domingo, 30 de dezembro de 2012

A semana antes

Tardei, mas cheguei. Na verdade, pra ser mais realista, procrastinei, procrastinei, morri, fui ressuscitada e no momento encontro-me amarrada ao computador, porque esse texto precisa sair antes do ano que vem.

Antes de tudo, um aviso (aviso este que será o assunto do post e do próximo mês todinho, mas não quero estragar a surpresa): pessoal, eu vou fazer intercâmbio.

Não, não se preocupem, não é daqueles que você passa o ano todo fora e tem que trabalhar de babá pra sobreviver, criança não é mesmo o meu forte. Também não é daqueles que você tem uma mãe feliz, um pai feliz, filhos felizes e um cachorro feliz, todos vivendo numa casa pacata com um jardim cheio de gnomos no subúrbio de um país desenvolvido, felizes. Na verdade, pode até ser, mas por enquanto eu não sei muita coisa.

Detalhe: começa dia 4. Hoje é dia 30. Eu volto dia 4 (de fevereiro). E não, eu não sei ainda dos detalhes. Procuro não esquentar muito a cabeça com isso agora, tenho certeza de que não estou sendo enganada, ou pior, traficada, mas você esperaria saber mais à essa altura. Mas relaxem, depois explico melhor.

A culpa nem é exatamente da agência, é mais minha, porque eu resolvi tudo muito apressado. Pode ser só por um mês, mas ainda assim, acho que subestimei a relevância dessa Coisa com C maiúsculo que eu vou fazer. E sozinha.

Intercâmbio. Se você me perguntasse a definição de intercâmbio, eu diria que é: vai trabalhar, vagabundo.
É você sair da sua zona de conforto, se entregar de olhos fechados e de braços abertos pro desconhecido. É você descobrir o mundo como ele realmente é, sem os floreiros dos folhetos de viagem, sem os discursos fervorosos (e francamente, ilusórios) do guia do seu passeio, sem falsas impressões, na cara e na coragem, você por conta própria. Você e sua mochila. 

É você, ser medíocre, adolescente deslumbrado, crescendo e descobrindo a vida. Com direito a todos os pontapés, "nãos", "sims", apertos de mão desajeitados, orçamentos apertados pra caber tudo, dinheiro jogado fora em bugiganga, decepções amorosas, experiências extraordinárias, lugares espetaculares, pessoas, pessoas, muitas pessoas e comida suspeita do barzinho da esquina - que você só experimentou porque se perdeu no metrô e está tentando não entrar em pânico e voltar são e salvo pra casa.

Você e sua câmera fotográfica. É fazer poses ridículas, é abordar aquele ator famoso de Hollywood, é fingir ser profissional, é virar profissional, mesmo que com uma ajudinha do Instagram. É tirar foto de tudo mesmo, de tudo e de todos, porque acredite quando eu digo que você não vai querer esquecer nenhum momento.

E como eu sei dessas coisas? Eu não sei. Eu sinto. Já sou bem viajadinha (neste caso, significando crescidinha) para entender o que devo esperar, o que tenho que fazer, quem eu tenho que procurar, como não me descontrolar e como não vale a pena querer ligar chorando à noite para a minha "MAMÃE!" vir me buscar.

Já viajei muito, sim, mas agora é a primeira vez que eu vou poder usar usar este verbo legitimamente. A primeira vez que eu vou poder usá-lo na 1a pessoa do singular. Eu viajei. Minha viagem. Minhas experiências. Minhas presepadas. Boas ou não, serão minhas e isso ninguém nunca vai poder tirar.

E que Deus me acuda.

Agora que estamos devidamente informados sobre a natureza do meu intercâmbio, está na hora de revelar meu destino. Dica: seu ponto turístico principal não é o fundo do meu blog. Não é o lugar que eu me imagino todos os dias. Não é o berço de todos os meus livros favoritos, atores admirados, história apreciada, cultura  curiosa, monarquia carismática.



Eu não estou indo para Londres.

Tipo, não mesmo. Eu estou indo para Bristol. Mas é só por uma semana. Depois disso, eu definitivamente estou indo para Londres, e por lá ficarei por mais três semanas antes de voltar para o Brasil e para o marasmo da vida real.

Este post é o primeiro do meu especial de 2013 ainda não intitulado, mas que por agora será chamado como Diário de Intercambista, porque não acordei inspirada.

Nele escreverei tudo, absolutamente tudo que passar na minha cabeça pelo próximo mês de janeiro, das expectativas à realidade, pelas dicas e pelos "FIQUE LONGE", pelos planos e pelos amigos e pelos professores e pelas dificuldades e por... tudo, basicamente. Acho que vocês já entenderam essa parte.

Então é isso, meus amigos, vejo vocês daqui a pouco com mais posts sobre a "pré-viagem", ou como também é conhecida, pela preparação, em que pretendo ser um pouco mais específica nas minhas explicações, se é que vocês querem a parte chata e teórica (e necessária) da coisa. Agência, datas, documentos necessários, por aí.

Por enquanto, desejem-me boa sorte porque o pior ainda está por vir.
E lembrem-se: é com o pessimismo que a gente é capaz de ficar admirado.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Então é Natal?


Natal é uma celebração na medida certa para crianças. Cor, empolgação, presentes, neve (se é que você tem essa sorte). Criança vê tudo através de lentes coloridas e por isso o Natal é tão apropriado para ser, bem, a data delas. 

Criança não vê o pai acordando de madrugada e colocando sorrateiramente o brinquedo debaixo da árvore (e tendo que engolir todos os biscoitos maravilhosos em forma de rena feitos pela própria), criança não se estressa durante o caos aéreo de fim de ano se tiver um Angry Birds em mãos, criança nem suspeita que o motivo do papai estar franzindo as sobrancelhas e suspirando para um papel é que ele acabou de receber a conta do cartão de crédito após as compras natalinas.

Criança não sabe nada disso, graças a Deus. Se soubesse, talvez encontrasse um meio de subir aos céus e chegar lá na "segunda estrela à direita e então direto até amanhecer" para viver na Terra do Nunca com o Peter Pan - e assim nunca crescer. Ou então se esconder num armário e se recusar a sair até achar o caminho para Nárnia. Sei disso, porque dada a escolha, eu iria feliz e de bom grado (hoje mesmo).

Não é que o Natal deixe de ser colorido. São só as lentes que mudam. Lentes que caem dos nossos olhos quando crescemos. Se Natal para as crianças é colorido, então para os adultos ele deve ter mais ou menos uns 50 tons de cinza, que variam conforme o humor do chefe.

E nem tente me enganar dizendo que a magia do Natal continua "em seu coração". Não da mesma forma. Ninguém, repito, ninguém suporta fazer/comprar lista de presentes. No meu caso, não suporto fazer porque sinto que estou incomodando as pessoas e não vejo porque elas precisam me dar presentes se mal me conhecem. Não suporto comprar por motivos óbvios. Estresse, engarrafamento, lojas lotadas, além do mais, mal te conheço.

E não importa o quanto sorria e acene, você sabe muito bem que atrás daquela barba do Papai Noel do shopping há na verdade um moreno baixinho e mirrado, cansado de lidar com guris loucões o dia todo, morrendo de vontade de voltar pra casa, no meio de uma crise existencial do tipo "Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida". E fritando de calor.

E então perde a graça. Perde a graça, o Natal perde a graça. Os jantares cada vez mais monótonos, as mesmas pessoas, as mesmas perguntas, a mesma comida, o mesmo especial do Roberto Carlos na Globo, o mesmo tio bêbado, o mesmo presente "Oh, meias de novo, tia?". O mundo em 50 tons de cinza. E não é que foi esse livro que a sua tia velha e safada resolveu te dar, dando risinhos e dizendo "Não conta pra sua mãe...". 

Monótono, monocromático, cinza. Meu Natal. Por que tem que ser assim? Eu nunca pedi por isso, Papai Noel, nunca pedi. Eu queria continuar acreditando.

Mas na aula eu aprendi que é impossível o senhor viajar para todas as casas do mundo em uma noite, mesmo com a ajuda de todos os seus elfos. E que a sua barriga entalaria logo na primeira chaminé. E que renas não voam. E que ninguém vive no lado inóspito do Pólo Norte. E que o senhor foi uma brilhante jogada de marketing bolada pela Coca-Cola.

Eles me disseram que o senhor não existe.

Eu chorei aos sete anos, Papai Noel, quando te perdi, e choro hoje de novo, porque me perdi. Eu sei que é tarde para fazer meu pedido, mas na verdade ele é bem simples, e se é que o senhor realmente contraria todas as leis da física e do espaço-tempo, por favor tome um tempo para ler a minha cartinha e me atender no Natal que vem.

Tudo que eu peço é um par de óculos, porque minha vista anda embaçada. Não um daqueles chatos que tratam astigmatismo ou miopia. Um bem bonito, com armação arrojada, que nem o do John Lennon. E com lentes coloridas.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

(Para ouvir e ler e se inspirar)

Everybody's Free (To Wear Sunscreen), por Baz Luhrmann
Tradução: Filtro Solar (com narração de Pedro Bial)

Filtro solar! Nunca deixem de usar o filtro solar. Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar! Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência, já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante. Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês… 

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude. Ou, então, esquece… Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas pode crer que daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos, e perceber de um jeito que você nem desconfia hoje em dia, quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente. E como você realmente estava com tudo em cima, você não está gordo ou gorda… Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade em sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de uma terça-feira modorrenta.

Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade. Cante. Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine. Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos. Estique-se. Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que eu conheço ainda não sabem. 

Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles. Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo. 

É assim para todo mundo.

Desfrute de seu corpo use-o de toda maneira que puder, mesmo! Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance. Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto. Leia as instruções mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio. 

Brother and Sister 
Together we’ll make it trough 
Someday a spirit will take you 
And guide you there I know you’ve be hurting 
But I’ve been waiting to be there for you 
And I’ll be there just helping you out 
Whenever I can 

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons. 

Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, Mais você vai precisar das pessoas que você conheceu quando jovem. More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje. Aceite certas verdades inescapáveis: Os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você também vai envelhecer. E quando isso acontecer você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, E as crianças respeitavam os mais velhos. 

Respeite os mais velhos! E não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez você case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois de repente pode acabar. Não mexa demais nos cabelos se não quando você chegar aos 40 vai aparentar 85. Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale. Mas, no filtro solar, acredite.

***

Sábias palavras na voz do nosso querido apresentador Pedro Bial. Agora me deem licença que eu preciso passar o fio dental.

sábado, 24 de novembro de 2012

Ai, meu nariz

Não ouso dizer que nada na vida acontece por ação do destino, porque isso implicaria acreditar que ela, a Vida, faz sentido - e não faz. Mas não há como negar que algumas coisas acontecem por sacanagem, e isso Murphy explica e eu assino embaixo.

Embora tentada, não vou, absolutamente não vou, nunca vou admitir que ontem eu provavelmente devo ter sido testada. Não por Deus, mas por Murphy (porque nele eu acredito). Sem mais delongas, agora dedicarei-me a narração da minha jornada de autoconhecimento, em que aprendi da pior maneira que se você cair, não há escolha alguma a não ser levantar e patinar para fora do gelo.

oOo

Você conhece pessoas de todos os tipos ao longo da sua vida. Atletas, artistas, trabalhadoras, simpáticas, malas, tímidas, carismáticas e desinteressantes, muitos exemplares de todas elas. Mas tem aquele atleta que joga tudo menos futebol, a artista que dança tudo mas não canta ópera, as desinteressantes, bom, só na sua frente. Já eu sou uma das confiantes. Sinto que posso apresentar palestras de motivação, daquelas bem engraçadas, que envolvem o público, ou então dar um discurso convincente sobre autoaceitação e de como o tamanho da sua barriga é o último dos seus problemas. Sinto que posso inspirar. Eu sou confiante. A respeito de tudo, menos o meu nariz.

Ah, meu Deus, o meu nariz. Como o odeio. Se você me perguntar, direi que é a minha marca registrada, o que me torna exótica/diferente como, sei lá, a Lea Michele. E que nós duas estamos muito bem, obrigada, do jeito que estamos. Você dirá "Puxa" e seguirá com sua vida, contente por ainda haver pessoas do mundo que não se importam com a absurda pressão social em torno de ser "padronizadamente bela", e que é assim que as coisas deveriam ser.

Às vezes sou tão fervorosa em meu discurso que quase me convenço. Dura pouco, mas é glorioso. Quando passa, logo depois, sou atirada de volta no meu mundinho secreto de inseguranças e imperfeições e drama, que para efeitos ilustrativos, funciona mais ou menos assim:

é feio é grande mas acho que pros outros não importa muito deixa eu virar de perfil pra ver como fica ah meu deus volta volta vou gravar um vídeo nossa ficou muito bom deixa eu conferir socorro é assim que eu pareço na tela como que vocês são meus amigos e me acham essa coca-cola toda com esse everest montando acampamento na minha cara então o que você acha dele ah é diferente de tudo que você já viu não me diga mas agora me responda sinceramente se ele me deixa menos bonita hm não consegue imaginar outro na minha cara devo levar isso como um elogio ou...

- ... Sim?
- Você acha que consegue o papel?
- *sorri de lado* Claro que sim, olha pras outras candidatas e olha pra mim.
- Puxa.

oOo

Ontem eu fui patinar. Já fiz isso muitas vezes e acho muito divertido. Mas tenho o azar de morar numa cidade como Manaus (bem no meio da floresta amazônica) e isso só era possível aqui até agora no período natalino dentro de shopping malls, quando os ringues ficam lotados de crianças remelentas que por pouco não decepam o dedo uma das outras com as lâminas dos patins.

Aparentemente, isso mudou. Em um dos boliches da cidade (não tome isso como um convite), abriu o primeiro ringue de patinação no gelo de Manaus, e ontem, como andava dizendo, fui experimentá-lo com meus amigos.

Fomos equipados com toda a proteção necessária, mas Manaus continua sendo uma das capitais mais quentes do país e a pista estava incrivelmente lisa e levemente molhada (a princípio, depois piorou). Embora patine relativamente com confiança (olha lá ela de novo), sabia que não deveria ter confiado (na pista). Durante uma das curvas, perdi o equilíbrio e caí.

Nem pra cair eu sou medíocre. Não, eu tive que dar o tombo mais espetacular que jamais irá passar nas Vídeo Cassetadas, escapando de molhar a blusa ou até mesmo a calça na água, já que caí de rosto mesmo no chão. Ouvi um baque assustador e gritos. Apesar de tudo, por 1 segundo eu me senti em paz total. Mas o salva-vidas da pista veio e me resgatou, sendo um perfeito escroto ao me atender e me acalmar, na verdade surtindo com o efeito contrário por causa da sua incompetência. Ninguém me explicava o que estava acontecendo e eu patinei para fora da pista, onde fui recebida com olhares de pena e preocupação por outra atendente, que gentilmente me informou que eu estava toda roxa.

Ah, ótimo, agora me diga algo que eu não sei, pensei.
"E seu nariz está com um catombo, está todo inchado", ela continuou.
Perfeito.

O que se passou a seguir foi mais ou menos um coro meu em um tom altamente casual que pode ser resumido basicamente em "espelho, alguém tem um espelho", mas ninguém tinha a porcaria de um espelho.

Certo, ponderei racionalmente enquanto via meus amigos ainda se arriscarem naquele gelo da morte, esperando pelo gelo da salvação que a mulher me prometeu trazer. Não sinto nenhuma dor absurda. Deixa eu conferir. Não, não dói ao mexer, não dói ao fazer o truque mágico da Feiticeira, não dói tocando o osso. Não está sangrando. Grandes chances de não estar quebrado. Bom. Mas deslocado? Não tirar nenhuma conclusão precipitada até possuir espelho em mãos. Tarefa provando-se extremamente difícil. Não, não pense muito. Merda, justamente o meu nariz? Será que isso é uma provação? Não, ridículo. Provar o quê - para quem? Não, isso é uma situação perfeitamente ao meu controle que pode ser resolvida se todas as partes conseguirem manter a calma e... cadê a porcaria do meu gelo?

Fui ao médico. Foi engraçado. Não existe nada mais engraçado (e bizarro e desconfortável) do que ver meu pai, minha mãe (e meu irmão), todos juntos numa sala de espera do pronto-atendimento, quando eles mal conseguem dizer oi um para o outro em qualquer outra situação. Meu nariz tem o poder de reunir as pessoas. Enfim. Resolvi que fazer logo o raio-x e tirar a prova seria a melhor opção.

Na verdade, essa foi a parte engraçada. Por onde quer que eu passasse, todo muito ficava surpreso em ouvir como eu tinha caído. A moça que escreveu meu formulário teve que amassar o papel, o médico disse que nunca tinha atendido uma coisa dessas antes, mas a cara do rapaz do raio-x foi impagável.

-Como você caiu?
-Esquiando - brincou meu pai.
-Patinando no gelo - corrigi.
-Meu Deus, e quando foi isso?
-Duas horas atrás.

Resultado: não está quebrado. Não está deslocado. Não vai causar nada permanente. Está roxo. Alto. Inchado. Na hora, estava muito pior. Mas se você, um dia, passar por um sufoco desses, lembre-se: gelo, muito gelo. Nos outros dias, compressas mornas para diminuir o inchaço. E procure um médico para lhe receitar um anti-inflamatório. Pode parecer feio, na verdade, pode parecer muito feio, não vou mentir. Mas em poucos dias, vai sarar.

E, para mim, pessoa que sou, passando pelo que passou, até agora não para de flutuar graciosamente a questão: Quando a hora chegar, operar ou não operar?

Olha, confiança à parte, problemas à parte, preciso responder sinceramente. Não sei. Fico muito tentada,  pois sei que me sentirei desconfortável com meu nariz até o dia em que eu morrer. Ele é o meu ponto frágil e  que me deixa sentida toda vez que é discutido e debatido pelas pessoas. Mas se eu mudar, será que vou me sentir realmente melhor? Eu creio que sim, mas eu tenho como ter certeza? Se eu me conheço, e eu me conheço muito bem, posso ficar me sentindo uma fraude após a cirurgia. Fraca, influenciável. E para as pessoas "confiáveis" como eu, aquelas pessoas que dizem "vem, segure na minha mão, vou tirar a gente daqui, pode confiar em mim", não existe no mundo coisa pior.

Enquanto isso? Esperar ele desinchar (já está muito melhor), ter a desculpa perfeita para comprar muita maquiagem, escrever meus roteiros (baixei o programa perfeito de formatação), responder as suas perguntas sobre o meu intercâmbio, ter a desculpa perfeita para não sair de casa por uma semana, ler os próximos livros da minha lista, ir para Londres e dominar o mundo.


sábado, 10 de novembro de 2012

O preço do talento

Talento é uma coisa muito mais rara do que se parece. Uma aptidão extraordinária para realizar alguma coisa - e espetacularmente bem. Inerente a quem você é, ele independe da previsão metereológica, humor, idade, estado mental. Te acompanha pela vida, sempre presente, muitas vezes como sua única companhia, muitas vezes motivo da sua solidão, é um fardo. Um fardo maravilhoso, invejável e especial. Você tem um talento?

Porque eu não. Céus, não. Não ouso detalhar mais a descrição de um, porque não compreendo de fato a  complexidade que é ter um talento. Como poderia, afinal? Mas apreciando, admirando de longe, um talento verdadeiro, natural, algumas coisas são absorvidas - e é por isso que eu ainda me atrevo a sequer escrever sobre o assunto.

Andei pensando - e provavelmente você também - e cheguei à falha conclusão de que não sou boa em nada. É muito fácil se atormentar assim quando a situação se encontra, digamos, propícia. Prontamente meu leão interior rosnou e me lembrou que não era bem verdade. Defensivo e orgulhoso como só ele é, meu leão nunca iria deixar um pensamento tão indigno como esse se apropriar da minha cabeça. Mas o leão é um animal irracional e portanto seu sistema de segurança não é lá muito do seu confiável. Pensamentos não-narcisísticos de vez em quando passam pelo seu filtro, abrem caminho pelos rios de besteirol e atingem as catacumbas do inconsciente, onde martelam, martelam, até rachar alguma coisa. E até mesmo o mais cheio de si começa a se duvidar.

Então começam os questionamentos: Por que eu preciso de um talento? Que diferença isso faz? Milhões de seres humanos andam por aí, trabalham, respiram e vivem sem saber tocar violino. Ou dançar a Polca, se é que é preciso comentar isso. Noventa e oito porcento de nós não faz a mínima ideia de como responder uma questão de física, e tenho absoluta certeza de que nunca na história da humanidade essa incapacidade matou alguém. Ávidos leitores, porém, não se conformam com o fato de que nunca terão a mente de seus favoritos romancistas. Mas apesar de tudo, a maioria dessas pessoas se consideram felizes

Encontra-se aí o maior mistério de todos. Por que temos essa obsessão toda em ser especial hoje em dia? Em destacar-se na multidão, reafirmar nossa singularidade e deixar uma marca para a posteridade? E, principalmente, por que a perspectiva do fracasso nos paralisa tanto ao ponto de nem mais tentarmos, com medo do implacável e crítico olhar da sociedade do "bom, mas faça melhor"?

Por que ao menos se importar? A ignorância é uma benção, sim, como é. Mas e para aqueles na metade do caminho, no limiar entre a mediocridade e a genialidade, como se contentar com um futuro menor do que aquele que você sabe poder sonhar, porém - que por fatores que você não pode controlar - é incapaz de alcançar?

É o sentimento aterrador e deprimente dos derrotados. E se deixar que ele tome conta de você, pode apostar que ele vai te arrastar até o final do poço, o máximo que puder, levando tudo junto.

E para entender melhor como ele age, você precisa traçar de onde ele vem. Sim, é preciso analisar suas inquietações e anseios de maneira calma e racional. É por isso que ninguém tenta. Mas sinto que posso ajudar por aqui.

É sério. Tente entender por que não ser bom o suficiente tem tantos impactos negativos na sua vida, na sua personalidade e nos seus relacionamentos, o que está errado ou que está faltando. 

Ou se não é tudo coisa da sua cabeça e você na verdade é Beethoven e não se toca.

É por que você é perfeccionista? Lembre-se que você é seu melhor amigo, portanto deve estar sempre trabalhando ao seu lado, e não contra você. E se isso não está acontecendo, então sua conduta está errada e precisa mudar. Muitos acham que precisam mesmo se exigir demais a fim de que extraiam até a última gota de esforço e produtividade, mas aprendi da pior forma de que isso só te deixa estressado e infeliz. Embora ainda seja difícil admitir, não dá para ser perfeito o tempo todo (e no meu caso, nem todo texto vai ser "insightful" e perspicaz, nem toda conversa vai ser fruto de grandes ideias, nem todas grandes ideias vão provar ser tão brilhantes assim, nem todos conseguem escrever poesia e nem todas as primeiras impressões são as que ficam). Mas a gente consegue aprender a viver assim, nos 99%. Algumas coisas simplesmente não merecem o estresse de chegar nos 100%. E acredite, esse 1% que você escolhe ignorar é o que faz a diferença - e te impede de perder a cabeça. 

É por causa dos seus pais/amigos/sociedade? Nem todo mundo se importa com o que você faz ou deixa de fazer. A maioria das pessoas que te conhece não poderia ligar menos se você realmente manda mal no karaokê. Ninguém - apesar do que seu cérebro vive dizendo - vive para te julgar, ou faz isso o tempo todo. Um pulso mais firme da sua parte pode argumentar com seus pais/amigos se eles te disserem o contrário, que você não serve pra nada. E se eles estiverem fazendo isso, lembre-se que: 1) seus pais estão usando meios nada ortodoxos para guiar sua educação, isso logicamente não pode lhe fazer bem no futuro, a raiz do seu problema é muito mais funda e você precisa de ajuda; e 2) preste atenção nessas suas companhias.

É por que você vive stalkeando o mundo das celebridades e a aparente perfeição deles lhe fascina/incomoda? Engraçado como esse mal é cada vez mais comum no nosso mundo adolescente. E sinto que ninguém tem dado a atenção que esse problema (de proporções colossais) merece, pelo impacto que ele exerce principalmente nas meninas da minha idade, pelo menos as que eu acompanho. Aos pais que continuam insistindo em ler meu blog, permitam-me explicar o que acontece: sua filha ama um artista. Na cabeça dela, esse homem (30+ anos, ator e/ou cantor, voz aveludada, intelecto massivo, 70% de chance de ser britânico, se for britânico, 90% de chance de ter maçãs do rosto proeminentes, traços exóticos e talento excepcional no que faz) é uma infinita causa de frustração. Ela adoraria conhecê-lo, mas como sua filha provavelmente é uma garota inteligente e sensata, sabe que nunca encontraria palavras para expressar sua admiração pelo seu trabalho etc. Ela gravita em volta do mundo desse(s) artista(s), tendo sua ligeira ou enorme obsessão atenuada por redes sociais de cunho alienador (mas não vou negar, divertidíssimas), como Twitter, Facebook e Tumblr. E na prospectiva de ter um hobby tão sem sentido, tão estranho, que vai lhe levar do nada a lugar nenhum, ela chora. Na linguagem fangirl, tais sentimentos podem ser expressos em frases como: "UGH YOUR FACE", "I JUST HAVE A LOT OF EMOTIONS", "ASDFGHJKL", "GO AWAY I HATE YOU", "I CAN'T", "OMG THE FEEEEELS" e "*dying whale noise*".

É preciso muito tempo de estudo para entender as motivações por trás destas exclamações e exatamente o que elas significam, mas uma coisa é certa: sua filha não está bem. Ela está vivendo em um mundo de fantasias onde gasta horas do seu dia sonhando acordada ensaiando entrevistas para o programa da Oprah, abraçando seu ídolo no meio da Times Square em plena noite de ano novo, dirigindo o mais novo sucesso da Broadway, em suma, fazendo tudo, absolutamente tudo que ela não deveria estar fazendo no momento, como seu dever de casa e/ou estudar para ser alguém na vida.

Não que essas meninas não achem isso importante, na verdade elas acham isso tão importante que ficam infelizes com a grande probabilidade de não serem alguém, não na realidade que elas gostariam (o que lembra muito o meu caso com o perfeccionismo). Comento isso porque leio coisas gritantes todo dia, de meninas do mundo todo com enorme potencial, mas que não conseguem canalizá-lo para tarefas mais úteis porque estão presas ao mundo do Fandom, assim com F maiúsculo.

Lembre-se: seu ídolo com certeza é um cara muito legal (o meu é), realmente teve a sorte grande de ter nascido com uma quantidade pra lá da sua generosa de beleza e carisma, atua/canta divinamente, você está muito certa em admirá-lo e acompanhar seu trabalho, mas quem vive a sua vida é você. Tenha-o como exemplo e inspiração, aprenda com o que ele tem a dizer, considere-o como mais uma fonte de conhecimento e motivação. Mas não como seu namorado/marido/alma gêmea/"seu". Porque ele não é. Na verdade, ele fica assustado quando ouve essas coisas. (P.S.: ele também peida).

Resumindo, gostaria de enfatizar o fato de é impossível matar uma ideia, não uma vez que ela tenha feito ninho e se instalado no seu cérebro. Tente analisar se sua "falta de talento" não é somente uma paranoia sua, peça a opinião de pessoas confiáveis. Erre. Erre muito. Erre demais e mais um pouco e continue tentando, mas de preferência, continue fracassando, porque se você fracassar eu vou gostar mais de você. Fracasse porque tudo bem se você fracassar.

Amasse o papel, comece o texto de novo, abordando-o de maneira diferente. Arranhe sons com seu violino até uma nota afinada sair. Pareça ridículo tentando aprender a Polca com vídeos do Youtube - com as cortinas fechadas, por favor. Esqueça a física, ela não vai te levar a lugar algum.

Continue a nadar, meu amigo, e lembre-se que você tem pessoas que sempre vão estar lá te apoiando, seja você mais um cidadão anônimo ou o Van Gogh do século XXI.

Lembre-se também que Van Gogh só vendeu 1 quadro em vida. Hoje uma de suas obras mais famosas é avaliada em mais de 85 milhões de dólares. Porque se você realmente tem talento, sempre existirá alguém pra apreciá-lo.
Se não, também.
Depende é de onde você procura.
O que, por sua vez, vai depender só e exclusivamente de você.

Mas que droga, eu não sei pintar.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Divagações e Reclamações,

de fato.

Numa medida desesperada de adquirir ~inspiração~ por meio da força bruta, decidi escrever pelas próximas semanas sobre tudo que me ocorrer ao longo dos dias. Absolutamente tudo, com todas as vírgulas e pingos nos is. Sem filtro, sem censura, sem noção. Aqueles pensamentos mais absurdos e reflexões inacabadas que te assombram (inexplicavelmente) bem no meio da sua prova de física. Todos eles e mais. Porque as ideias estão se esvaindo - e a gente tem que trabalhar com aquilo que tem.

No meu caso, o que eu tenho agora é uma câmera fotográfica, e já que não consigo encontrar no momento uma função social melhor para ela, acho que vou descrevê-la. É. Sabe, só para não perder o ritmo da escrita, aquela sensação boa de bater os dedos contra o teclado e produzir sons invisíveis. Bom, ela é grande, preta e tem uma tela enorme. É uma câmera muito boa. Acho que é só isso.

Certo, sem mais delongas, sinto que está na hora de desabafar. Meu dedão do pé direito está doendo faz uma semana. Talvez eu tenha topado feio em algum lugar, mas talvez eu tenha torcido, assim, só o dedo. O que eu sei mesmo é que eu fui mal na prova de matemática hoje, e não poderia ligar menos para isso. Sinto que nunca aprendi o que é uma cotangente na minha vida e prefiro continuar assim.

Por outro lado, eu estava caminhando em direção ao carro quando cheguei à conclusão de que a vida é, sim, de fato, bela. Uma pena mesmo que o Sol estava de lascar e agora eu não tenho certeza se posso considerar isso uma conclusão válida e transformadora ou um devaneio provocado por insolação.

De qualquer forma, sinto que fui produtiva hoje - e isso é sempre bom - ao assistir um documentário da BBC sobre Van Gogh (Painted With Words) e maravilhar por algumas horas sobre o espetáculo que é o nosso universo. Ao tentar traduzir tais sentimentos tão profundos em palavras singelas e poéticas, falhei brilhantemente logo no primeiro parágrafo e desisti, alegando que não estou no clima para fazer alegorias.

Mas meu cérebro, perversa máquina como é, continuou me atormentando pelo resto da tarde, mandando meu corpo marchar de volta para o computador, sentar minha bunda na cadeira, abrir um documento no Word e só levantar se sair nada menos do que Shakespeare de lá. São quase 11 da noite e eu continuo sentada, o que só pode significar só uma coisa.

Acho que eu ainda vou passar muito tempo por aqui.

Não faz mal, porque estou visivelmente preocupada com o que está acontecendo no mundo real, esse mundo em que vocês vivem, em que estão acontecendo as eleições para presidente dos Estados Unidos, e eu não consigo tomar coragem para abrir qualquer página no Google e ver quem ganhou. De repente minha cadeira parece muito mais confortável e meu dedo muito menos dolorido.

Rebobinando um pouco o assunto, Van Gogh foi um homem perturbado, depressivo, possivelmente daltônico porém indubitavelmente brilhante que teve a infelicidade de nascer na hora errada/viver sem os contatos certos em uma época de transformação, talvez a mais importante de todas, quando o homem ainda estava testando e aprimorando essas coisas que hoje a gente nem liga mais.

O que me faz refletir sobre a importância da televisão. E como a gente só dá valor depois que perde, fico aqui morrendo de vontade de assistir o Jô justamente quando a Sky não está funcionando. Já faz uma semana, essa novela. Tudo isso por causa da mini Sandy que atingiu a minha cidade, mas isso é outra história e dá até preguiça de pensar.

Incrível a inevitabilidade do ciclo da vida.

Comecei falando sobre preguiça de pensar, passei por câmeras, dedões, pintores impressionistas e todo o universo - e voltei adivinha pra onde.

Não sei quando essa maré baixa de ~inspiração~ e inundação de vai passar, mas se puder escolher, que de preferência seja logo, porque não aguento mais correr pela casa desesperada com a minha câmera na mão topando nos móveis e
                                                         descendo
                                                                      pelas
                                                                            escadas,
tentando achar as cores de Van Gogh em todo lugar. É ligeiramente desconcertante e eu realmente tenho mais o que fazer.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A post about penguins

Socially awkward penguin in natural habitat

In a world where social awkwardness and speech restraint are a rule among the ordinary folks (us) in everyday situations, it's not really a surprise to conclude that oh my god, how weird we all are. What is it about these politicians and celebrities who always seem to know the right thing to say? The exact thing to say - yes, that spot-on comment that instantly turns a casual conversation into something hilarious, highly interesting, or very, very clever. Why does it work for them and not us? What's lacking in us? What blocks us? Or even - how are they superior?

I only wish I knew. If I did, believe me, I wouldn't tell ya. I would be there, enjoying the marvels of being extroverted and fierce and oh so cool, making friends in every queue and boasting my social skills in your face. Gladly, for all of us, I am no such thing. I am incredibly awkward, and the only thing that makes me feel better is knowing that you are too.

Why are we like this, I ask again. Why is it so hard to talk to people we don't know? How do we even befriend anyone, for instance, since we never seem to know what to say? How do we calculate how much we can say to someone we've just met? What's allowed and what's not? Which is an intimate question - and therefore to be avoided - and which is okay to ask? How do we greet? How long do we say goodbye? And yes, the latter is important and extremely relevant, have you ever realised that we take, like, minutes to perform the ancient and long ritual of parting?

You are there, you know, talking, when you suddenly feel the urge to leave. ASAP. So what do you do?  You raise your watch and and exclaim, "Oh, look at the time!". Because, you know, you are always late. You really want to keep talking to that person, because they are always very interesting, but time isn't allowing. You must be somewhere else. Not here. 

And you say that aloud. In that condescending tone. You apologise, solemnly polite, in a flattering manner, praising all that person's qualities, and how do you always want to be by their side, but can't. And very reluctantly, you say goodbye. They also say goodbye. You say you'll keep in touch. They say it was nice talking to you again. You say see ya. They send lots of kisses to your granny. You say goodbye again. They say goodbye. You turn to your back and start walking away, walking away. You realise, surprised, that both of you are following the same direction. You joke about that, the spirited person you are. You feel like dreading dangerous waters. God, what do I do. You panic. They keep walking by your side. You turn to a corner you don't actually know where it leads. You actually don't know where you are anymore. But it's okay, because you are oh so relieved it doesn't matter.

See? People dance around each other and the steps are so stupidly complicated and well-rehearsed. We all know these tricks but no one taught us that. It's not in a book, although it should be. Life happened and we happened to learn how to act, end of story.

I'm kind of okay with that. I understand. It's awfully necessary.

But today there I was in the lift, praying for no one to call it too while I was still there. You know the feeling. You also think lifts are supposed to make one trip at time - they're not supposed to catch anyone else in the middle of the way. Only you. Alone. Because it means you won't be found in any embarrassing situation with strangers. You won't be locked in a box with someone you don't know - neither want to know. 

And you won't be found staring at your phone, moving slightly to your sides, typing to your imaginary friend, trying to be casual about the whole thing. You know you are tense. The lift exhales tension and it's very heavy. You already said "good morning", and you are now planning what to say when you leave. You can't just leave. You need to say something otherwise it will sound rude. But the problem is - you already said good morning. You can't say that again. What will I say, you ask the clever part of your brain. It instantly replies: bye. 

But sometimes, you just know you can't say bye. There are situations and situations. Especially if the trip was long and you already muttered it was "bloody cold". So you panic. And you end up by saying bye, leaving quickly to catch whatever transport it is you're supposed to get.

Life's funny.

The funniest thing is - it's universal. There are universal signs of affliction, such as there are for happiness and boredom and "leave me alone, jerk". How did we all learn that? How are we so alike and yet so different? How? Why?

See, even funnier.

I wish I were cool and all of that, but now I realised we all deep down are insecure about ourselves. Even , you know, Obama. And he showed that recently, didn't he? I mean, the man must have lots of people working for him and telling him the best way to proceed in these stressful moments of his life, and of course, a hell of a high-quality education so he's almost never caught out of guard, but, hey, he's still only human.

A perturbed, confused, flawed human, like you and I. Well, I hope he is, anyway.

I've been thinking too much, researching even more and analysing a lot the the diversity of human façades and the way they vary from person to person and country to country. I'm paranoid about it.

The British always complain about this unfortunate trait of themselves - social awkwardness - but it is not exclusive. Let me tell you the conclusion I've got from my thorough research - we're all fucking weirdos. And that's it.

More of Socially Awkward Penguin Meme here.

sábado, 22 de setembro de 2012

Numb

Not a single thought as I circle around the tabs, one by one, before landing again on the first, hoping for something new, something exciting, something worth seeing. I refresh the page. Nothing. The same on the next one, nothing. And, oh, here's something funny - laugh, reblog. Pretend I laugh - always reblog. When the rush of excitement is gone, the cycle restarts.

Shit on Twitter, shit on Facebook, shit everywhere, why even bother? Oh, of course - there isn't anything left to do. Wait, there is. There is much to be done, lots of homework, study for exams, gym, feed the dog, iron that lovely dress, there's always something. Not that I bother - I really don't. What is it going on, then?, I ask myself once the Internet is down. There's a major storm outside. I feel like I'm losing a moment of importance. Something's happening online and I'm not able to see it. It feels awful. I feel annoyed.

Not that I'm addicted - I'm really not. It is common knowlodge that I can live without it, thank you very much, when there's anything more exciting going on in the living world. Well, a storm isn't exciting, it is rather inconvenient. So I stay here, conformed.

Why are people so simple-minded?, I ask as I try to reconnect the wifi. Not that I'm brilliant myself, but at least I know my way out of bad situations. It's something I've always been quite proud of. You know, being pratical and such. Okay, so it can't be that hard. Yes, put the damn laptop down and concentrate. Focus. What are you feeling?, I ask. Is it really me?

The sound of the words resonates at all corners of my brain. Its echo die after a few moments of pure shock. What were you thinking?, that strange voice asks again. Nothing, that's why. I was thinking about nothing, because there was nothing to be thought about. Blank mind. Scrolling around the tabs. Robot-alike. Mechanically laughing, unconsciously moving, eyes darting and rolling through words of unimportance and status on useless social networks. Numb. I feel numb, I answer that first question.

Why don't you quit it, then, if you hate it so much?, I ask surprisingly, suddenly awake. Well, it's difficult, I try to elaborate. It's all I know, you know. I mean, everyone I know, it's what they're doing. They're over there being shit, and I don't want to feel alone. It's not that I follow them, it's not like they're actually my friends - not in the literal sense, though, because indeed I follow them and am friends with them... virtually. It's just - I don't know. I don't know anyone else. That's why I'm still here, trying to understand what they're doing, like it's a scientific experiment, but slowly becoming like them. Oh, no. The thought strikes me hard. Not becoming like them, no, not that, not ever. Here's something I'd hate. Hard.

What is this interrogation even about?, I don't know who asks. What are you even rambling about?, both of us ask. I have no idea, the confused me answers sincerely.

I thought we were having this conversation because you were feeling numb, the reasonable me clarifies. I thought we were having this conversation because my Internet is down, the confused me says. Exactly, reason exclaims.

Why don't we talk more?, says reason. You're almost never home.
I'm always at home.
That's not what I was meant.
I know.
We hate it when we don't think, when we're not connected, part of a whole.
I know that too.
Then what's going on?
I don't know.
Think.
I can't.
Why?
Nevermind.
I'm your mind.
You're not helping. You are supposed to be the smart one, not me, then get me out of this. I don't think I can handle it any longer.
This what?
This numbness. It makes me... not think.
So you admit you feel numb.
I never said otherwise.
And how does it feel?
Empty. You wouldn't know the feeling, for you are the the mightiest of them all.
Don't be ridiculous. Still, empty disgusts me. If that's how you feel, then I must rescue you from this nothingness, for you are part of me, even though a not very sensible one. Leave me room to think. Don't panic while I'm out.
Okay.


Back. Got the solution, my dear. Rejoyce. I know exactly what you need. What both of us need. That one kick to bring us back in the game. The remedy - though not the bitter and nasty one - but that spoonful of sugar that makes the medicine go down. Swallow, now. Feeling better?
Yes, what was that?
An idea.
You planted an idea on me?
One you can hardly forget.
Why on earth would I forget it, anyway?
Because you're not awake. People often forget what they dream. Or divagate about. Seems ironic, don't you think? People remember silly things like catchy and stupid lyrics, but forget such important pieces of advice. They ignore it. Will you ignore me again?
I'll try not to. When did I go to sleep?
You're not actually sleeping. You are right now staring at the rain in the window, still feeling numb. Your body is there but the mind is here. It's already an improvement. Before it, your mind was nowhere to be found. You were, for all interpretations, lost.
Oh.
That's right.
I'll do my best not to be again, I promise.
That's what we all hope.


Wet. My face is wet. I am not crying, but still it is quite literally raining in my face. I close the window. I check the connection. Down. I feel like I am missing a moment of great importance, but can't remember exactly what. Numb. I feel numb. For a second, there's nothing again.

But then, from the quiet waves of nothingness, I see something shiny floating in the water, coming at me. I grab it. It's a bottle and there's something written inside. It's big, it isn't a note. It's a book. A very good book. One of those I used to read when I used to care. I miss the old times, I think.

Somehow I get it out of the bottle and start reading it, just to remember how it felt like. It felt good. I feel like I need to thank someone for handing it to me. I don't know who. Maybe me, I suppose. Maybe I'm the one who brought it back, who threw it away in the first place, angry. Anyway, it's here now.

I snugle it close and sit down comfortably. This actually feels very good. Feels like... something. Not nothing. Nothing is quite bad. I pass through chapter one and it's wonderful. Chapter two is still amazing. But then there's something that is quite not letting me focus entirely, not letting me drown in the feeling the book's offering so kindly. Something that's making me think dreadful things, not focus. Not think. I keep reading it, words being read but no understood. There's something wrong and I can't tell what it is. I don't even notice it. I keep reading.

Not a single thought as I scroll through the pages, barely absorbing the story. Eyes darting around the paragraphs, hands mechanically holding the object in place. Fingers passing the pages around, one by one. Numb. I feel numb. 

I don't even know it.

Somewhere in the depths of my mind, a third voice is laughing maniacally at my disgrace.


Who's your favourite?


"It's Maddie vs Daddy as I interrogate my baby daughter to reveal her favourite parent. What takes place is a ruthless contest of cunning and skill... with one of us clearly out of our league."

- Oh, look, it's one more video about adorable little human beings I just can't stop watching. Lovely, though.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Envelheço na cidade

Talvez mal humor seja uma doença, não sei. Um estado de espírito constante inerente ao meu ser. Não sinto que seja inteiramente minha culpa. Na verdade, encontro diversas explicações para o meu mal humor, uma mais criativa que a outra.

Só sei que sou, por natureza, uma pessoal mal-humorada. Meu mau humor é dividido em partes: sou mal-humorada ao acordar e por todo período das manhãs. Mas isso é comum e compreensível. Sou mal-humorada quando preciso tolerar outros espécimes da raça humana em fase da adolescência. Sou mal-humorada ao dormir, porque não consigo.

Sou daquelas que quando atingem a fase REM do sono, nem adianta gritar, porque eu já me encontro a camadas e camadas de distância no meu subconsciente (vide post sobre a vez que quase morri inalando gás de cozinha) e não planejo sair desse estado pesado de espírito tão cedo. E se alguém consegue a proeza de me acordar, não respondo por mim.

Mal-humor é a minha resposta instintiva para tudo, o que significa que toda vez que sou legal, na verdade estou tentando me controlar para não ser rude e estou ciente disso - me esforçando, até.

Mas por que eu sou assim? E como mudar? O que será que me incomoda tanto a ponto de viver na beira de um ataque de nervos?

Let's examine this a bit further, shall we?
Talvez o problema esteja nesta cidade. É quente e chata e nada promissora. Na verdade, odeio o fato de acordar todos os dias e ainda me encontrar aqui. Mas essa é somente a generalização do meu problema. Existem muitas outras pequenas coisas que me deixam mal-humorada, além da cidade, ou por conta da cidade, ou vice-versa, ou whatever.

Talvez o problema esteja na minha rotina. Já que não há muitas opções na cidade (olha ela aí de novo), fico limitada aos mesmos programas todos os dias. E então, acordar para enfrentar um novo dia passa a ser um martírio. Só de imaginar que ainda faltam muitas horas de absoluto nada pela frente, já sinto arrepios. Sensação de vazio na alma.

Talvez o problema esteja nas pessoas e no fato de que me cansei de todas elas. Mas então surge a reviravolta na história, pois o problema volta para mim, e eu percebo que ele está em mim. Nãos nas pessoas. As pessoas estão sendo felizes vivendo a vida delas.

Eu estou simplesmente no lugar errado.
Talvez isso explique muita coisa.

Tic tac tic tac

A Bela Adormecida (ou por que eu odeio gatos)

Levei o maior susto hoje. A partir da minha experiência, fica o recado: prestem muita atenção na hora de mexer no fogão. Tenham certeza de que todas as bocas estão desligadas depois de cozinhar. Porque vai que qualquer dia desses acontece uma tragédia daquelas bem ridículas, e aí, meu amigo, já era.

Meu fogão tem duas bocas que não funcionam, só que eu nunca sei quais. Vou testando aleatoriamente até uma acender, só então apago o resto. Ontem fui fazer comida e acidentalmente deixei uma das bocas ligadas - nem minha mãe percebeu. Como as janelas estavam abertas naquela hora, ninguém percebeu o cheiro do gás (que não é tecnicamente o cheiro do gás, mas deixemos simples e objetiva esta narração). 

Só que como o capiroto é forte,  a Lei de Murphy é infalível e o azar é tremendo, justamente nesse dia minha mãe resolveu fechar todas as portas, janelas e a varanda do apartamento, já que a doida da gata da minha vizinha adora ficar passeando pela varanda e entrando na nossa casa.

Logo no dia que o nosso gás resolve vazar e transformar a casa toda numa gigante e concentrada arma tóxica bem compactada. Ê, glória.

A princípio, realmente nem percebi. Pra falar a verdade, não percebi mesmo, tanto que fui dormir me sentindo meio tonta, mas o cheiro estranho nem me passou pela cabeça. Idiota como sou, me enrolei no edredom e inconscientemente abracei a morte de bom grado.

Só quando foi 1:30 da madrugada, minha mãe acordou com o barulho do gás vazando (ela não sente cheiros). E também com o barulho da nossa vizinha praticamente arrombando a nossa porta, gritando pra Jesus salvar a gente, interfonando para o porteiro. Nessa hora, eles já estavam planejando cortar o gás do prédio todo. E eu dormindo, lá, feliz, sem respirar.

Minha mãe abriu a porta e a mulher entrou, de olhos bem vermelhos, louvando ao Senhor porque "ela ainda vive!", e só então que ela percebeu que realmente havia algo muito errado - nessa hora ela "sentiu" o cheiro e sentiu vontade de desmaiar. Fecharam a boca do fogão. Acho que se alguém soltasse um peido, a casa explodia.

Mas aí que vem a pior parte: a pobre de minha mãe então lembrou de mim, de pernas bambas, e quase mandou a vizinha ir checar se eu "ainda vivia!", porque ela mesma não conseguia se mexer de tão forte o choque.

Enquanto isso, eu delirava no meu quarto, enebriada pelo gás, pensando na efemeridade da minha existência, ou talvez eu estava pensando o quanto essa porra de cidade é quente. Nunca saberei.

Minha mãe entra no quarto e eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Ela começou a falar do gás, e o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi "Vai explodir", e me enrolar ainda mais no lençol, desinteressada. Acho que são nesses momentos que nós realmente nos conhecemos como pessoas, nossos desejos e ambições. Minha primeira reação à iminência da morte foi deixar a ideia de lado porque eu tava com sono e queria continuar a dormir. Sem instinto algum de sobrevivência, a burra aqui. Mais uma vez - ê, glória.

Coitada da minha mãe, que ficou me encarando por cinco minutos até eu perceber que estava tentando voltar a respirar normalmente, só que com muita dificuldade. Eu ainda nem tinha assimilado a ideia do gás, e agora estava quase a expulsando do meu quarto, sem entender o que ela estava fazendo lá assustadoramente me olhando.

A história acaba aí, mas foi de manhã cedo que surgiram as implicações daquilo tudo na minha cabeça. Só de manhã cedo, quando acordei para ir pro colégio fazer prova de física, que percebi que se não fosse pela vizinha, provavelmente eu teria sufocado com o gás e morrido lá mesmo no meu quarto, que é o mais próximo da cozinha. Dormindo. Sem aviso, sem nada. Só teria ido dormir pra não acordar nunca mais. E foi então que senti o peso tremendo da coisa.

Fui sentindo aos pouquinhos, na verdade, pra processar bem as consequências da minha quase-morte bizarra. Comecei com coisas menores:
1 - Se eu tivesse morrido, não faria a prova de física de hoje.
2 - Espera. Se eu tivesse morrido, nunca mais faria outra prova de física.

Para maiores:
1 - Se eu tivesse morrido, minha mãe (esse foi o final da frase).
2 - Se eu tivesse morrido, meu pai que está de viagem teria que ter voltado às pressas pra cá.
3 - Se eu tivesse morrido, basicamente, a minha família toda ia ficar uma bagunça.
4 - Se eu tivesse morrido, iriam ter aquelas missas que eu detesto, gente chorando à minha volta e pessoas dizendo que agora eu descansava em paz, porque estava mais perto do Criador. Assim eu faço até questão de não morrer nunca mais só pra não ter que passar por essa provocação. 

Afinal, eu teria morrido.... assim. De repente. Nem trabalho de Deus, nem do capiroto, e se precisamos mesmo culpar alguém, culpemos a gata da vizinha.

Eu também nunca iria assistir a temporada 3 de Sherlock. Acho que foi nessa hora que a ficha caiu.

Rio agora porque não deu em nada (ou brinco pra não chorar). Estou viva, estou bem, respiro, odeio gatos mais do que nunca, com todas as minhas forças, minha casa está novamente inofensiva. Tudo de boa na lagoa. Mas fica a experiência, e com essa tenham certeza que eu aprendi. 

Não esqueçam de checar seu fogão, pessoal.
Porque vai que....


sábado, 8 de setembro de 2012

Escrever é um martírio

e dói.

Dá peso na consciência, fere o orgulho, beira a decepção, dá vontade de desistir, de jogar tudo pro alto, de abaixar a cabeça e dizer "Eu não sou boa o bastante'", de se endireitar de novo, torcer o nariz e ter a audácia de dizer "Eu não preciso disso", quando no final você sabe que tudo não passa de uma ridícula desculpa para a sua falta de talento, ou sua momentânea perda de jeito com as palavras. Ou para a sua preguiça e falta de verdade - mas isso a gente abafa.

De qualquer forma, dói. Dói passar minutos - horas - encarando a página em branco, começando e recomeçando, descartando ideias (uma pior do que a outra), tentando se colocar no lugar do leitor - o que eu gostaria de ler? - e reescrevendo, editando, apagando, copiando e colando, apagando tudo de novo, voltando pro zero, indo com fé, publicando - ou jogando no lixo de vez.

Tem gente que acha que eu adoro escrever. Não é bem assim. Eu me forço a escrever porque eu preciso escrever. É praticamente uma técnica de autodefesa - e de autoconhecimento. Escrever significa entender os seus limites, saber o quanto você sabe, de quantas formas diferentes você consegue transmitir aquilo que sabe, se você é capaz de fazer alguém rir ou chorar - ou querer bater na sua cabeça com um tijolo (repetidamente) - ou até mesmo encantar, inspirar, sorrir, deixar leve pelo resto do dia. Essa é a parte boa do trabalho. É uma pena que ela só venha depois, depois da guerra contra o teclado, e em muitos casos, o feedback nunca alcança o autor de volta... e em muitos outros desmotivantes casos, nem vem - porque ninguém leu.

É deprimente gastar tanto do seu tempo útil, ter tanto trabalho para escrever uma história, quebrar a cabeça procurando metáforas, subplots, mensagens subliminares, tentar encaixar todas as pontas soltas no final, rimar, rimar decentemente, tornar algo emocionante, despertar sentimentos, procurar maneiras de deixar a narrativa mais rápida, lembrar da palavra certa - enfim. É complicado fazer tudo isso - e fazer bem. É difícil escrever algo que te faça ter orgulho no final - e bater no peito e exclamar "eu que fiz".

Mas pior ainda, é fazer isso tudo e ninguém perceber. É claro que isso é uma coisa que todos nós, escritores, temos que passar, já que ninguém é obrigado a desvendar todos os mistérios de mais outro texto/história qualquer. Não que isso torne isso menos ruim - continua sendo péssimo.

Mais uma vez - são os ossos do ofício.
É sempre importante lembrar, porém, que se o mundo dá as costas para você - como já diria o grande filósofo Timão, esse mesmo do Rei Leão - o que você faz? Você dá as costas para o mundo. E continua escrevendo. Porque uma hora - uma hora vai sair. E a dor vai ser uma daquelas dores boas, que prejudicam mas não paralisam, sabem? Igual dor de crescimento.

E como eu escrevo?
Mais ou menos assim, para quem está curioso.
Primeiro eu fico vasculhando tudo e todos por semanas até a ideia vir, E QUANDO ELA VEM, preciso escrever urgentemente todas as palavras-chaves que me aparecem, num documento à parte. A partir daí, tento escrever cenas aleatórias, aquelas que se destacaram mais no processo de criação, mas sem qualquer tipo de refinamento. A narrativa, nesse estágio, é bem medíocre, com palavras e expressões comuns e ordinárias, realmente nada de especial. Dá até vontade de desistir olhando pro meu texto assim, tão pobre, mas preciso constantemente me lembrar que a página é só um rascunho, que ainda não está terminado. A razão de escrever assim é justamente para não me perder no meio das ideias, é saber para onde estou indo com a minha história - e como exatamente vou chegar lá.

Depois de tudo escrito, vem o processo de embelezamento, refinamento. É - muitas vezes literalmente - ir apagando tudo e escrevendo um novo parágrafo logo embaixo do parágrafo original, adicionando a maior parte dos adjetivos, advérbios, expressões, piadas, etc. Quando satisfeita, releio tudo - mais uma vez - e procuro alguma parte (algum probleminha) que ficou sem solução, que não foi explorado muito bem, que tinha potencial para ser engraçado ou poético.

Numericamente falando, releio uma fanfiction minha, por exemplo, umas 20 vezes por inteiro antes de publicá-la. Um post normal no blog, 2 vezes. Uma crônica, 4 vezes. E releio tanto que a história passa a nem ter mais graça, por isso nem tenho mais noção do que realmente ficou legal, se eu realmente consegui passar a emoção que eu queria. Nessas horas peço por uma segunda opinião. Sempre peço para alguém ler qualquer história minha antes postar, porque uma crítica (positiva ou negativa) nesse estágio é algo crucial para o sucesso da coisa. Raiva da sua história também é uma reação normal durante o processo de escrita, todo autor odeia seu texto no momento em que termina, é fato, todos sabem.

Mas é nessa hora vem o primeiro feedback, e esse a gente nunca esquece. E a dor fica boa, lembra?


Por que falar isso agora? Não faço a menor ideia. Talvez simplesmente porque eu posso. Talvez porque seja fácil. Talvez porque eu esteja conseguindo.

Talvez - mais provavelmente - porque eu esteja me forçando.

Mas, enfim, SAIU.

sábado, 1 de setembro de 2012

Drama, drama, drama

Quarta-feira coisas muito estranhas aconteceram comigo.

Primeiro eu estava andando calmamente, até que comecei a correr em círculos sem nenhum motivo aparente, só que aí o meu pé esquerdo ficou preso no chão e eu tive que arrancá-lo de lá, o que teve que ser bem rápido porque de repente o chão ficou mole e começou a queimar, aí eu tive que mancar pela sala porque os meus dois pés agora estavam em carne-viva, e tudo doía muito, até que eu lembrei da aula de química e tive que me arrastar até a porta e me jogar no chão, mas foi então que eu lembrei que estava com muita vontade de ir ao banheiro, só que a maçaneta estava emperrada e eu tive que arrombar a porta, o problema era que não tinha papel e tinha um presente esperando por mim no vaso.

Depois de aliviada, resolvi dormir e acordei ao som de pássaros com diarreia, no meio do mato, cheia de folhas à minha volta, e me espreguicei por vários minutos, até lembrar da aula de química - porque também aparentemente tenho uma todo dia - e me joguei no chão de novo.

Foi nesse momento que a professora mandou a gente se levantar, porque a encenação tinha ficado realmente muito boa, mas felizmente havia chegado ao final. Sim, era uma dinâmica de teatro, eu não fumei maconha.

Estava mais do que na hora de eu começar a fazer aulas de teatro, mas ainda não sei direito o que penso a respeito delas. Mas isso deve-se também ao fato de que eu nunca consigo terminar nada do que começo, por preguiça ou falta de interesse mesmo - e isso não pode acontecer dessa vez. Porque, porque o teatro é importante para mim.

Adoro atuar. Não considero atividade como um hobby, mas como um estilo de vida. Saber usar a sobrancelha certa, na hora certa, com tom de voz certo, e o movimento certo com as mãos para intensificar, potencializar e maximizar o poder de uma fala, opinião ou gesto. E assim chamar a atenção das pessoas.

É claro que teatro não é só isso, e são os detalhes que me preocupam. Se de fato é uma coisa que eu desejo levar adiante, então preciso entender também a importância da expressão corporal, como me portar em cena, como não sofrer um ataque de nervos no palco, como improvisar, o que fazer com meus braços etc.

E ainda ter que sofrer com as dinâmicas de grupo. Para atuar, como muitos sabem, a química é tudo. Então é preciso conhecer e se sentir confortável com seus colegas - o que leva tempo e esforço - para ter realismo maior na atuação. E por isso nos submetemos a brincadeiras aparentemente bobas em que temos que correr de um lado para o outro, ou então ficar batendo palmas para alguém que está na sua esquerda toda vez que vier o sinal, ou simplesmente ficar encarando o outro pelo maior tempo possível sem rir ou desviar o olhar.

São as famosas excentricidades do teatro que finalmente se revelam. Está aí uma faceta do teatro que realmente não tem apelo algum para mim, não vejo o sentido. Aprofundando o pensamento, eu realmente nunca liguei muito para as excentricidades,  ou para o glamour, ou para o "standing ovation"  no final de cada peça - nunca foram meu objetivo ao atuar, e não sei se isso torna o meu desejo e dedicação menor do que os dos outros aspirantes a atores, não tenho ainda como saber. O que eu realmente me interesso é em poder me tornar outra pessoa, adquirir suas manias e trejeitos. É seguir um roteiro, é animar, emocionar e entreter. Isso, é claro, se eu tiver o talento o suficiente para tal. Novamente, não tenho ainda como saber direito.

Resumindo, minha experiência com o teatro de verdade beira o zero, mas não a minha experiência em atuação. Gosto de pensar que só está faltando oficializar a relação para ela ser de verdade verdadeira, sem ninguém poder contestar.

Só espero não ter que pedir um divórcio forçado em um futuro próximo, e passar por uma dolorosa separação. Tudo por causa da minha falta de esforço e indiferença quanto ao nosso casamento. Pois sei que continuarei amando o teatro, perto ou longe, e não poderei evitar em pensar que foi minha, minha culpa somente, por ser tão volúvel e apressada. E viverei sozinha em aflição, carregando o peso da consciência do que poderia ter sido, mas nunca foi, e jamais será.

Eita, drama.

Próxima aula é na terça-feira.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

É Precipitado e Equivocado


A procrastinação define a minha vida. Provavelmente a sua também, embora talvez você nunca tenha pensado nisso. E sabe por que você nunca pensou? Porque estava procrastinando.

Antes de esclarecer para os leigos o significado dessa palavra tão sonora e gostosa de falar, gostaria de comentar... justamente isso. Repitam depois de mim: Procrastinação. Ai, delícia. Espera, foco.

Talvez seja o "erre" duplo e forte como em "frustração", talvez seja o fato de que eu pareça mais intelectual toda vez que eu a aplico casualmente em uma conversa, só sei que a palavra procrastinação parece indicar um estado agradável, relaxado e distraído dentro da mente (como em "divagação), por isso aparentemente é uma palavra boa. Só que não exatamente. Só que não.

Na verdade, o ato de procrastinar significa adiar ou deferir algo. O seu dever de casa, por exemplo. E em vez de lhe deixar feliz, você se sente estressado, com sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros - seres normais de cabeça pequena que apesar de tudo cumprem com seus compromissos e responsabilidades. E como resultado, você pode ainda sofrer de ansiedade crônica (ou coisas piores), se isso de alguma forma coisa impedir no funcionamento normal das suas ações no dia a dia.

Não parece mais tão bonito agora, né? Procrastine só pra 'cê ver.

Eu poderia explicar como funciona essa batalha de vontades na mente - na verdade é uma coisa bem divertida -, eu poderia até fazer um diálogo esperto, sarcástico e engraçado estrelando meu córtex pré-frontal (que basicamente controla as recompensas à longo prazo) e meu lobo pré-frontal (que é basicamente a porra louca do cérebro), eu poderia até fazer umas metáforas bem elaboradas para explicar o meu pequeno problema de desvio de atenção - mas é que eu estou com preguiça.

Agora, vamos passar para a parte que interessa e ver onde você se encaixa, shall we? Existem dois tipos de procrastinad

Desculpa, começou a tocar o Kuduro na novela e eu tive que parar pra dançar. Enfim, onde eu... ah, sim. Existem dois tipos de procastinadores:

O Tipo Relaxado
É aquele cara que sabe das suas responsabilidades, mas as renuncia em função de outras atividades mais prazerosas. Basicamente, é ter aquela pesquisa chata de Biologia pra fazer, ligar o computador, abrir o Google... e assistir aquele vídeo de gatinhos fofos voadores. O termo que mais tem a ver com essa forma de procrastinação é a "negação". Ou seja, você pode até aparentar não estar preocupado com os prazos, mas isso é apenas ilusório - é apenas uma evasão. Enfim, Freud explica.

O Tipo Tenso-Nervoso
Pressão. Ansiedade. Medo irracional de nunca ser bom o suficiente. Incapacidade de esvaziar a cabeça. É tenso. 

Para o pessoal do tique-tique nervoso, a vida é um completo estresse. E agora vou me aprofundar um pouquinho mais, porque meio que vem do coração. E se vem do coração - e não da mente - fica mais fácil, certo? Espera... não.

Talvez "perfeccionismo" seja o termo mais indicado para resumir esse tipo de procrastinador. Ou "angústia". Na verdade, tanto faz. O que importa é que é um sentimento bem ruim. E por bem ruim, eu quero dizer péssimo. É viver dominado por alguma pressão irreal/ imaginária, pensando que nunca há tempo o suficiente, que falta a habilidade, o talento ou a atenção para realizar suas atividades - desde prestar atenção nas aulas de Física a escrever um texto no blog - e no geral, sempre estar cercado de sentimentos negativos, da apreensão à proximidade iminente e inevitável... do fracasso.

O relaxamento de quem é ligeiramente perturbado assim é geralmente descrito como "temporário e inefetivo". O que significa que tentar relaxar deixa a pessoa mais estressada durante o processo, porque o cérebro realmente nunca desliga e volta para te culpar mais tarde. Essa pessoa também se sente bastante desconfortável no meio de outras mais confiantes e eloquentes, por ser tão incerta de si mesma, o que pode levar até a depressão. 

No meu caso, espero nunca chegar tão longe assim, afinal, eu também me distraio dançando o Kuduro ou assistindo a um show de gatinhos voando em 3D na minha tela. E também - embora tentativa e nada confiante -, procuro de fato aprender com as pessoas mais inteligentes que eu. O tempo todo. De uma forma bem paranoica, eu sei, hey, é um começo. Pra ser sincera, eu gasto cerca de 2 horas do meu dia ensaiando conversas, discursos, palestras, peças, reproduzindo citações de coisas que acho interessante, cantando, treinando todos os meus sotaques - só para as pessoas me acharem mais interessante também.  Ou continuarem a me achar interessante como sempre fizeram. Mal sabem elas. Afinal, querendo ou não, a pressão em mim sempre foi do tamanho de uma bigorna. Amarrada num piano. Sendo tocado por um elefante. De sainha rosa. 

Contextualizando, a pata do elefante vem dos meus pais. As teclas do piano vem dos amigos. A sainha rosa vem da imaginação. O mar que a bigorna cai dentro é a sociedade. E o resto é tudo eu, mesmo. A minha pressão - de mim para mim.

Patológico ou não, vocês tem que admitir que é frustrante (porque eu tinha que usar essa palavra até o final do post). E que eu preciso "relaxar". 

Ou então fazer um tratamento de choque, que tal?

Vai funcionar assim: vocês me chutam toda vez que eu falar que vou escrever um texto e não o fizer, pelo motivo que for. Vocês vão me incentivar (jogar um microfone na minha mão e me empurrar pro palco) a falar mais com as pessoas e a expor melhor os meus argumentos. Vocês vão jogar livros em português na minha cara e dizer que está tudo se bem se eu dedicar mais tempo à minha língua materna, e que as outras não vão fugir, e que vai sim dar tempo de aprender e dominar tudo que falta antes do 23. Ou 21. Pensando melhor, 20.

E, no geral, se eu começar a surtar, também por motivos variados (exemplos: faculdade, incapacidade de escrever sobre determinado assunto, Sherlock), me dê um abraço (ou me puxe pelo pescoço) e diga "Não se preocupe. Nada vai dar certo". Eu me sentirei muito melhor após obter essa confirmação - e assim eventualmente pararei com a "nóia", já que a vida realmente é curta porém bela, e essas coisas.

Ou então eu simplesmente morrerei de ataque de pânico qualquer dia dess

sábado, 11 de agosto de 2012

Oh, that´s Brazilian for "Suck it"


É feio não saber perder - se jogar no chão, quebrar a raquete, chorar, puxar os cabelos, vaiar a torcida adversária, xingar Deus e o mundo na rede de televisão mais próxima. É suficiente para deixar qualquer nação roxa de vergonha. 

Mas tão feio quanto - e aí que está o problema - é não saber ganhar. Convenhamos, ganhar é muito bom.  Principalmente dos americanos, não vou mentir. Saber o quanto merecemos a vitória, o quanto nos esforçamos para o ouro, seja na quadra, seja na torcida, seja pulando na frente da TV, isso sim não tem preço. Ver o Brasil todo na mesma batida, na base do "guenta, coração", famílias se abraçando, redes sociais indo à loucura.

Todos com "muito orgulho de ser brasileiro".

Certo, certo, eu entendo, é a emoção do momento. Como eu disse, é ótimo ganhar. Mas de que adianta endeusar o Brasil hoje para amanhã já recomeçar o processo de rejeitar/menosprezar/diminuir tudo que é nacional e dizer que aqui nada presta mesmo? Mas esqueçam esse argumento por ora. Nem eu sou adepta dele, já que patriotismo não é comigo.

Mas é que não é isso... é que o povo ainda exagera. E aí é que entra o tão famoso, o tão rude, o tão  brasileiro - o "Chupa". E é chupa isso, e é chupa aquilo, e é chupamos todos nós. Eu chupo, tu chupas, os americanos que se chupem, e eu nem consigo arranjar o ânimo pra continuar. 

Que feio, Brasil.
Eu nem sei onde vocês pretendem chegar quando fazem isso. Não sei o objetivo. É reconhecimento internacional? Mostrar pro gringo que "hey, hoje a gente arrasou com seu pessoal"? É levar tapinha nas costas e receber com muito sotaque e sorrisinho de lado um "Parabéns" meia-boca? É realmente rebeber - mesmo que temporariamente - essa adoração ridícula e ilusória?

Porque, companheiros e companheiras, o efeito é justamente o contrário. Eles (os americanos, o resto do mundo) só recebem mais uma confirmação daquilo que sempre ouviram a vida toda, e nem dá para culpar: "Brazil isn´t a serious country".

Mas não importa, porque tudo aqui no final vira piada mesmo. E vão argumentar contra dizendo que foi justamente essa a intenção - fazer piada. Certo, tudo bem, realmente, vocês conseguiram uma piada. Nada contra piadas, nada contra humor Rafinha Bastos, nada contra a liberdade de expressão. Piada é piada e pronto. Não importa se não atingiu o gringo, não importa se realmente foi engraçada.

Mas só peço que lembrem-se:
Pessoal, se tá na Internet, tá no mundo. E não tem como apagar. Os tweets vão. A piada perde a graça. A  vergonha nacional fica.  Então, por favor, controlem-se. 

E assim talvez estaremos fazendo um grande favor para o Brasil. Brasil com S, aliás, não Z.

Brasil, Brazil... afinal, qual dos dois é a caricatura do outro?

OBS.: Grande jogo, meninas do vôlei. Grande jogo.