade, e espaço perdido com ostentametos não era um luxo que eles poderiam se dar. Mas nem agora? Agora, no fim? Pense nisso como um agradecimento por tudo que essa saga fez pela literatura. Saga. Palavra engraçada para descrever. Talvez ela já tenha atingido o posto de lenda. Talvez você, livraria, só continue firme e forte por causa dela. Bufa irritada.

Um canto inteiro reservado aos tão famosos livros de capa preta com maçãs. Só podem estar de brincadeira. Lembra-se de quando já deu um voto de confiança para esta história e se decepcionou. Logicamente.

Tudo parece de segunda mão uma vez que você tenha lido Harry Potter.
Todo autor é apenas um amador comparado a J.K. Rowling.
Toda história parece risória, toda piada parece tosca...

O que está acontecendo?

Você, assim como eu, está sofrendo de depressão pós-Harry Potter.
Se passa?
Passa.

Quando?
Eu não sei.

Segue para aquela seção tão conhecida, e custa para encontrar um livro. Lembra-se de como eles estavam em abundância anos atrás. Parece que agora é só lenda mesmo. Vê, solitário, no meio de tantos outros livros estranhos, o volume pequeno de capa colorida, onde um pequeno bruxinho de cicatriz na testa sentava em uma vassoura, com um castelo ao fundo.

Ah, se você soubesse...

Você o retira de lá com um carinho inexplicável. Parece estar dando alô a um velho amigo. Folheia-o tentando lembrar de como foi a primeira vez. Sorri porque você lembra. E por isso está ali agora, naquele momento.

Coloca na primeira página, e começa a ler.

"O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, nº 4, se orgulhavam de dizer que era perfeitamente normais, muito bem, obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque eles simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem."

Um sentimento nada estranho ou misterioso se apodera de você.
Sabe que está em casa.

Balança a cabeça negativamente ao pensar que já teve a ousadia de não gostar de Harry Potter. Mas isso foi antes de desenvolver a teoria de que ninguém não gosta de Harry Potter... as pessoas simplesmente desconhecem Harry Potter.

Pois uma vez que se conhece, não dá pra não gostar.

Não dá para não se apaixonar por aquela escola, seus estudantes, professores, criaturas mágicas. Não dá para não esperar sua carta, não dá para não desejar fazer mágica, não dá para esquecer a história do menino que desesperadamente procurava seu lugar em um mundo mágico. Não dá.

Não dá para não se envolver. Às vezes, precisa se beliscar para lembrar que aquilo é só um livro, e não existe Umbridge alguma. Às vezes, precisa se beliscar para lembrar que aquilo é só um livro, e Voldemort não pode nos machucar aqui fora.

Belisca-se porque não pode salvar Harry todas as vezes, embora esteja com ele ao tempo todo. Ah, você e eu estivemos com Harry até o final. The very end.

Lembra-se dos tempos de ouro quando os sites lotavam de discussões inflamadas sobre o final da série. Seria Snape bom ou mal? Harry sobreviveria? Dumbledore estava mesmo morto?

Sorri porque lembra de novo que não fez parte dessas discussões. Mas é como se tivesse. Amaldiçoa-se por ter começado a ler tão tarde.

Mas você leu.

Embora não ativamente, lembra-se de gostar de Harry Potter na infância. De quando sua tia a levou para o cinema chamando-a de "Hermionezinha", e você não fazia ideia do que aquilo significava.

Lembra-se de quando a mesma tia deu-lhe A Pedra Filosofal e simplesmente disse "Leia". Quem é você para negar algo pedido assim com tanto carinho?

Lembra-se de quando tudo se tornou um borrão. E você não conseguia mais imaginar de como era a sua vida antes de Harry Potter.

Parentes chatos nunca vão entender. É moda, é chato, é mentiroso demais, é tudo muito escuro. É tudo um golpe de marketing. É plágio, é puro capitalismo, é só coisa feia. Ah, é coisa do Satã.

Você certamente lidou com pelo menos um assim.
Porque, ora, cada um enxerga o que quer ver.
Posso muito bem dizer que Harry Potter é uma analogia à Grande Depressão se eu quiser.

Cruza os braços impaciente. Lembra-se de quando, não faz muitas horas, aquele alguém sem coração/infância zombou de você por causa da sua roupa. Não via nada demais. Não vida nada que não deveria estar lá. Mas deixa isso para outro momento.

Você olha para o relógio. Céus, havia perdido a hora. A livraria estava fechando, e quem estivesse observando muito atento no andar de cima poderia ter notado uma garota muito estranha de capa esvoaçante e negra sair correndo para fora da loja com uma vareta na mão e uma coruja branca na outra. Se viu, deve ter piscado várias vezes tentando se convencer que não havia visto nada. Nada fora do normal.

Assim como o Sr. e a Sra. Dursley fariam. E você sorriu melancolicamente com isso, enquanto seguia rapidamente o seu caminho para o cinema, para o fim do que seria uma das melhores fases da sua vida.


Mas, como Sirius brilhantemente disse uma vez, você se lembra... "Aquele que amamos nunca nos deixam completamente".

Harry Potter nunca irá nos deixar.
Pois todos fomos marcados. Não uma marca exterior que todos podem ver, como uma cicatriz. Mas uma marca em ouro cravada no interior da gente, e não importa se crescemos, mudamos, seguimos em frente. Ela sempre estará lá. Pergunte ao Dumbledore e ele certamente lhe responderá o que é.

E quando as luzes acenderem, as portas se abrirem e chegar a hora de ir para casa, simplesmente olhe para o seu amigo igualmente emocionado ao seu lado, e responda:

-I'm not going home. Not really.

terça-feira, 3 de maio de 2011

As perguntas da humanidade

-Mãe, por que o céu é azul?

-Por que somos assim, e não assado?

-Para onde vamos, e por que ainda não estamos lá?

-Querido ídolo, o que eu posso fazer pra você saber que eu existo?

-Senhor Espelho, custa mentir pelo menos uma vez nessa sua vida de reflexão?

-Onde vamos almoçar hoje?