segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Alô, alô, marciano.

Minha fascinação por feriados tem uma dimensão mórbida e obscura que eu nunca realmente tentei entender, mas olhando para trás, fica cada vez mais óbvio que ela sempre esteve lá, cutucando com uma vara curta em um espaço igualmente pequeno que é a (minha) cabeça. Mas a verdade é: o nível de propensão para catástrofes aumenta pra caramba nesses dias. Imagine eu, no auge dos meus 8 anos de idade, aflita porque se aliens finalmente invadirem a Terra, a semana Natal/Ano Novo é o momento ideal para um ataque bem sucedido.

E se um levante rebelde de intenções suspeitosamente agressivas contra a testagem de cosméticos em poodles acontecer às 3 da madrugada, sei lá, no meio da minha rua? Ou se simplesmente a tia da minha vizinha tiver um infarto no meio do show do Roberto Carlos e não houver tempo de comover a família para levar a velha pro hospital... e se houver... cadê o médico quando eles chegarem lá? Cadê recepcionista. Cadê todo mundo. A cidade fantasma, todos recolhidos. Todos distraídos. Ninguém a vista. Ninguém. Ninguém. O mundo em silêncio. Pode gritar (não vão te ouvir). Pode correr. Não virão te socorrer. Ninguém. Ninguém. Só. Você está só.

Sei lá.

Por algum motivo eu sempre tive muito medo dessas coisas, desses desastres e tragédias que sempre estão a uma possibilidade ou duas de distância, tão perto mas tão longe, tão aleatórios, tão fáceis de imaginar, e se Freud por acaso explica, não precisa me contar, não.

É sempre bom estar preparada caso o apocalipse zumbi irrompa na noite de Natal. Ou na véspera de ano novo - esse é outro dia nojento. Dia 31 de dezembro.

Você passa o dia todo pensando o quanto o próximo ano vai ser legal, diferente, cheio de aventuras e novidades, tão nada a ver com esse ano que passou, Jesus, o que foi isso, ainda bem que acabou, mas não, pera, eu ainda tenho que fazer uma coisa esse ano, socorro, socorro, eu não posso terminar o ano sem fazer essa coisa, cadê a coisa, cadê a outra coisa que vai me ajudar a realizar/escrever/assistir/ouvir essa coisa, afinal, por que é tão importante que eu escute essa música antes da meia noite?, o que import... não, não, não é a hora de ser cético, é hora de acreditar, isso vai me ajudar, eu já sinto as vibrações transformadoras da positividade, esse ano vai ser meu ano, vamos lá, vamos lá, em três segundos é pra pular a ondinha, é dois, é um e...

Fogos.

Não de artifício.
Incêndio mesmo.
O mar está pegando fogo.
O dia do juízo final chegou.
Corram.
Corram.
Abandonem os mais fracos e VÃO.
Não olhem para trás. Vão.
E o ano começou.

*

Em outra nota, gostaria de depositar aqui meus pensamentos, sentimentos, divagações e reclamações a respeito do ano que se passou, porque mais uma vez, essa é a minha última chance de fazer isso. Nunca mais o ano de 2013 vai se repetir. O ano de 2013 foi único na história. Nunca mais veremos o ano de 2013 passar novamente. E isso me deixa... tremendamente aliviada.

Que ano estranho, pelo amor. E já acabou? Foi... rápido, até? Não só pra mim? O que está acontecendo? Efeito colateral do mundo ter acabado em 2012 e todos continuarem agindo como se ele ainda existisse? Eu ainda existo? Alô? Alô? Alguém ouvindo?

Calma, sua perturbada. Ignorem tudo de estranho a respeito deste post, ignorem esse post, por via das dúvidas, é o estresse falando. O ano de 2013 foi estressante.

Para aqueles que acham que eu sumi porque eu "arranjei uma vida", HAHAHAAHAHAHA, estão muito enganados. Fiz tantas promessas esse ano, tive tantos projetos...

Dos 82 livros? Li impressionantes 53.

Eu sei que continua sendo muito mais do que esperado de uma pessoa normal, eu sei disso. Mas não posso me deixar de me sentir levemente um fracasso decepcionada por ter falhado em cumprir minha mais importante meta (que deixou de ser a mais importante ao passar do ano, mas mesmo assim, era importante pra mim, sabe?) e ver então naquela lista a personificação da minha falta de esforço.

De estranho a melancólico em três parágrafos, agora posso afirmar que este é de fato um post temperamental e com sérios distúrbios de personalidade. Tudo bem se você parar de ler agora. Eu não o culpo. Ninguém está prendendo você aqui. Pode voltar pro Twitter.

Porque agora o post vai virar oficialmente um desabafo.

Sabe, às vezes eu fico com falta de fôlego e vergonhosamente tonta ao pensar o quanto uma escolha, por mais trivial que pareça, pode moldar o resto da sua vida a partir daquele momento sem você notar. E quando você vê, já era. Não tem como voltar atrás.

Eu não sei exatamente por que eu disse isso, só que eu precisava dizer. Parecia importante quando eu pensei, então eu escrevi.

Outra coisa que eu pensei enquanto escrevia aquilo foi o quanto nós somos inadequados para avaliar nossas próprias conquistas, já que sempre estamos dispostos a diminuir e menosprezar o nosso próprio esforço e trabalho, especialmente aqui na perigosa área criativa da força.

Já isso eu sei exatamente por que estou comentando, mas não sei se quero escrever a respeito. Não, quero sim.

Não gosto de ser obviamente negativa nos meus textos porque sempre acho que aqui é o lugar de ser animada a respeito de Coisas e oferecer soluções, saídas, respostas, oferecer humor espontâneo causado pelo uso de uma linguagem apressada, confusa (e sincera) que eu sinto que as pessoas podem se identificar e também porque meu processo de pensamento realmente é assim. Por outro lado, não gosto de falar sobre isso porque parece falso e pretensioso, então estou pensando em riscar este parágrafo. Agora é a frustração falando.

Claramente, não risquei. Então assumam que o desespero foi maior e que eu precisava desabafar isso também. Às vezes você só precisa escrever o que você está sentindo, não onde você deseja chegar com isso e como melhorar. Não sei qual das duas opções é a melhor terapia, mas hoje é 23 de dezembro e eu resolvi arriscar.

Do que eu tava falando? Ah, sobre o poderoso efeito da autodepreciação. Eu definitivamente estou mentindo ou exagerando quando eu digo que não "arranjei uma vida" esse ano, nunca confiem no que eu digo, eu não sou confiável. Eu fiz muita coisa, sim.

Caramba, eu fiz intercâmbio. Foi esse ano? Foi esse ano. Eu escrevi uma peça. Eu encontrei um novo hobby e uma nova paixão e passei a dedicar muito do meu tempo livre desenvolvendo uma maneira diferente de me relacionar com a poesia. Eu me conectei, estreitei laços, encontrei amigos de fé, meus irmãos, camaradas. Eu tomei decisões. Muitas decisões. Eu inclusive deixei meu cabelo crescer.

Não, não, nem tudo foi ruim. Estou sorrindo agora. Nem tudo foi tão ruim assim.

O que eu preciso mesmo - caso você esteja interessado em saber - é foco, mas eu sempre precisei disso, de qualquer forma. Só que em 2014 é sério, sabe? Eu preciso de foco. Eu preciso conseguir. O quê? Sei lá. Muitas coisas.

Muitas, muitas coisas.

Eu ainda tenho muito sobre o que escrever, mas acho que vou parar agora. Alguém disse que "a escrita é um processo consciente" e eu estou começando a me sentir meio à deriva. Melhor parar. Eu tinha certeza que esse post ia a algum lugar quando eu comecei, mas agora acho melhor que ele não saia mais daqui. Desculpa se você acompanhou até o final. Pelo menos você fez alguma coisa e não ficou só aí, né, paradão. Ah, a vida às vezes é assim mesmo.

Não esperem muito mais coerência quando eu voltar. (antes de 2013 acabar, porque eu preciso escrever a coisa, é importante que eu escreva a coisa, cadê a coisa que vai me ajudar a escrever sobre a coisa..........)


quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vamos ler um livro?


Eu leio para ser convencida. Seja qual for o assunto, se convenceu, então valeu a pena. Com vinte e três livros na bagagem esse ano (da meta burlesca de oitenta e dois), eu posso afirmar que já li um pouco de tudo. Autores importantes, autores que se acham importantes, autores que ninguém sabe que são importantes, todos com mentes brilhantes das quais eu adoraria mergulhar dentro, nadar e fazer bananeiras por alguns minutos.

Ler é tão difícil, só consegue ser menos difícil do que escrever. Mas "todo mundo lê", você diz. Sim, assim com todo mundo é capaz de escrever. Mas quantos de nós somos realmente capazes de escrever a Ilíada do século XXI?

Ler é tudo, menos uma ação passiva. Tem que ser invariavelmente consciente para poder acontecer de verdade. Um desvio de atenção e, puf, você está pensando em fazendas e como deve ser complicado convencer uma vaca a ser ordenhada. E "passar o olho" não é ler. É uma autoilusão, se é que existe o termo.   Você está se enganando e está enganando o livro que está lendo, porque, sim, eles têm sentimentos e são temperamentais. Se você não se considera tendo um affair com seu livro, então está perdendo uma experiência única de compreensão e amor recíproco que nenhum humano pode oferecer. Ignorem esse último comentário, já que ninguém quer ser doido. (mas é tão bom)

Além do mais, ler é reter. É prestar atenção e memorizar. É entender intimamente o que está acontecendo e todos os seus motivos subliminares, é prever o que ainda vem, é fazer teorias e ser surpreendido.

E é por isso que eu digo que ler requer muito mais do que sentar e colocar os olhos no papel. É tão trabalhoso, ainda mais quando se tem uma meta estabelecida, que ao mesmo tempo que te incentiva a continuar, também estressa e te faz querer subir paredes de vez em quando. Exemplos: "Asdfghjklç eu preciso ler mais 50 páginas hoje..." e "Como assim ainda não passei do vigésimo??" e "Eu acho que preciso estudar...".

E para coroar, ler ajuda e me atrapalha a escrever. Ajuda porque, hey, vocabulário, teses, opiniões, nomes de personagens, e atrapalha porque... tempo. E o tempo, cadê? Como saber no que preciso focar? Como saber a hora de parar, de dar uma folga, de dar um rolê na praia? Como saber quando preciso parar de ler e colocar a cabeça para funcionar com outras coisas?

Como eu disse, ler é difícil, mas escrever é mais. Portanto, é muito mais fácil ficar lendo "a de eterno" o que outros tiveram muita dor de cabeça para desenvolver do que criar vergonha na cara e criar o seu próprio material, com sua própria dor de cabeça, para os outros lerem.

Meu problema recorrente é esse. Pulo de uma tela para outra, lendo inúmeros livros ao mesmo tempo, que inconscientemente passo a lhes referir por "o do celular", "o do notebook", "o de papel", "o que eu estou fazendo". Meus olhos não tem descanso, a mente não para de girar, e eu nunca acho que é suficiente.

Por isso é agora que resolvi exclamar da melhor maneira que sei (escrevendo): tá bom disso.
(eu escreveria algo como "basta", ou "chega", ou "não mais", só que "tá bom disso" traduziu melhor a situação, então foi esse que ficou.)

E como vocês sabem, eu adoro tabelas, pautas, listas, comentários, eu morro de felicidade toda vez que alguém me manda organizar os meus estudos/observações, esse "alguém" sendo meu cérebro em todas as vezes, mas é que é divertido. É que quando eu leio, me convenço.

Parece motivo suficiente para continuar.

COMO LER (CORRETAMENTE)

Requisição inicial: Saiba pronunciar todas as vogais e consoantes do alfabeto de escolha (destaque para o português). Saiba o que pelo menos 85% das palavras escritas signifiquem na língua de escolha. 
Recomendação: prática. 
Exemplos: própria leitura, filmes, música, falando, escrevendo. 
Isso concluído, podemos prosseguir.

1. Após decidir qual livro ler, relembre-se por que você está lendo esse livro em particular e o que você espera dele. É por que você sempre quis conhecer a história sem cortes e sem censura e sem interferências hollywoodianas do famoso Harry Potter? É por que você quer conhecer as melhores táticas para manter o domínio de um território já conquistado através da guerra? É por que seu namorado pode estar lhe traindo e você quer saber se  Freud explica ("e pelo amor de Deus, quais são os sinais?!").

Ter seu objetivo em mente incentiva seu cérebro a lhe incentivar. Abra a primeira página e assista sua atenção, seu interesse, sua concentração, tudo aumentar. Isso ajuda você, no final das contas, a ter uma uma leitura mais contínua, e consequentemente, a ler mais páginas por dia.

2. Onde você está lendo? Na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê? Não importa. Se você se distrai com barulho, corte o barulho. Se você gosta do som da chuva porque acalma, tá aqui o som da chuva pra te deixar feliz. Se você só consegue ler sentado, limpe sua mesa, puxe uma cadeira e relaxe.

Não se force. Se estiver desconfortável, pare. Ler já é estressante por si só, mas você pode também tentar se fazer o mais relaxado possível para fingir ter melhores resultados. Brincadeira, claro que funciona.

Talvez, se um dia você chegar no nível hardcore badass little rebel da leitura, você se atreva a ler no meio do trânsito enquanto seu pai buzina ou no meio da aula de Educação Física, correndo. Mas enquanto isso, contente-se em tirar os sapatos e simplesmente apreciar o papel/superfície tátil do seu tablet e as coisinhas que dele provém, parado.

3. O livro que prometia tanto ficou chato? Mas o problema é ele ou é você? O que exatamente está incomodando? É o ritmo da história, é o personagem principal que não é carismático, é o romance xumbrega, é que ele é longo demais, é que perdeu o foco, ou pior, o interesse? Aprenda a ser crítico.

Dê uma segunda chance se achar necessário (por favor dê uma segunda chance, pense melhor, ele não fez por querer, seja misericordioso, ler é sempre bom), ou entenda por que decidiu parar e faça o possível para não se encontrar na mesma situação tão cedo. Como? Foi o romance água com açúcar que se provou não ser do seu estilo? Evite o gênero, então, ora bolas.

4. Eu já mencionei o quanto é importante terminar tudo que você lê? Dá pra fazer uma analogia muito semelhante com a escrita: o que lhe separa de um autor profissional, ó pobre e desolado escritor amador? Um autor profissional termina tudo que escreve, e não joga seu trabalho de lado nas primeiras dificuldades. Ele persiste, ele sofre, mas ele consegue.

5. Para isso, é claro, você precisa tomar seu tempo. Tem gente que lê devagar, tem gente que lê na velocidade da luz, tem gente que depende da lua para decidir. Não se sinta pressionado (principalmente por si mesmo) para ler mais rápido. O que você precisa é entender a história e se conectar com os personagens. E o ritmo em que isso vai acontecer é você quem escolhe.

Eventualmente, o ato da leitura se tornará um "novo hábito de pensamento", e você conseguirá adaptar seu cérebro a funcionar de acordo com esse novo "hábito", assim como... pois é, todas as outras coisas. É que nem andar de bicicleta. Ou aprender um novo dialeto. A fluência... vem.

6. Pelas ceroulas de Merlin, leia.

7. Reflita sobre o que acabou de ler. Fixe os pontos principais da histórias, a citações que mais lhe marcaram, o que você deseja lembrar depois. Tem gente que diz que eu falo "um bando de coisa bonita". Mal sabem eles que todos esses "insights" foram provavelmente retirados de algum lugar... 

Procure saber se há algum filme a respeito/baseado na obra. Mande um amigo seu ler também. Monte um clube do livro, sei lá, e fale sobre ele

Muitas vezes eu me encontro (preste atenção na escolha de palavra) no meu quarto abanando os braços de um lado para o outro, fervorosamente recitando alguma coisa que em algum momento não muito distante  do agora marcou a minha vida para sempre (ou até eu achar outra citação melhor, que geralmente é incorporada à primeira, mesmo se forem opostas, e assim por diante, até eu ter um discurso ou uma opinião verdadeiramente consolidada sobre algo). Não precisa tentar isso, é coisa de doido. Mas os princípios são, afinal, válidos.

8. Lembre-se: do que os humanos precisam? Humanos precisam respirar. Dê um pause, vá comer o seu jantar, o Harry não vai fugir. Ele vai continuar lá, dentro do seu livro, esperando fielmente você voltar para continuar descobrindo suas histórias, rindo e se emocionando e ficando com raiva dele.

Ler é mágica pura.
E a sua varinha de condão é a sua força de vontade.
(parei.)

Próximo post: o que eu estou lendo, mais sobre o projeto dos 82 livros. Aliás, alguém me lembre de fazer isso, eu provavelmente vou esquecer de bloggar.

Ê, laiá, minha memória.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

-

We live for moments like this 
tiny, 
       little glimpses of time 
in which everything is possible and existence suddenly makes sense. 

We like to make connections,
to associate,
to find meaning where there is none,
and that is -
let me tell you that -
just amazing.

(also, it is very dangerous you know to overthink to overestimate fantasies to live in an imaginary world that'll always rotate and fix itself to serve our own purposes and so forgetting what's really out there you know that kind of stuff you need to understand the difference what senses can you really trust and the only way to do this is by getting it wrong loads and loads of times and that's awful I know but it's oh so true) but who cares

I'm a storyteller.
It's who I am, it's what I do.
Stories are in the very core of everything I love and believe.
It is the only way I know to make myself know and heard, to understand and to be.
I need stories just as much as I need pizza, oxygen, ponytails, popcorn, neurons, my feet and arms.

Sometimes
                   I do wonder
                                        Though
                                                      That if it feels real
                                                                                  Then it must very well
                                                                                                                      Be real to me.



i  tell the stories  that i believe in
i remember them, i create them, i  improve them
i  am mesmerized by them


we feel it in books
we feel it in tv
we feel it in movies
we want to feel it too

so we live it
the way that we can.
and if it doesn't fit,
we make it fit,
we tell it around,
we flower it a bit

and life goes on



sexta-feira, 29 de março de 2013

Sobre ser produtiva,


há pouco o que se comentar. Ser produtivo significa tanta coisa diferente dependendo do que você gosta de fazer. Eu, por exemplo, gosto de escrever. Mas já faz séculos que eu não passo por aqui. Ser produtivo de vez em quando é meio contraditório.

Deixa eu contar o que ando fazendo, então. Pra começar, tem o colégio. Minha ficha diz que eu estou no segundo ano do Ensino Médio, mas eu não tenho certeza. Alguém fumou uma dorga muito pesada lá na Coordenação e de repente - PUF -  estou estudando o segundo e terceiro ano juntos, mas sentindo que não estou aprendendo nenhum do dois. Mas quem liga pra escola, anyways.

Porque essa não é a parte produtiva. Tenho uma meta esse ano e tenho quase absoluta certeza [?] de que irei batê-la. É uma meta bem simples e que consiste em ler um mínimo de 82 livros até o final do ano. Pra quê? Nem eu sei bem. Talvez pra mostrar pra mim mesma que eu consigo, talvez porque eu venha andando muito entediada.

Outra coisa: depois de muitas pressões externas, comecei a assistir Supernatural. São 8 temporadas que vão me manter ocupada por um tempinho. E assim eu vou empurrando minha carroça...

Lenta porém diligente, sem colocar a tal carroça na frente dos bois...

Ah, e sem nunca pensar que eu estou fazendo muita coisa. Afinal, quem precisa estudar mesmo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

E se for pra falar a verdade,

deixa comigo. Existem muitos blogs de intercâmbio por aí, alguns muito bons, alguns que eu li antes do meu próprio intercâmbio, mas sempre tem uma coisa que todos eles deixam de fora e eu não entendo o motivo. Eu realmente não entendo, já que eu considero ser o elemento mais importante e o que mais te acompanha na sua jornada. Como você se sente.

Como vocês devem ter lido no post passado, eu estou delirando. Mas é delirando que você tem umas ideias geniais, é delirando que você está mais sincero.


Se eu tivesse que traduzir o sentimento geral do intercâmbio, escolheria sem maiores dúvidas a expressão "Ai, meu Deus!". Cobre tudo, todas as áreas. O intercâmbio é realmente um AI MEU DEUS do início até o fim.

Primeiro porque, além de tudo, você está apavorado. Existe um sentimento de pavor e euforia que se apodera de você nos instantes pré-iniciais, em que basicamente o que acontece é que você se sente burro, incapaz e deslocado. Você não entende muito bem por que está fazendo isso, o que é facilmente um dos piores sentimentos do mundo. Você se duvida como pessoa, você duvida seu inglês, seu português e a sua matemática.

Isso sozinho já é muito ruim. A parte pior mesmo é que não tem como fugir. Você vai sentir isso tudo, não importa se você é o orador do colégio ou o chatinho que não fala do fundo. Só deixando isso bem claro. Você vai passar por isso.

Depois, já no seu destino, você vai sentir angústia. Você vai viver angustiado, e esta é a parte que eu não sei explicar direito. É uma espécie de melancolia, em que você não está muito feliz, mas também não está lá   muito entusiasmado pra voltar. Você provavelmente vai passar 2 dias trancado no quarto sem falar com ninguém. Você vai sentir que não vai fazer amigos, vai sentir falta de alguma coisa importante pra você. E vai ser insuportável.


Puxa, você deve estar pensando. Tudo isso parece terrível. Por que devo fazer intercâmbio, então, se é assim que vou me sentir? Porque, meu amigo, intercalado disso tudo, vem um sentimento muito bom, que é o de orgulho. Toda vez que você ultrapassar um obstáculo, você vai se sentir que nem o Obama, chefe de Estado. É uma emoção feito ópio, você não consegue parar de ir atrás dela. E também está lá, sempre presente, por trás da angústia. Às vezes até passa por cima da angústia e deixa você se divertir. De vez em quando isso acontece.

Passando desse martírio, você vai começar a genuinamente se divertir. A duração dessa fase depende de quanto tempo você vai passar lá, mas no geral começa, sei lá, 1/3 (de tempo) depois de você ter chegado. Você vai estar estabilizado e ter uma rotina. Você vai se sentir relativamente seguro e confortável. É quando as coisas começam a sorrir para o seu lado. Seu inglês vai começar a se soltar e você vai se sentir o Obama em tempo quase integral. Parece bom, né? E é.

Mas então, vai acontecer alguma coisa. Tá me ouvindo? Vai acontecer uma coisa, alguma coisa, não importa a coisa, e essa coisa vai te deixar meio abalado. É assim com todo mundo. Essa coisa pode acontecer até mesmo dentro de você. Uma mudança de pensamento, uma leve depressão, varia conforme a pessoa. Mas é inevitável.

Provavelmente nesse momento o lugar que você está vivendo se tornará para você o lugar que você vive. A magia vai se perder e você não vai mais se admirar com qualquer coisa pela rua. É a evolução natural das coisas, é até uma coisa boa. Eu passava pelo Big Ben e não sentia uma compulsão absurda de tirar fotos, muitas fotos, várias fotos. Eu não tirava fotos. Eu morava em Londres, eu não tirava fotos do Big Ben. Era besteira tirar fotos do Big Ben. Só turistas tiram fotos do Big Ben. Eu não sou turista, pois moro em Londres. Londres é o lugar que eu moro. É mais ou menos assim que acontece na sua cabeça.

O que está faltando? Ah, sim. Você vai voltar a se sentir feliz. Estonteantemente feliz, indubitavelmente feliz. Perto de você voltar, digo. Se precisar chutar um momento exato, diria que faltando aproximadamente 2 semanas para você voltar. No meu caso foi menos, mas geralmente as pessoas passam mais tempo no intercâmbio, então pode considerar seu último mês (vamos considerar um espectro maior) um mês muito feliz.

Seu inglês é perfeito, as pessoas são mais amigáveis, a cidade volta a ser linda. Você começa a atropelar tudo, porque percebe que vai voltar logo. Vai querer fazer tudo ao mesmo tempo. É hilário. Você não consegue mais imaginar a sua vida de volta ao seu país natal, pois você está morando naquele outro país. Você pertence também àquele lugar, ele passa a fazer parte de você. 


Sabe o que é chato? Ninguém de volta ao Brasil vai entender isso. É fato. Você está sozinho nessa. Na verdade, se eu tivesse que fazer uma definição de intercâmbio, seria: você está sozinho nessa. Você passa a valorizar mais a sua própria presença, a se valorizar mais como um todo, entender seus limites e desafiá-los sempre que possível. Intercâmbio é sobre você se tornando um super-você. Um você com todo seu potencial em jogo, um você pegando fogo, tinindo. Uma bomba de você. Nossa, como você vai se amar.

E como que tudo que é bom dura pouco, uma hora a sua bomba explode e você volta. É horrível dizer adeus a tudo que você conheceu adeus por lá, primeiramente porque você não vai conseguir se despedir de tudo ou todo mundo.

Querem uma metáfora boa para explicar essa sensação? Meu irmão sempre fica agoniado ao deixar um quarto de hotel. O subconsciente dele sabe que nunca mais vai voltar para aquele lugar. Mesmo que volte para aquele país, aquela cidade, aquele mesmo hotel, ele nunca voltará para aquele quarto, nunca mais será o mesmo. E se você parar para pensar, isso é uma coisa assustadora. É parecido até mesmo com a morte. 

Você morre ao final do seu intercâmbio. Esse super-você se desintegra, vira uma bola de fogo, e a única coisa que sobra é o núcleo ardendo em chamas, e é essa bolinha que você leva de volta para casa. Essa bolinha é você, seu novo você.

Não diria o que sobrou de você, mas o seu recomeço. Porque como uma fênix, eu, você, nós vamos nos reerguer das cinzas e varrer a bagunça e começar de novo. Nos readaptar. Aos poucos, nós vamos parar de dizer "excuse me" nas ruas, ou ficar parados no lado direito da escada rolante. E você pode achar que isso é uma regressão - eu ainda estou nessa fase - mas eu e você precisamos entender que a vida por aqui é diferente.


Agora, se essa vida é o que queremos para nós, isso a bolinha é quem vai decidir. A bolinha é quem sabe das coisas. Confie na sua bolinha. Ela já viu muita coisa. Na dúvida, escute a bolinha.

E lembre-se que só o tempo pode curar algumas coisas. Dê tempo ao tempo, não tome decisões precipitadas, não rejeite tudo o que vem de dentro e respeite seu país. Você não esqueceu de onde veio no seu intercâmbio, não vá esquecer agora que voltou.

Mantenha-se informado a respeito do que acontece no país que lhe adotou, não esqueça dos seus novos amigos. Se possível, escreva sobre isso. Conte histórias. As pessoas gostam de ouvir histórias sobre intercâmbio. 

E sabe por quê? Porque quando você as conta, elas podem ver nos seus olhos um vislumbre da sua bolinha de fogo, aquela pessoa que você se tornou - e todo mundo respeita e admira as bolas de fogo. Sua postura muda, você está mais eloquente. Você agora tem bagagem de mundo. E é assim que você se torna mais uma vez sua versão super, é assim que você não esquece seu super-você.

To the infinity and beyond.


Neste post você conheceu algumas das figuras que pintaram meu intercâmbio de Janeiro/2013. Alguns brasileiros, alguns alemães, alguns suecos, muitos argentinos, todos deixaram sua marca de alguma forma. Muito obrigada a todos vocês e até a próxima. Don't forget to stay awesome.

A metáfora do longo corredor do aeroporto de Lisboa

Ideias são movidas a cata-vento, eu não faço ideia por que escrevi essa frase, o motivo deve ter fugido. Fui atingida por uma gripe do demônio e fiquei delirando por uma semana, dois dias dos quais foram passados em um avião. Você pode imaginar no que deu. 

No meu último dia em Londres, fiquei estressada. Não muito mais do que o normal, eu sempre vivia estressada, mas esse foi realmente estressante, tão estressante que irei compartilhá-lo censuradamente. Não, só pensar nele já me deixa tensa, então acho que só farei uma nota sobre o dia.

02/02/2013 Londres
Congestionamento de 2 horas. Frio. Sol de lascar. Tosse e febre. Perda de passaporte. Náusea no almoço e incapacidade de entender português com sotaque. 

Não foi um dia muito bom. Além do mais, meu corpo rejeitava fisicamente a prospectiva do retorno e minha mente não ficava logo atrás. Eu estava uma pilha de nervos. Essa parte já deu para entender.

Ao chegar em Lisboa, ainda tive que encarar meu maior inimigo. Tal inimigo é nominado erroneamente, pois não o vejo como um vilão, e sim como representação da minha maturação como ser humano durante a viagem e todo o meu aprendizado. Eu ainda estou delirando, ignorem este parágrafo.

Estou falando do grande corredor do aeroporto de Lisboa, lembra dele?

Escrito em 07/01/2013 às 11:07
Não sabia se passava pela fila da imigração ou se seguia direto para a conexão. Eu disse meu destino e a moça respondeu “Sobe”. Subi. Dei de cara com o corredor mais longo e deserto da minha vida. Lá duvidei a existência do aeroporto, do fim do corredor e da minha própria existência.

Após exaustivos minutos de tensão e ansiedade, encontrei o detector de metais e nunca fiquei tão feliz na minha vida por ser revistada, porque lembrei que era isso que devia fazer mesmo.

O poder do grande corredor não deve ser subestimado. Ele realmente faz você pensar coisas. E lá estava eu de novo, eu e a minha febre, atravessando o corredor. Dessa vez foi mais rápido e acho que faltando 1/3 pro fim tive 1 pequeno ataque de gargalhada, mas isso não é relevante pro texto. Eu havia vencido o corredor. Eu havia conquistado o símbolo máximo da independência, eu passei com nota 10 nessa bagaça.

Um momento para o fim da salva de palmas. Podem parar, já chega. Eu consegui. Eu virei gente grande em 1 mês. Eu lidei com traficantes de drogas, eu morei em Londres sozinha, eu tive meu trem cancelado pela nevasca, eu fiz amigos de diversas nacionalidades, eu quase comi feijão doce, eu virei gente grande.


Eu voltei. Eu esqueci disso tudo? Retornar é uma nova imigração. Não posso deixar de pensar sobre Londres, não consigo desligar a minha cabeça, não quero perder nada que acontece por lá. Estou triste e cansada e exausta e deslocada. Sou uma estranha para a minha própria cidade. Ainda tenho muito chão pela frente e sei que apoio para o que quero fazer terei pouco. Preciso de foco, preciso me concentrar. Preciso continuar escrevendo.

Sinto, porém, que meu regresso virá mais breve do que espero. Em Londres me encontrei, agora falta encontrar os meios de explicar o que aconteceu. O que aconteceu? Convencer mãe, convencer a mim mesma de que isso é o certo, de que é isso que eu preciso. Preciso estudar, preciso me informar. Preciso continuar escrevendo.

Preciso parar de delirar e fazer alguma coisa, como fiz no último mês. Minha host mum mandou um email. Ela disse: "Well sometimes in life you have to work very hard to get what you want so that includes having no rest."

Verdade. Agora é hora de ação. Preciso clarear a cabeça e ver onde eu me encaixo nesta bagunça toda. Mas não estou sozinha.

"I'm sorry you had an awful experience with Daniela but I believe it made u a better person and I think you dealt with everything in a mature way despite your age. I believe you will do great things because you are wiser than you see." 

Tem gente acreditando em mim.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Vivendo em união


Você aí que está planejando fazer intercâmbio num futuro próximo: está na hora de se reavaliar. É claro que é importante ter noções básicas de higiene e economia, só que mais importante que isso é parar para pensar se você está pronto para viver com completos estranhos, que provavelmente nada terão em comum com você. E com isso vem, gradualmente, os problemas de convivência.

Todos somos diferentes e temos nossos próprios hábitos e gostos. Isso é normal. Mas também existe algo chamado bom senso, e que neste caso significa: fazer de tudo para não atrapalhar/invadir o espaço do outro.    É fácil, é simples, é automático no meu caso. Quero ver série? Coloco o fone. Quero ligar a TV? Pergunto primeiro. Coisas do tipo. Mas - e você pode até achar que não, mas acredite quando eu digo que - esse tipo de gente que aparentemente não sabe disso existe. E se você for um sortudo como eu, é esse o tipo que você vai encontrar.

Não vou entrar em detalhes sobre a minha roommate, porque não vale a pena e já cansei de me estressar com as peculiaridades da pessoa dela. Ao invés disso, deixarei a vocês a opção de deduzir o que ela tanto faz pra me irritar em forma de (adivinha) lista. Se vocês acompanham o blog há algum tempo, já devem saber que eu amo listas/tabelas/formas de organização de ideias.

Então, em primeira mão, para vocês, as básicas regras de convivência numa Host Family (da Inglaterra ao Taiti).

NO QUARTO
- Mantenha suas coisas no seu canto do quarto. Se sentir que já pode confiar na colega de quarto/família, sinta-se à vontade para deixar algumas sacolas perto da cama, mas nada muito além disso. Malas sempre fechadas e/ou trancadas.

-Faça sua cama logo após de acordar. Não se preocupe com a cama da sua colega (ou do colega), isso não é problema seu.

-Procure se vestir no banheiro e não ande só de meias por aí. E quando eu digo "só de meia"...

-Vai fazer barulho? Coloque os fones de ouvido. Se for Skype, pergunte antes, mas se puder, procure um canto afastado da casa para conversar. As pessoas de vez em quando querem dormir.

NO BANHEIRO
-Quando for tomar banho, leve suas coisas e coloque-as pelo banheiro. Porém, após terminar, leve tudo de volta para o quarto. Ninguém precisa ficar encarando seu xampu e creme para calos.

-Lembre-se que o banheiro provavelmente está sendo dividido por várias pessoas, especialmente em países europeus, onde não há... abundância deles nas residências (é sério).

-Não gaste muito tempo no chuveiro. Água é um bem precioso e não é você que está pagando.

NAS ÁREAS COMUNS DA CASA
-Logo quando chegar na Host Family, sua anfitriã irá avisar se você tem permissão para ficar passeando pela casa junto da família. Alguns são de boa e não veem problema, outros preferem que você fique no seu quarto fingindo que não existe. Dei sorte e fiquei numa família muito legal, então posso assistir TV na sala, por exemplo, mas isso não acontece em todos os casos. É bom ter isso em mente.

-De preferência, mantenha-se na maior parte do tempo no seu quarto mesmo. Você vai se sentir melhor por lá (a não ser, é claro, que tenha uma colega de quarto repugnante). Mas, no geral, não é muito bem visto ficar se intrometendo o tempo todo na rotina da família.

-Comeu? Bebeu? Usou? Lave. Simples assim.

-Muitas casas não oferecem serviço de lavandaria, e se oferecem, há um preço a pagar. Você será informado no dia da sua chegada, não se preocupe.

-Pergunte também sobre o wifi. Se não tiver, troque de casa (okay, brincadeira, mas não é legal ficar numa casa sem Internet).

 NO JARDIM
- ...Sério?

NO GERAL
-Só não destrua nada, não faça bagunça e não seja um mala que tudo vai dar certo (a não ser, é claro, que tenha um colega de quarto repugnante).

Mas existem coisas na vida que não dá pra evitar.

Só torça muito pra não se encarar com um problemas desses, e se não aguentar mais, informe seu colégio e eles providenciarão uma nova família na mesma semana.

Eu dando exemplo de boa convivência com meu amigo esquilo do Regent's Park

Não cometam meu mesmo erro e não esperem para falar (reclamar) no final da viagem. Engoli muito sapo nas últimas quatro semanas e não gostaria de ver alguém passando pelas mesmas dificuldades/inseguranças, se eu puder evitar.

Sei que a lista foi bem elementar/trivial, mas sinceramente, são essas as coisas que vão fazer a sua convivência um paraíso ou um inferno na Terra. É só seguir essas regras básicas que todo mundo fica feliz: você, seu colega de quarto, sua Host Mum, sua mãe de verdade, e o Papa.

E ninguém merece ter um intercâmbio ruim por causa de desentendimentos com estran(geir)hos.

Por hoje é isso, pessoal.

O que eu tenho vontade de fazer toda vez que minha roommate  me dá nos nervos.

domingo, 20 de janeiro de 2013

The meaning of Real


“What is REAL?" asked the Velveteen Rabbit one day... "Does it mean having things that buzz inside you and a stick-out handle?"
"Real isn't how you are made," said the Skin Horse. "It's a thing that happens to you. When [someone] loves you for a long, long time, not just to play with, but REALLY loves you, then you become Real."
"Does it hurt?" asked the Rabbit.
"Sometimes," said the Skin Horse, for he was always truthful. "When you are Real you don't mind being hurt."
"Does it happen all at once, like being wound up," he asked, "or bit by bit?"
"It doesn't happen all at once," said the Skin Horse. "You become. It takes a long time. That's why it doesn't often happen to people who break easily, or have sharp edges, or who have to be carefully kept. 
"Generally, by the time you are Real, most of your hair has been loved off, and your eyes drop out and you get loose in the joints and very shabby. But these things don't matter at all, because once you are Real you can't be ugly, except to people who don't understand... once you are Real you can't become unreal again. It lasts for always.” 
― Margery WilliamsThe Velveteen Rabbit or How Toys Become Real
Life is a progress of ever-changing points of views. You're there and back again, and it's never the same. I like to think of life as a train traveling always forward in time - sometimes delayed because of the snow -, but it doesn't really matter where you're heading as long as you enjoy the ride. And depending on where you're seated, the view might change. On the right there's a quiet river, on the left a little farm. Same train, same destination, tones of different perspectives, and that's what makes it so interesting. Walking along the train, you get to see all the diversity there is in the world.

I say this because I am literally doing it everyday. I get into a train and see life passing by while still living my own. Because the train is what makes people's lives connected - even if for the briefest second -, it is what makes our paths cross and it is what takes us where we need to go. There's no rush inside a train, since it doesn't matter what you do, it won't go faster because you're late. So, patiently, we wait.

And slowly, this becomes Real to me. My reality, my new reality, where there are trains and snow, life at its fullest, the marasmus of routine, people from all over the world and crowded staircases; where there isn't decent food and there's no time for truancy; where things simply cannot stop. That's my life now and I have no idea what to do of this.

It wasn't Real until very recently, because I still felt dazed by it.While I was awed, it was only a dream came true. It was beautiful and almost tangible, but not part of my real life. Something I could admire from afar, touch for a slight second and then let go feeling satisfied and complete. Just because I was there, just because I've seen it.

But seeing alone isn't enough. In order to board the train, you're going to need to buy a ticket, listen to its calling, sit down and use all of your senses, not only sight. And I want to be part of it, oh, all of it.

It was beautiful when it wasn't true, but once it was true, suddenly the beauty was gone. Because I did not understand, because it was too much, because I felt like I did not belong. I felt like I was dreaming too high, and that maybe - just maybe -, it would be for the best if I just stopped with this nonsense and came back home where life is simple and it is cosy and it is real. Is it?

I looked around again. I saw my favourite bulding under a completely different light. It wasn't shiny, but grey and sad. All the houses around it were brick and stone, and even the snow was brown. People were muttering under their breath and in the nearest coach, a little girl was crying out loud.

And this is when I felt it. This is when London became real. When the limiar between dream and reality was surpassed and I was left panting over the awakening. It was supposed to be something big. Finding a home always is. But then, it didn't feel like a big achievement nor a big change. It just felt right. Like I was supposed to there, and even if everything was not okay, still it was, because I knew where I was going and when I finally got there, I was going to have a hot shower and then go to bed.

It didn't matter if it was snowing and that the traffic was awful. Suddenly, I was just going back home after a particularly rough day. Like I used to do before all of this. Before London, before the awakening, before I was this brand new me, prepared to go anywhere, prepared to burn. Maybe not to burn, but definitely, prepared.

And then, London couldn't be ugly, life couldn't hurt anymore (although sometimes it still does). Because when you are Real, you can't be ugly, except for those who don't understand.

I understand and it is beautiful like that. I love it just like that. Grey and all of it.

Life is hard and the path is not always sunny. But as long as the train doesn't stop, it is worth it, oh, it is always worth it.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Tem que se adaptar


Não, não, não estou envolvida em nenhum acidente envolvendo um helicóptero e um guindaste. Londres tem mais de 8 milhões de habitantes, não sei por que tanta gente pensou que logo eu estivesse por lá, vê se pode. Talvez porque estivesse por lá, mesmo.

É sério, meu colégio fica a 10min do lugar que aconteceu o negócio... mas, enfim. O engraçado foi que por um segundo pensei que todo mundo tivesse ficado genuinamente preocupado com o meu bem estar ao mesmo tempo e de forma aleatória, só que depois de alguns "Tem fogo aí?" e "Evacuaram as ruas?" eu entendi que tinha alguma coisa errada na cidade.

Pensaram que foi ataque terroritsta, mas bah. No final, todo mundo tava fazendo piada, o que na verdade é péssimo, mas os britânicos não conseguem evitar. 

Agora, sim. Boa noite, pessoal. Hoje cheguei cedo em casa para descansar e atualizar as coisas por aqui no mundo online. Minha vida social em Londres é fraquíssima e ainda não tenho muitos coleguinhas. Minha casa fica num canto duvidoso na zona 6 da cidade, a 2h do colégio, e esta é a minha vida. É meio triste, meio melancólica, mas não sinto exatamente a urgência de voltar. Se muito, agora entendi a importância de coisas que não prestava atenção antes. Por exemplo, acho que nunca agradeci o suficiente meus pais/irmão pelos sacrifícios que eles fazem por mim. É sério. Aqui estou por conta própria, desde a hora que acordo até voltando para casa de trem, e não existe ninguém tomando conta de mim, o que pode ser assustador.

Dizia que não queria saber de brasileiros em Londres, e hoje me encontro procurando quase que desesperadamente alguém falando português pelas ruas. Perdi a inibição e não me importo mais em ser taxada de turista, muito menos em pedir informação na rua. Sob essas circunstâncias, é absolutamente necessário se ajustar, melhorar, evoluir. Se não, você não come. Você não volta pra casa. Você fica presa numa casa a 2h de distância da escola.  E isso é mau, muito mau.



Mas agora passemos para as boas notícias. Fui para Baker Street, mais precisamente, 221, letra B. O museu do Sherlock Holmes em Londres é uma coisa engraçada porque não é literalmente um museu. É basicamente um passeio pela casa do detetive, desde a sala até o banheiro, todos os cômodos cheios de artefatos retirados dos casos, anotações supostamente feitas pelo Sherlock e livros de medicina do Dr. Watson em cada instante. Na sala, você pode sentar nas famosas poltronas dos icônicos personagens da literatura inglesa. É emocionante, na verdade. Mais emocionante porque elas estão do lado de uma lareira e essa semana está nevando horrores, então dá até vontade de chorar de emoção. Detalhe interessante sobre a casa: só tem um quarto. Interpretem como quiserem.

Comprei uma deerstalker e um cachimbo na lojinha ao lado e atendi a chamada do meu pai no Skype hoje caracterizada de Sherlock Holmes. Ele levou um susto e foi o ponto alto do meu dia.


Agora os detalhes relevantes e informativos sobre a semana: o colégio é localizado numa zona privilegiada da cidade e é um prédio antigo e muito charmoso, completamente reformado por dentro para abrigar salas de aula modernas com recursos como iLab e elevador.

A atmosfera é realmente que nem de filme de colegial e até agora todos se mostraram amigáveis e prestativos, inclusive e principalmente o staff da escola, que sempre querem saber "o que você está achando" a respeito de, bem, tudo.

Está sendo difícil me enturmar com o pessoal talvez pelo fato de estar somente no meu segundo dia, mas também porque sou uma espécie de anormalidade por aqui, já que acabei de completar 16 e estou num nível extremamente avançado, e todo mundo é bem mais velho e, no geral, está aprendendo a falar inglês agora.

Acredito que na próxima semana isso irá mudar, já que estou conhecendo gente legal do mundo todo e brevemente me mudarei para um lugar mais próximo, não ignorado por Deus.

Falando em semana, cara, tá frio. Zero grau todo dia, e dependendo da área em que você está, pode até mesmo estar nevando. Semana que vem, no entanto, vai fazer calor, graças a Deus. Acho que chega a 7 graus. Vou sair de shortinho pela rua.

Então é isso, por enquanto, colegas.
Não faço a menor ideia do que vou fazer amanhã, mas provavelmente será a mesma coisa que hoje. Ir pro colégio e voltar pra casa. Com a adição de algumas compras, talvez.

É, compras.

Eu só vou deixar isso aqui.

domingo, 13 de janeiro de 2013

1ª semana


Respira. Há uma semana, não acreditaria se alguém contasse o que eu iria passar para chegar até Londres, e se tivesse, teria ficado aterrorizada e provavelmente andaria para trás com a viagem. Mas reconheço que o que passei foi ao menos importante para me amadurecer como pessoa e aprender a enfrentar meus problemas sozinha. Da maneira mais inortodoxa possível, sim, mas de qualquer forma, uma aprendizagem.

Meu voo Lisboa/Londres foi de fato tranquilo, o "aperreio" começou mesmo quando cheguei. Logo na imigração, um indiano carrancudo foi rude comigo de propósito, tentando me assustar à toa. Depois de pegar minha mala, meu traslado não estava em nenhum lugar por perto. Não estava nem lá.

Liguei para o número de emergência e uma voz que parecia gravação perguntou qual era o meu problema. Expliquei detalhadamente e esperei por uma resposta. Ela disse que me ligaria de volta. Okay, eu disse.

Esperei sentada enquanto o aeroporto esvaziava, mochila na mão, mala na outra. Ela retornou após alguns minutos. Aleluia, pensei. Disse que o rapaz estava preso no trânsito e que demoraria mais um pouco. Okay, eu disse.

E ele chegou. Acabou que era um cara muito legal, um polonês bastante interessado pelo Brasil. A viagem até Bristol durou aproximadamente 3 horas e quando cheguei, perceberam que estava na residência errada. Fui até a certa e esperei por mais 15 minutos lá fora, torcendo para que nada mais complicasse a noite. No final das contas, meu andar só tinha acesso pela escada e minha roommate não falava. Okay, sem problema, pelo menos já estou aqui.

Durante todo esse processo, não reclamei nenhuma vez. Muitas vezes porque não era culpa da pessoa, outras porque não havia nada que eu pudesse fazer. De todo jeito, não estava nem um pouquinho feliz.

EF Bristol
No outro dia, descobri que meu nome não estava em nenhum grupo no colégio. Na verdade, esta é uma história muito longa e não vale a pena ser elaborada. Em suma: já que na minha residência havia um grupo de brasileiros, resolveram me agregar às atividades deles. O mais engraçado é: eu fui agregada ao programa que eu explicitamente havia avisado que não queria fazer parte, o Language Camp da EF.

Basicamente, é um grupo de 40 brasileiros que passa 3 semanas na Inglaterra, 1 semana passeando pela Europa, sempre com um líder, atendendo a todas as atividades juntos, todos os quarenta. Que maravilha. Eu, que odeio barulho/tumulto/andar em grupo, estava fadada a ficar por lá mesmo, porque não havia escolha.

Tudo bem. O pessoal lá era legal e essa semana foi importante para soltar mais meu inglês, sempre acompanhada por um adulto responsável para me auxiliar. Logicamente, durante a semana, tive que correr atrás de muitas outras coisas que não estavam resolvidas, e minha rotina era bem mais cansativa que a dos outros alunos do grupo. Foi exaustivo e eu vivia angustiada com o que vinha a seguir, embora não mostrasse.

Aliás, assistindo por fora, o pessoal achava que eu estava lidando com tudo brilhantemente. "Sorte que você é bem sociável, né?" ou "Admiro muito a forma que você consegue se manter equilibrada mesmo com isso tudo acontecendo" ou "Mas você não é inglesa?!".

Okay, isso foi bom para o ego. Mas não é seu ego que te mantém aquecida à noite, esta é a sua consciência. E a minha consciência andava meio abatida.

Meu aniversário, porém, foi muito divertido. Primeiro porque eu nem lembrava que era meu aniversário, segundo porque todo mundo foi propositalmente mais legal comigo, até o staff do colégio. A hora mais engraçada foi quando eu estava discutindo os detalhes do transfer na recepção, e o cara do balcão SURGE com um bolinho e começa a mobilizar a escola toda a cantar parabéns pra mim.

À noite, comemos pizza (minha primeira refeição decente durante a viagem) e respondi mensagens de familiares. O que me lembra: a comida.

Ugh, a comida. Sempre fui seletiva (fresca) pra comer, só que aqui tive que deixar muita coisa de lado. O sanduíche do almoço era realmente abominável e sempre dávamos um jeito de comer outra coisa nesse horário. Já esperava isso, de verdade, então não foi uma surpresa.

Visitamos Stonehenge (as pedras), Windstor Castle (residência oficial da família real), Hampton Court Castle (antiga residência do Henry VIII), o navio S. S. Britain (depois explico) e partes importantes da cidade de Bristol, como Nelson St., uma rua tomada por graffiti (artístico).


Hoje me separei do grupo que me adotou. Eles seguiram para Londres mais cedo, enquanto continuei esperando pelo meu traslado. Acabou que também era um senhor simpático, paquistanês, que conversou comigo e esclareceu algumas coisas no caminho. A Host Family, porém, não atendia nenhum telefone e ele não tinha como saber exatamente onde a casa ficava. Quando chegamos, quase três horas depois, ele logo avisou que essa foi a maior viagem que  já havia feito para deixar um aluno. Realmente, a casa fica a 1 hora do centro de Londres de metrô, o que é uma distância ridiculamente absurda. A área também não parece muito segura e a casa é simples. A senhora dona da casa não é britânica e trabalha à noite como enfermeira. Minha roommate é colombiana e também não parece muito interessada em mim até o momento. Tudo isso seria perfeitamente aceitável se não fosse essa distância e isolamento geográfico.

Felizmente, já conversei com meu pai e amanhã mesmo ele verá o que pode ser feito. Enquanto isso, me atualizo nas notícias globais e descanso um pouquinho num lugar que (YAAAAAAAAY) tem Internet.

Apesar de tudo, acho que estou bem [?]. Depois de uma semana como essa, não sei mais a diferença entre um "inconveniente" e um "problemão" e, pra mim, contanto que tenha um aquecedor por perto, estarei satisfeita. Ou quase.

Residência dos alunos (Bristol)
Fotos serão adicionadas daqui a pouco. Manterei vocês atualizados.

Em Lisboa


Escrito em 07/01/2013 às 11:07

Bom dia. Encontro-me bem e muitíssimo viva, se não ligeiramente enjoada. Aterrissei mais cedo em Lisboa, onde após um breve ataque de pânico (durou 5 segundos), descobri qual portão seguir e que fila entrar para pegar a conexão com meu voo para Londres.

A viagem fluiu sem maiores problemas, com apenas um surto de turbulência (sim, foi um surto) no meio do Atlântico, que fez a pequena Lara (minha amiguinha) gritar escandalosamente no banco de trás - mas não é como se ela não já estivesse fazendo isso desde Fortaleza. Guria adorável, ela era.

Por esse e outros motivos, a viagem pode ter sido classificada como razoável, mas não sou eu que vou reclamar agora. A lei de Murphy se fez presente logo nos primeiros instantes, quando que com alegria nos olhos percebi que naquela fileira de 4 cadeiras onde meu assento estava marcado não havia ninguém. Quatro cadeiras só pra mim, dá pra imaginar?

É claro que não durou. Uma comissária muito simpática chegou minutos depois, perguntando se eu gostaria de ceder meu lugar para uma família que estava separada. Logicamente, aceitei. 16A, ela me enviou. Fui me sentindo uma pessoa super legal.

Quando que para minha surpresa, vi que o assento 16B (o avião era 2, 4, 2) estava ocupado. Nada mais, nada menos que por um rapaz inglês carrancudo com pernas enormes e nenhum traço de alegria no rosto. Até parece que foi forçado pro Brasil. Awkwardly, ele cedeu o espaço na janela para mim. Okay, tudo bem, tudo bem, Ana Karla, se você quiser ir no banheiro, você pede gentilmente no meio da viagem.  Sua bexiga vai aguentar.

Nós não trocamos sequer um olhar durante o voo todo e eu neguei todas as refeições. Fiz bem, porque olhei pro bife no prato dele e ele estava verde. Pra melhorar, a Lara lá atrás a cada 3 minutos ou chorava ou gritava ou exclamava “A LUUUUUUUUUA, MÃE, olha a lua e as estrela”.

Não assisti nem um terço do que havia programado para assistir durante o voo, e no canal de entretenimento passava O Diário de um Banana, quando haviam anunciado As Vantagens de Ser Invisível. Qualquer analogia com a realidade é mera coincidência.

Dormi por 40 minutos, suspeito. De qualquer forma, quando cheguei, o comboio me levou para o aeroporto e foi lá que sofri meu pequeno (ou será miúdo, já que estou em Portugal) ataque de pânico. Não sabia se passava pela fila da imigração ou se seguia direto para a conexão. Eu disse meu destino e a moça respondeu “Sobe”. Subi. Dei de cara com o corredor mais longo e deserto da minha vida. Lá duvidei a existência do aeroporto, do fim do corredor e da minha própria existência.

Após exaustivos minutos de tensão e ansiedade, encontrei o detector de metais e nunca fiquei tão feliz na minha vida por ser revistada, porque lembrei que era isso que devia fazer mesmo.

No exato momento, estou realizando o sonho da minha vida. Vocês sabem, existem três tipos de sonho: o sonho impossível, aquele que você tem desde criança; o sonho alcançável, aquele que com trabalho duro e um pouco de sorte um dia você acaba conseguindo; e o sonho da sua vida, aquela coisa simples – mas não tão simples – que você sempre quis fazer, mas que por algum motivo, nunca pôde.

O sonho da minha vida era sentar num café, tirar meu casaco e enrolar meu cachecol, pedir um café, tirar meu computador e começar a escrever. As pessoas passariam me olhando com solenidade, pensando que sou escritora e estou escrevendo um romance baseado nas suas rotinas, quando na verdade só estaria aqui fazendo skdaw~dldhgdsv~dfhb e parecendo inteligente com meus dedos ligeiros. Neste exato segundo, existem 5 pessoas fazendo isso, e eu estou me controlando muito pra não gargalhar.

Realizei o sonho da minha vida. E daqui a poucas horas, realizarei o outro sonho da minha vida. Porque a vida não tem uma faceta só, então podemos ter muitos sonhos simples, que eu não sei descrever melhor do que... sabe aquelas coisas no The Sims que você faz e elas te dão pontos de vida pra comprar seu Desejo Duradouro? Pois é, mais ou menos assim.

Tem muita gente por aqui, mesmo assim o lugar está tranquilo. Dez minutos e todos estereótipos relativos a nacionalidades já foram quebrados,  o que é maravilhoso. Já avistei um garotinho inglês falando altíssimo e correndo pela escada e um italiano emburrado. Já encontrei gente de 15 países diferentes, ou por aí, todos eles acompanhadas por filhos ou com pressa ou já bem mais velhos. E eu. Eu aqui sozinha, tentando me encaixar nessa bagunça toda. As únicas palavras que consegui proferir em inglês até o momento foram “You’re welcome” para moça que eu segurei a porta do banheiro. As únicas palavras que proferi em português até o momento foram para caixas ou funcionários do aeroporto.

No momento, estou comendo um hambúrguer com algo parecido com ovo e arroz, e também outra coisa que lembra muito batata, mas está tão ruim que eu não consigo ter certeza.

Apesar de tudo, eu estou bem. Lisboa está fria e nublada.
E como dizem aqui: até loguinho.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

É amanhã!


Só para constar, eu acho muito engraçado que a minha primeira palavra todos os anos sempre é "JÁ?". E eu tenho vídeos para provar. Feliz ano novo, pessoal.

Então, meu voo é amanhã. Meu itinerário será levemente confuso e possivelmente arriscado, mas enquanto eu puder bloggar sobre isso, tudo bem. 

Visitarei o escritório da EF (Education First) de Fortaleza, onde checarei se tudo está ok e se posso prosseguir sem maiores surpresas. Afinal, de lá, embarco num voo corajoso para Lisboa (completamente desvinculado do intercâmbio), e então viajarei para Londres - desesperadamente rezando para que o senhor do traslado esteja me esperando, calmo e pacientemente, com uma plaquinha (de preferência).

Nessa brincadeira toda, passo mais ou menos dois dias "en route". Sozinha. Mas, novamente - se puder bloggar, tá tudo bem. Quer dizer, não. Mas vocês entenderam.

O que falta arrumar? Só o básico mesmo. Lembrando que é sempre bom ir com uma mala não muito cheia, já que muitas coisas você vai comprar na sua estada mesmo.

Como estou me sentindo? Na boa, acho. Mentira, tô não. Na verdade, nem sei. Por isso resolvi fazer uma tabela - eu sempre me sinto melhor depois de fazer tabelas - pra organizar os pensamentos. A primeira coluna será preenchida na ida, e irei intitulá-la de "EXPECTATIVAS", a segunda coluna será preenchida na volta, logicamente denominada "A REALIDADE".

Os posts entre estes dois extremos contarão as minhas experiências (e a maioria deles já irá responder a essas perguntas), mas as tabelas são necessárias para traçar uma conclusão confiável e precisa sobre o resultado da viagem como um todo. Principalmente, para ver onde se encontram os maiores equívocos sobre a experiência do intercâmbio e acabar com esses paradigmas de vez. Ou seja: mandar a real. Chato, né? Mas um dia vocês ainda vão entender que no fundo eu só sou uma frustrada futura antropóloga que não tem vida social porque vive fazendo tabelas.

Enfim, não reclamem das tabelas, eu gosto de tabelas (e pautas e roteiros e todas as formas de organização de palavras). Cole Sprouse, este é o meu experimento social. Lembrando que a primeira tabela aqui é abstrata, porque não dá pra fazer tabelas aqui no blogger. Ai, tá bom, chega de tabela.

EXPECTATIVAS

GERAL: Confiante e, no geral, BEM SASSY (as usual) de manhã, à noite tentando evitar pequenos ataques de pânico e ansiedade. Escrevo no blog que tá tudo beleza, mas suspeito esta seja uma atenuação das minhas emoções. (Sentimentos contraditórios quanto à experiência, tendendo para o lado positivo quando em público).

VOO: Sinto que vou me perder no aeroporto de Lisboa. Nervosa quanto aos procedimentos de imigração, check-in e alfândega, aflita quanto à prospectiva de pedir informações para estranhos, ansiosa quanto à coisa toda. Sinto que vou perder o voo de volta para casa. Sinto também que isso não será um problema.

BRISTOL: Tenho absoluta certeza de que a cidade é linda. Já vi fotos, vídeos, conheço séries que se passam por lá. Tem meu tipo de arquitetura preferida e lá as pessoas são (ligeiramente) menos reservadas que nas outras cidades da Inglaterra, talvez por influência da televisão (muitos estúdios da BBC estão por lá). Apesar de tudo, não desconsidero o fato de ser uma cidade "grande", e por isso preciso tomar os mesmos cuidados que tomaria em qualquer lugar desconhecido. Responsabilidade sempre.


ESCOLA: Assim como a cidade, só conheço a EF de Bristol por meio de vídeos ou imagens. Confesso  estar meio cética quanto a eficácia das aulas e o quanto elas surtirão efeito no aumento do meu nível de inglês, mas como sempre, espero ser surpreendida. Afinal, não estou indo lá para aprender, e sim praticar. Gostaria que os dormitórios fossem limpinhos (valendo também para os banheiros) e que tivessem o mínimo de sistema de aquecimento (porque... Inverno). No geral, sinto que a escola em si é o menor do meus problemas.

PESSOAS: Porque é aí que a coisa pega. Não faço a menor ideia de quem ficará no dormitório comigo, pode ser tanto uma japonesa gente boa quanto uma francesa sem noção de saneamento básico, ou o contrário, ou uma menina mala, ou uma alemã nazista que tente me assassinar durante meu sono, ou uma menina que pensa que é um menino. Você não tem como prever esse tipo de coisa, e só resta rezar (para Deus, Alá, Buda e afiliados) para que sejam misericordiosos.

Este tópico merece um outro parágrafo porque pessoas não cabem em um parágrafo só. Pessoas são irritantemente complexas e têm uma capacidade inacreditável de fazer você se sentir mal. Ou bem. Fica aqui registrado que eu estou com medo de não me enturmar, embora saiba que isso seja quase impossível. Sim, eu sei que todo mundo vai estar no mesmo barco que eu, sim, eu sei que todo mundo (ou todo mundo do mundo) vai estar louco para fazer amigos e passear, eu sei de tudo isso, mas quem disse que o medo é racional. Eu estou com medo

- e aqui eu gostaria de usar outros adjetivos menos comprometedores, como angustiada, ansiosa, inquieta, afoita, afobada, mas a verdade é que eu andei analisando e vi que estou com medo mesmo -

de não conseguir me comunicar, me expressar, de ficar com a língua presa, de não sair de casa e ficar adiando excursões, estou com medo de ser antissocial, porque é muito fácil ser antissocial. Eu tenho um medo (natural) absurdo de estar num lugar e não conseguir ser ouvida, porque não consigo falar. Ou encontrar palavras. Ou expressar opiniões. Em suma, tenho medo de sofrer um surto longo e aterrorizante de afasia. E assim, não me aproximar de ninguém. Pronto, falei.

(Este tópico cumpriu sua função social e tem 2 parágrafos. Sim, conte de novo.)

COMIDA: Sou chata para comer e ficarei por 1 mês sem arroz. Não estou a fim de experimentar iguarias britânicas como feijões doces, nem chá com leite, mas me encontro relativamente aberta à novas cozinhas, e sei que como quase qualquer coisa sob pressão. Em quantidades miúdas, mas gente chata pra comer tem suas maneiras de disfarçar. Não estou tão preocupada assim com comida, mas talvez isso seja por que eu não pense muito em comida. De qualquer forma, o problema no final não vai ser o que eu vou comer. E sim onde e por que preço. Lembrando que estarei num dos países mais caros da Europa. Por isso, sei que precisarei encontrar formas de economizar. O que me lembra de...

DINHEIRO & COMPRAS: Posso ser adolescente, do sexo feminino, e ainda por cima brasileira, posso ter todos esses agravantes, mas não, não sou uma consumista descontrolada no exterior. Estou sentindo que a minha mãe vai ter que me forçar (via Skype) a comprar mais lembranças e presentes (até mesmo para mim) de Londres, porque eu sou pão-duríssima e econômica. Não quero que isso seja um problema e gostaria de arriscar nem que seja um pouquinho, só pra dizer que - pela primeira vez - comprei uma bugiganga inútil (porque o vendedor me iludiu).

HOST FAMILY: Hoje é dia 3 de janeiro, 23:19, eu ainda estou em Manaus, e não faço ideia de como isso vai funcionar. Só receberei qualquer informação sobre a suposta casa uma vez que estiver em Fortaleza, conversando com meu atendente no escritório da EF. Deixando claro aqui na coluna das EXPECTATIVAS que eu não esperava ficar numa casa de família, e sim numa residência estudantil, mas que isso não foi possível por conta de uma lei aprovada um mês antes de viajar. Não importa o que aconteça, sei que devo: ficar na minha, seguir as regras da casa, deixar meu quarto limpo e manter uma relação saudável com a minha colega de quarto. Não espero que a host family seja particularmente afável ou interessada em mim, porque quem vai com essas expectativas sempre se ferra, por isso vou esperando o pior. O que vier é lucro.

LONDRES: Londres é um caos adorável. Já conheço a cidade e esta é a minha opinião formada sobre ela. Eu amo caos adoráveis ainda mais do que eu amo tabelas. Posso ser assaltada no metrô, mas sempre me referirei à experiência com ternura no olhar. Se eu estou em Londres, eu estou bem. Expectativa e realidade.

UMA PALAVRA PARA DESCREVER O MOMENTO: asdfghjklç

fim das expectativas.

Então, é isso, pessoal. Definitivamente está começando. A partir do dia 4 de fevereiro, terei novas opiniões e conclusões quanto aos tópicos discutidos acima, e isso francamente é assustador. Mudança assusta, ficar estagnado é pior... Mas é pra mudar que eu estou me submetendo a isso, não? E que Deus (e Alá e Buda e Zeus e a Força) esteja ao meu lado.