terça-feira, 28 de junho de 2011

A senhorinha de óculos


Impressionante figura ela fazia, sentada à beira da escada com um cigarro na mão. Os olhos de mel cansados e distantes, enquanto tragava mais uma vez e soltava a fumaça. Corpulenta, a senhora, com leve dificuldade, conseguiu levantar, voltando à realidade, voltando à sua família.

Não teve filhos, nem precisou. Cuidou dos filhos de todos, e continua fazendo isso até hoje. É a tia favorita da nação. “Tia Pata”, “Tchéia”, ou “Tcha-tcha” para pequena Sofia – não importa o nome que você dê à Fátima, isso é o de menos.

Para mim, Tia Fátima é uma maga. Foi isso que ela sempre disse, e eu acredito até hoje. Há muito por atrás daqueles óculos tortos, que vivem enterrados em livros, jornais, revistas, bulas de remédio, qualquer coisa. Fátima possui uma enorme biblioteca, que está espalhada por todas as suas casas, cada uma em um canto diferente.

E foi ela quem me assegurou: “Mágica existe”, e mostrou que falava a verdade. Apresentou-me a prova, em forma de livro (ou melhor, sete livros), e foi o bastante.

Depois disso, não pude parar. Foram mais e cada vez mais livros. Mais tarde, vieram em outras línguas. Outros eram bem mais complexos... Então, eu levantei as asas e fui sozinha.

De vez em quando, a encontro em uma nuvem, e nós paramos para conversar, trocar experiências. Mas a nuvem passa rápido.

Mulher ocupada, tem muito o que fazer, apesar da idade. Possui uma fraqueza. Ah, sim, pois todos temos uma. A de Fátima possui dois anos, e é seu xodó. Mas é uma fraqueza boa, posso afirmar. Uma fraqueza que dá vida.

Ela levantou, e agora estava olhando para mim, curiosa. Mal sabia ela o que se passava em minha cabeça, e eu quase sorri com isso.

Mas então, ela deu aquela olhada – aquela olhada por cima dos óculos, igual a daquele grande mago que conheço, e que se conheci, foi por causa dela. Os dois são tão parecidos.

E eu pisquei aturdida, porque, talvez... ela realmente soubesse.

domingo, 26 de junho de 2011

Concessões


Ganha um doce quem adivinhar de onde estou falando neste momento. Não, não, deixa eu falar logo. Vocês nunca vão imaginar.

Sim, eu estou falando de Boa Vista. Do lugar que prometi nunca mais voltar... ou pelo menos, não tão cedo.

Por isso, sentem-se, relaxem e tirem os sapatos. O nosso post começa agora.

***

Viagens de madrugada, aviões apertados, casas antigas. Vida simples, pessoas simples, pessoas complicadas. Pessoas muito complicadas.

Uma criança. O sorriso de uma criança. Ela olhou para você. Ela não acha você uma deslocada. Na verdade, você é a parceira ideal para uma brincadeira.

Pule, pule com ela. Tome cuidado, ela é pequena. Converse com ela. Cante sobre os piratas, e espere sua resposta. Ela gosta, ela sabe falar.

Você não gosta de crianças – elas são bizarras. Mas hoje, hoje não.

Pessoas, muitas pessoas. Elas julgam, elas não são como a criança. Elas conhecem você. Elas acham que conhecem você.

E quem é você?

Você é a branquela estranha da outra cidade? Ou você é a amiga da criança? Difícil saber.

Talvez você não seja nenhum dos dois. É, você só é a deslocada, a ave fora do ninho.

O refúgio? O refúgio ficou para trás, bem longe. Você tenta chegar até ele, mas é lenta demais. Ou ele é lento demais. Talvez seja ele o lento demais.

O que importa é que você precisa fazer alguma coisa. E rápido.

As pessoas estão esperando. Elas encaram, elas cochicham. Elas são sua família. São mesmo? Quem é família e quem não é? Difícil saber.

O dia passa, você quer voltar pra casa. Mas sua casa está longe, bem longe. Existe outra, lá na esquina. Essa serve, por enquanto.

Respira. Tudo está bem. Respira de novo.

Melhorou?

Estranho... melhorou.

As senhoras de idade chegam. Você pensa em fugir. Não há tempo. Mas elas abraçam você. Dizem que “finalmente, você ficou bonita”.

Você não sabe se ri ou se chora.

Elas conversam, perguntam da sua vida. Lembram de quando você era apenas um grão de arroz. E se divertem. E quer saber? Você também.

O teclado balança na mesa improvisada. Você não se importa muito. Só sabe que quer escrever. Zeca Camargo na tela. Janelinhas piscando no computador. Você não liga. Só sabe que quer escrever.

E quando percebe que o fez, suspira aliviada. Lembra da criança. Será ela a mesma amanhã?

Será o mesmo, amanhã? Será...? Não. Chega de concessões.

Crianças.

Seres bizarros, não são?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A importância da boa pronúncia

Sim, sim, sou uma pessoa formada em inglês agora, olha que chique.
E quem me conhece sabe o quanto eu gosto de falar tudo certinho, sem enrolação ou sotaques estranhos.
Agora, vocês vão ver como eu sempre estive certa...



Morram de rir.

terça-feira, 21 de junho de 2011


Às vezes eu me pergunto por que as coisas precisam ser tão complicadas, poxa. Parece que quanto mais o tempo passa, menos o mundo consegue ser feliz.


domingo, 19 de junho de 2011


Um dia, uma pessoa ainda vai virar pra mim e dizer "Cara, que bom que eu conheci você".


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Seu jeito diferente de ser


Nós somos diferentes, sim. Cada um carrega dentro de si uma habilidade especial. Cada um possui uma área que melhor atua. Cada um tem seu jeito de agir, seu jeito único de ver o mundo.

Não sei por que esse papo politicamente correto que surgiu atualmente de que todos somos iguais. Mas que bobagem. Deveriam falar que todos somos diferentes. E que não tem problema nenhum em ser diferente.

Algumas pessoas foram feitas para amar. Chamo-as internamente de "amadores". São os românticos, que idealizam uma vida familiar futura, que sonham em encontrar o parceiro perfeito e passar o resto da vida feliz ao lado dele. São aqueles que prezam a amizade acima de tudo e vivem, bem... em prol do amor.

Creio eu que são essas as pessoas que encontraram o caminho para a felicidade, embora quebrem a cara de vez em quando. E isso é bom. Imensamente bom. Nos poupa de problemas maiores, como crises existenciais, por exemplo.  

Mas a gente não precisa ser feliz pra ser feliz.

Feliz considerando felicidade como o jeito que você se sente bem consigo mesmo. E cada um tem seu próprio jeito. Você pode ser "feliz" indo morar sozinho no Alasca,  se isso te fizer bem.

Ninguém pode julgar essas coisas. Mais uma vez, somos diferentes.

E além dos amadores, existem os profissionais.
Sim, eu não pude evitar a piada.
Os profissionais, como o nome sugere, são "felizes" sem necessitar de muito apoio emocional. Não que essas pessoas não precisem de apoio, porque todos precisam. Mas esse apoio vem de outras fontes. Livros, escrita, o trabalho. Não depende de outras pessoas. Geralmente, veem a vida de uma maneira pessimista. Mas os pessimistas são os melhores avisados. E sim, o pessimista sabe ser "feliz".

O profissional não liga muito para todos esses valores familiares, mas não sinta pena dele. Ele detesta isso. Ele só não vê graça nenhuma nessas coisas. Mas gosta de outras coisas. E asssim, ele se realiza pessoalmente. Do jeito dele.

E ainda existem os observadores.
Os observadores são aqueles que apreciam o amor nas outras pessoas. Pode vir em conjunto com o traço profissional ou não. Normalmente, são os poetas.
Ficam "felizes" pelo simples fato de ainda existir amor no mundo. Mesmo que não consiga achá-lo para si. Mesmo sendo um fracassado no amor.
Enxergam a verdadeira beleza das palavras, de um abraço carinhoso, de uma despedida. Ao mesmo tempo, são racionais e sensatos. Eu, particularmente, gosto dos observadores. São pessoas boas de conversar.

Seja você um amador, profissional ou observador em relação ao amor, não se esqueça que a sua visão de mundo é a sua visão de mundo.

E se vem de você, então não tem nada de errado.

Você é simplesmente... diferente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Geração Harry Potter

Ah, vamos lá, pessoal.
 É só o MTV, no final das contas.
  Além do mais, nós, apesar de tudo, não fomos cegados pelo fandom.
   Reconhecemos o brilhante trabalho dos outros filmes.
    E não se esqueçam: fomos reconhecidos onde realmente importa - O Oscar.
     Votações assim não prestigiam talentos.
      Nem ao menos são justas.

Mas nós sabemos o que somos.
Nós sabemos que podemos, porque nós somos o máximo.
Fazemos parte de um fenômeno, uma saga, uma lenda. 

Nós somos a geração Harry Potter.



sexta-feira, 3 de junho de 2011

A cada pequena ação...

03/06/2011

Tenho a impressão que alguém está batendo na porta. Deixo passar, afinal, era horário de pico no trânsito aqui de Manaus. Poderia ser qualquer coisa. Outras batidinhas nervosas.

Desisto, e vou até o olho-mágico conferir quem é. Uma senhora de aparência simples, com olhar perdido e asusstado encontrava-se do outro lado.

Abro ou não abro? Talvez fosse importante, talvez ela precisasse de informação. Por um segundo, pensei em deixar de lado. Mas eu me odeio justamente pelo fato de NUNCA deixar as coisas de lado. E abri.

-Senhora? Algum problema?

-Eu... eu estava fazendo faxina aqui do lado, o moço me deixou aqui... mas ele não deixou chave, e eu preciso voltar logo para a minha casa, está ficando tarde e...

-Tudo bem, senhora, não tem problema. Pode deixar a porta encostada mesmo, não tem perigo. Deixe um recadinho pra ele e passe lá na portaria avisando, não tem problema, não.

-Mas... é que... bom, obrigada, muito obrigada.

É muito estranho para mim ver assim, de verdade, a realidade dessas pessoas. Ela já era uma senhora de idade, e pelo visto, morava bem longe dali. Precisava pegar vários ônibus, e estava lá, temendo pelo seu emprego. E, provavelmente, temendo o elavador também.

E eu? Eu já tinha feito o meu trabalho, não tinha mais nada a ver com a história. Mas essa é a história da garota que já rodou um shopping com um menininho a procura da mãe dele. Então, é claro que ainda não acabou.

-Eu estou indo pegar meus chinelos.

-Por quê? - ela estava mais confusa, se é que aquilo é possível.

-Vou descer até a portaria com a senhora.

Nossa, o alívio foi instantâneo, e quase palpável. A mulher parecia muito surpresa, e incrédula. Talvez ela não estivesse acostumada com esse tipo de tratamento.

Ela fez tudo tão rápido... pegou suas coisas, deixou o bilhete, fechou a porta. Como se fosse um incômodo pra mim. Deixei logo claro que não.

No elevador, o celular dela toca.

-Alô? Filha? Já estou indo pra casa, não precisa se preocupar. Eu encontrei uma Filha de Deus por aqui, e ela está me ajudando. Não, não se preocupe. Já estou indo. Te amo, tchau.

A minha cara à menção do "Filha de Deus" deve ter sido única. As pessoas que me conhecem sabem que eu não sou religiosa, nem um pouco. E, mesmo assim, a mulher me considerava um anjo, somente por estar acompanhando-a até o térreo. Situação desconfortável.

Eu queria que ela parasse de agradecer. Mas, enfim... logo estávamos na portaria, e eu expliquei a situação dela para o porteiro. Demorou algum tempo, mas estava tudo resolvido.

Abri a porta para ela sair, e apontei o ponto de ônibus. Ela sorriu e agradeceu mais uma vez. Antes dela se virar, acenei e disse:

-Tchau, Dona Maria. Vá com Deus.

Pelo olhar que ela me deu, sinto que a família dela ainda vai ouvir muito falar de mim.

E a vida? Bom, a vida continuou normalmente depois que eu andei sem pressa de volta ao elevador.
Normalmente, tirando o brilhinho de estrela faiscante que insistiu em surgir dentro de mim.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vocês que pensam que eu não presto atenção...

Este post é dedicado aos visitantes fiéis do Divagações e Reclamações ao redor do mundo.

Você, de Mountain View, USA... Te vejo por aqui quase todo dia.

Vocês, de Portugal...

E, PRINCIPALMENTE, ao povo de Atlântida. Sim, porque sempre aparece um pontinho no mapa no meio do Oceano, sob o nome "Undefined". Só pode ser Atlântida, tô te dizendo... Ou a Terra do Nunca, o Jardim das Fadas... Nárnia. Mas o mapa pode estar com as coordenadas erradas também, e provavelmente é alguém do Acre.

Enfim, muito obrigada pela paciência comigo. Por sempre estarem presentes aqui, lendo. Se quiserem um dia deixarem um comentário pra eu conhecer vocês melhorei bastante feliz.

Se você é estrangeiro mesmo e usa o tradutor instalado no blog, sei o quanto é difícil entender essas traduções literais. Obrigada ao quadrado por continuarem tentando.

Cara, eu ainda não acredito que pode ter alguém, sei lá, no Alasca, lendo isso neste momento. É além dos limites da minha compreensão. Bendita seja a Internet.

E, pessoal do Brasil... ah, vocês já são de casa.
E vocês, pessoal de Manaus, só faltam morar na MINHA casa.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Nada é impossível para os perdedores

Sabe, às vezes eu acho que sou demais. Acho que posso fazer qualquer coisa se eu tentar. Acho que tem gente que adoraria ser meu amigo. Acho que todo mundo quer ser igual a mim.

Acho, acho, acho.

Acho tanto. Acho porque desconheço. Acho porque tenho um ego muito grande. Acho porque... simplesmente acho.

Mas do mesmo jeito que acho, também perco.

Perco porque não consigo fazer a apresentação.
Perco porque não disse aquilo na hora certa.
Perco porque é impossível fazer aquele passo de dança sem parecer ridícula.
Perco porque é assim que as coisas acontecem.

Perco, perco, perco.

E de onde veio a confiança? A coragem, para onde foi? A voz na hora de cantar? Ficou no chuveiro?

Sou capaz, sei que sou capaz. Mas é que...

Mas, mas, mas.

Sempre tem um mas.

Eu parto do princípio que todo mundo pode tudo até que se prove o contrário. Não daquela maneira dos fantasiosos livros de auto-ajuda, mas da maneira que tanto conhecemos. O jeitinho brasileiro.

Seja um rei ou rainha da enrolação. Quem enrola vai a Roma. Quem enrola sempre consegue se safar, não importa a situação. Invente motivos para o seu erro, pareça convincente e leve tudo no bom humor.

Erre, erre, erre. Continue errando. Não por sua escolha, por favor. Mas é porque assim que as coisas vão.

Meu amigo, eu erro. Você erra. O Barack Obama erra. Às vezes, nas piores horas possíveis. Às vezes você vai parecer um idiota, às vezes você vai querer sumir e chorar.

Às vezes você vai ter vontade de desistir porque não é "competente o bastante".

Avalie-se, veja os prós e contras. Analise sua real situação.

Você não soube responder a pergunta do professor. E aí? Você é burrro?
Você conhece alguém novo e fala alguma besteira, na empolgação das apresentações. E aí? Você é idiota?
Você desconhece a música nova. E aí? Você é um completo desatualizado, sem cultura?

Pense melhor, não exagere.

Pessoas vêm e vão, erros são esquecidos ou jogados pra debaixo do tapete.
Não se corroa por dentro toda vez que cometer um erro.
Assim, o máximo que vai conseguir é viver como um miserável. E ainda não vai aprender nada.

Ache que você pode. Da próxima vez.
Perca uma batalha. Ganhe a guerra.
Mas toda vez que levantar, lembre-se que vai cair.
Erre. Dê-se o luxo de errar.
E aí?
Aprenda.
Aperfeiçoe.
Incorpore.

Seja o idiota de vez em quando. É, é bom ser o idiota de vez em quando, pra variar. Mas saiba - e deixe os outros saberem - que você certamente tem um talento escondido. Nem precisa ter. Mas deixe que os outros pensem que você pode brilhar, se destacar - a qualquer momento. Ganhe respeito. Ganhe crédito.

Ganhe, ganhe, ganhe.

Tudo é uma grande contradição, e nem faz muito sentido.
Inclusive esse texto.

Mas pelo menos você viu essa foto bonitinha.