sábado, 31 de outubro de 2015

Como trabalhar na Disney


Com duas semanas para o meu embarque e visto oficialmente autorizado, sinto que nada, nem um pé quebrado, nem o fim do mundo, nem o vírus da dengue, NADA mais ficará no caminho entre a minha mala e aquele avião.

Dito isso, agora bato na madeira, porque seria horrível ir pra Disney de pé engessado, tomando remédio, no meio do apocalipse zumbi. Pelo menos, se isso acontecer, eu tenho certeza que o meu seguro cobre (mais sobre isso depois).

Trabalhar na Disney é fácil? Vamos começar dizendo que, sim, é possível. É importante essa escolha de palavras, porque "fácil" mesmo é um modo ao qual esse jogo em particular não está habilitado. Aqui nessa realidade é só de level hard pra cima, sendo por vezes uma história indistinguível de Jogos Vorazes, Game of Thrones e Big Brother, só disfarçados de magia e pó mágico.

E, hey, isso é uma coisa boa.

Na verdade, essa é a diferença fundamental entre a experiência de ir à Disney a passeio e a trabalho. A passeio, você senta, relaxa e aproveita, porque sabe que o show foi feito exclusivamente para você. A trabalho, você é a pessoa fazendo o show acontecer. Puxando as cordinhas. Ajudando o Donald a se preparar pra parada das 3 da tarde ("que horas começa a parada das 3?"). Dando o "ok" para o barquinho começar a jornada pela selva animatrônica. Não há espaço para erros quando você é membro do elenco (cast member) da maior empresa de entretenimento do mundo.

E por que alguém escolheria o modo hard em vez do modo easy, especialmente quando o modo easy parece tão mais mágico e perfeito? Afinal, ninguém quer ver a Cinderella comendo um sanduíche de bacon enquanto alguém conserta as luzes problemáticas do Fantasmic.

Bom, assim como qualquer videogame, o modo hard, quando batido, sempre é também o mais gratificante: eu consegui, fiz isso sozinho, sou o campeão, pode soltar o Queen bem alto agora.

Mas todo mundo sabe que a Disney não é como um videogame, não tem nada a ver, é só a metáfora mesmo. A Disney é um sonho. E nenhum sonho se realiza sem um esforço muito grande, um estresse que te consome e muitas noites mal dormidas. Porque, no final, o sonho sempre vai valer a pena.

A Disney é o meu sonho. E agora, pode-se dizer que estou pronta para vivê-lo, uma vez que a parte burocrática está toda completa.

Qual é o seu sonho? Se houver alguma chance que seja parecido com o meu, continue por aqui que vamos desvendá-lo para você.


Quem é que faz o programa?
O ICP (International College Program) ou CEP (Cultural Exchange Program), no Brasil, é mediado pela STB (Student Travel Bureal), uma agência de intercâmbio que sedia a primeira fase da seleção e facilita o processo para o aplicante. Acessem o link para maiores informações sobre o ICP.

O que eu preciso fazer para ser elegível para o programa?
- Ter no mínimo 18 anos de idade até a data de início do processo seletivo.
- Ter inglês fluente.
- Ser estudante universitário regularmente matriculado em curso presencial reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), com duração mínima de quatro anos e calendário acadêmico regular.
- Estar cursando entre o segundo e o último período acadêmico.
- Ter disponibilidade para iniciar e completar o programa a partir de meados de novembro até o começo de março do ano seguinte.
- Possuir condições financeiras para custear bilhete aéreo de ida e volta, seguro médico internacional, as primeiras duas semanas de acomodação e despesas de visto.
- Estar apto a morar com participantes de diferentes países e culturas.
- Ser extrovertido, alegre e flexível.

No que consiste o processo seletivo?
O processo mesmo leva uns seis meses, o que é uma maravilha para pessoas ansiosas como eu, mas basicamente ele consiste em duas palestras e duas entrevistas que você precisa passar. A primeira fase acontece em algumas cidades do país, como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte, e é feita por representantes da STB, toda em inglês.

Depois da primeira fase, se seu resultado for positivo, você passa para a segunda fase em São Paulo, em que a entrevista é feita pelo povo americano da Disney, e esse ano, pela primeira vez, foi realizada no próprio escritório da Disney, o que é um pouco bastante tenso, mas divertido.

Além disso, eles avaliam seu currículo (não é necessária experiência anterior de trabalho) e sua Letter of Intent, carta em que você explicita os motivos por quais você quer muito isso pra sua vida (sem muito melodrama, por favor, mas sem deixar de ser fofo, afinal não é pra esquecer que é um intercâmbio de trabalho, mas também é a Disney). Para saber mais sobre essa parte, acesse esse blog que me ajudou muito durante o processo.

O que posso fazer na Disney?
As "roles" (funções) são:

- Attractions/Operations (trabalha em brinquedos, shows e paradas);

- Bell Services (posição em hotéis, parecido com mensageiro); 

- Character Attendant (acompanhante dos personagens); 

- Character Performer (o próprio personagem, mas para o ICP só é possível ser um personagem de "pelo", então, não, meninas, não pode ser princesa); 

- Merchandise (trabalho em lojas de parques, hotéis e Disney Springs); 

- Quick Service (trabalho em restaurantes fast-food em parques e hotéis);

- Costuming (trabalho de bastidores, nos locais onde os cast members retiram e devolvem suas roupas); 

- Custodial (manutenção e limpeza de parques e hotéis durante o horário de funcionamento para o público); 

- Full Service (função exercida em restaurantes com serviço de garçom); 

- Housekeeping (camareiro nos hotéis); 

- Lifeguard (salva-vidas); 

- Recreation (aluguel de equipamentos de lazer em hotéis, entre outros). 

É importante ressaltar que enquanto você pode determinar as suas preferências, a escolha final sempre é da Disney e não pode ser alterada, exceto em raríssimos casos. Minha dica: só vai. No ICP, a gente diz: "the role never bothered me anyway". A oportunidade e a experiência como um todo são muito maiores que a sua posição no show. Na Disney, todo mundo é importante.

Clique aqui para maiores informações sobre as roles.

E se você quiser ser expert no programa e saber de tudo na hora que acontece,
Entre no grupo fechado do facebook dos Futuros Cast Members, em que todo mundo se ajuda e você vive o programa várias vezes antes mesmo de participar. É sério. Entrem no grupo. Salva a sua vida várias vezes quando tem informação nova nos sites ou prazos urgentes pra cumprir.

Agora, a minha experiência.

Se você mora em Manaus e tem um sonho, espero que você seja uma pessoa muito valente. Eu não sou, mas estou aprendendo a ser. Além do custo normal do programa (que é mais barato que um intercâmbio normal, além do fato de você ganhar boa parte de volta com o seu salário), eu tive que viajar duas vezes com a minha amiga Victoria só para fazer parte do processo seletivo. 

Após trancos e barrancos, uma carta escrita às pressas, a Victoria ter ficado de stand-by na primeira fase, uma segunda entrevista tão nervosa que tenho espasmos só de lembrar, a novela do seguro de saúde e um drama gigantesco nas faculdades públicas desse país, passamos. Vamos. 

Eu passei para Merchandise, a Victoria para Quick Service, e vamos no dia 16 e 30 de novembro, respectivamente, voltando em 11 de fevereiro, após uma viagem de 5 dias para Nova York no final do programa.

Rimos, choramos, batemos a cabeça na parede, cantamos High School Musical na fria sala de espera da entrevista com vários desconhecidos, conhecemos a Rádio Disney, sofremos com a Internet caindo bem na hora das missões impossíveis que precisavam ser cumpridas em segundos, choramos mais um pouco, gargalhamos, fizemos amigos do Brasil todo e muito brevemente do mundo todo, vimos várias pessoas ficarem pelo caminho, aprendemos a apontar com dois dedos... e assim é o ICP.

E, acredite ou não, ele só está começando.

Tenho tanta coisa ainda pra falar que meus dedos estão engasgados, por isso hoje vou parar por aqui. Qualquer pergunta, qualquer sugestão de tópico sobre o programa, não hesite em perguntar, que eu estarei prontíssima para responder, funcionária digna de Walt Disney que sou.

Caramba.

Que sonho. 


3 comentários:

lucas filizola disse...

EITA
QUE
ONDA
mete a cara lá!

Unknown disse...

Caraca Karla, tava procurando justamente alguém de Manaus que eu pudesse acompanhar a experiência do ICP pq tudo que eu procuro a respeito só encontro sobre pessoas do Rio de Janeiro e parece ser tão mais de boa pra eles sabe? Acho legal esse negócio de ralar e persuadir pra conseguir as coisas, vim de longe, tentar e conseguir mesmo! Te desejo a maior sorte nessa nova fase da sua vida, tomara que sua experiência torne a minha vontade de ir a um ICP ainda maior! Abraços!

Ana Karla Kizem disse...

Oi, Rafaela! Não acredito que tenha visto isso só agora depois de voltar. Obrigada pelo comentário, foi incrível mesmo e espero contar tudo muito em breve aqui no blog. Me adiciona no face, Karla Kizem, e qualquer pergunta sobre o ICP estamos aí!!