segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Alô, alô, marciano.

Minha fascinação por feriados tem uma dimensão mórbida e obscura que eu nunca realmente tentei entender, mas olhando para trás, fica cada vez mais óbvio que ela sempre esteve lá, cutucando com uma vara curta em um espaço igualmente pequeno que é a (minha) cabeça. Mas a verdade é: o nível de propensão para catástrofes aumenta pra caramba nesses dias. Imagine eu, no auge dos meus 8 anos de idade, aflita porque se aliens finalmente invadirem a Terra, a semana Natal/Ano Novo é o momento ideal para um ataque bem sucedido.

E se um levante rebelde de intenções suspeitosamente agressivas contra a testagem de cosméticos em poodles acontecer às 3 da madrugada, sei lá, no meio da minha rua? Ou se simplesmente a tia da minha vizinha tiver um infarto no meio do show do Roberto Carlos e não houver tempo de comover a família para levar a velha pro hospital... e se houver... cadê o médico quando eles chegarem lá? Cadê recepcionista. Cadê todo mundo. A cidade fantasma, todos recolhidos. Todos distraídos. Ninguém a vista. Ninguém. Ninguém. O mundo em silêncio. Pode gritar (não vão te ouvir). Pode correr. Não virão te socorrer. Ninguém. Ninguém. Só. Você está só.

Sei lá.

Por algum motivo eu sempre tive muito medo dessas coisas, desses desastres e tragédias que sempre estão a uma possibilidade ou duas de distância, tão perto mas tão longe, tão aleatórios, tão fáceis de imaginar, e se Freud por acaso explica, não precisa me contar, não.

É sempre bom estar preparada caso o apocalipse zumbi irrompa na noite de Natal. Ou na véspera de ano novo - esse é outro dia nojento. Dia 31 de dezembro.

Você passa o dia todo pensando o quanto o próximo ano vai ser legal, diferente, cheio de aventuras e novidades, tão nada a ver com esse ano que passou, Jesus, o que foi isso, ainda bem que acabou, mas não, pera, eu ainda tenho que fazer uma coisa esse ano, socorro, socorro, eu não posso terminar o ano sem fazer essa coisa, cadê a coisa, cadê a outra coisa que vai me ajudar a realizar/escrever/assistir/ouvir essa coisa, afinal, por que é tão importante que eu escute essa música antes da meia noite?, o que import... não, não, não é a hora de ser cético, é hora de acreditar, isso vai me ajudar, eu já sinto as vibrações transformadoras da positividade, esse ano vai ser meu ano, vamos lá, vamos lá, em três segundos é pra pular a ondinha, é dois, é um e...

Fogos.

Não de artifício.
Incêndio mesmo.
O mar está pegando fogo.
O dia do juízo final chegou.
Corram.
Corram.
Abandonem os mais fracos e VÃO.
Não olhem para trás. Vão.
E o ano começou.

*

Em outra nota, gostaria de depositar aqui meus pensamentos, sentimentos, divagações e reclamações a respeito do ano que se passou, porque mais uma vez, essa é a minha última chance de fazer isso. Nunca mais o ano de 2013 vai se repetir. O ano de 2013 foi único na história. Nunca mais veremos o ano de 2013 passar novamente. E isso me deixa... tremendamente aliviada.

Que ano estranho, pelo amor. E já acabou? Foi... rápido, até? Não só pra mim? O que está acontecendo? Efeito colateral do mundo ter acabado em 2012 e todos continuarem agindo como se ele ainda existisse? Eu ainda existo? Alô? Alô? Alguém ouvindo?

Calma, sua perturbada. Ignorem tudo de estranho a respeito deste post, ignorem esse post, por via das dúvidas, é o estresse falando. O ano de 2013 foi estressante.

Para aqueles que acham que eu sumi porque eu "arranjei uma vida", HAHAHAAHAHAHA, estão muito enganados. Fiz tantas promessas esse ano, tive tantos projetos...

Dos 82 livros? Li impressionantes 53.

Eu sei que continua sendo muito mais do que esperado de uma pessoa normal, eu sei disso. Mas não posso me deixar de me sentir levemente um fracasso decepcionada por ter falhado em cumprir minha mais importante meta (que deixou de ser a mais importante ao passar do ano, mas mesmo assim, era importante pra mim, sabe?) e ver então naquela lista a personificação da minha falta de esforço.

De estranho a melancólico em três parágrafos, agora posso afirmar que este é de fato um post temperamental e com sérios distúrbios de personalidade. Tudo bem se você parar de ler agora. Eu não o culpo. Ninguém está prendendo você aqui. Pode voltar pro Twitter.

Porque agora o post vai virar oficialmente um desabafo.

Sabe, às vezes eu fico com falta de fôlego e vergonhosamente tonta ao pensar o quanto uma escolha, por mais trivial que pareça, pode moldar o resto da sua vida a partir daquele momento sem você notar. E quando você vê, já era. Não tem como voltar atrás.

Eu não sei exatamente por que eu disse isso, só que eu precisava dizer. Parecia importante quando eu pensei, então eu escrevi.

Outra coisa que eu pensei enquanto escrevia aquilo foi o quanto nós somos inadequados para avaliar nossas próprias conquistas, já que sempre estamos dispostos a diminuir e menosprezar o nosso próprio esforço e trabalho, especialmente aqui na perigosa área criativa da força.

Já isso eu sei exatamente por que estou comentando, mas não sei se quero escrever a respeito. Não, quero sim.

Não gosto de ser obviamente negativa nos meus textos porque sempre acho que aqui é o lugar de ser animada a respeito de Coisas e oferecer soluções, saídas, respostas, oferecer humor espontâneo causado pelo uso de uma linguagem apressada, confusa (e sincera) que eu sinto que as pessoas podem se identificar e também porque meu processo de pensamento realmente é assim. Por outro lado, não gosto de falar sobre isso porque parece falso e pretensioso, então estou pensando em riscar este parágrafo. Agora é a frustração falando.

Claramente, não risquei. Então assumam que o desespero foi maior e que eu precisava desabafar isso também. Às vezes você só precisa escrever o que você está sentindo, não onde você deseja chegar com isso e como melhorar. Não sei qual das duas opções é a melhor terapia, mas hoje é 23 de dezembro e eu resolvi arriscar.

Do que eu tava falando? Ah, sobre o poderoso efeito da autodepreciação. Eu definitivamente estou mentindo ou exagerando quando eu digo que não "arranjei uma vida" esse ano, nunca confiem no que eu digo, eu não sou confiável. Eu fiz muita coisa, sim.

Caramba, eu fiz intercâmbio. Foi esse ano? Foi esse ano. Eu escrevi uma peça. Eu encontrei um novo hobby e uma nova paixão e passei a dedicar muito do meu tempo livre desenvolvendo uma maneira diferente de me relacionar com a poesia. Eu me conectei, estreitei laços, encontrei amigos de fé, meus irmãos, camaradas. Eu tomei decisões. Muitas decisões. Eu inclusive deixei meu cabelo crescer.

Não, não, nem tudo foi ruim. Estou sorrindo agora. Nem tudo foi tão ruim assim.

O que eu preciso mesmo - caso você esteja interessado em saber - é foco, mas eu sempre precisei disso, de qualquer forma. Só que em 2014 é sério, sabe? Eu preciso de foco. Eu preciso conseguir. O quê? Sei lá. Muitas coisas.

Muitas, muitas coisas.

Eu ainda tenho muito sobre o que escrever, mas acho que vou parar agora. Alguém disse que "a escrita é um processo consciente" e eu estou começando a me sentir meio à deriva. Melhor parar. Eu tinha certeza que esse post ia a algum lugar quando eu comecei, mas agora acho melhor que ele não saia mais daqui. Desculpa se você acompanhou até o final. Pelo menos você fez alguma coisa e não ficou só aí, né, paradão. Ah, a vida às vezes é assim mesmo.

Não esperem muito mais coerência quando eu voltar. (antes de 2013 acabar, porque eu preciso escrever a coisa, é importante que eu escreva a coisa, cadê a coisa que vai me ajudar a escrever sobre a coisa..........)


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