segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pessoas & Viagens



Dizem que viajar é bom porque o cansaço é físico e não mental, e que essa é a intenção, afinal. Andar, andar, andar, manter o cérebro ocupado com as mais espetaculares vistas e esquecer todos os seus problemas. Na teoria, é claro.

Já faz algum tempo que eu não posto, mas garanto que tenho um álibi muito bom. E que vocês irão adorar. Porque um novo DIÁRIO DE UMA VIAGEM vai começar. E essas drogas de rimas.

Que lugar melhor que o velho continente para começar o novo ano? Dizem que é preciso conhecer melhor o passado para entender melhor o futuro, e essas coisas. Cá para nós, como esse povo fala.

E como nada é igual a primeira vez, esta série de posts começará de um jeito diferente. Eu sei que todos estão empolgados para descobrir os segredos de Londres, a vista da Torre Eiffel, o chocolate suíço, e a pizza... ah, a pizza italiana. Mas tudo ao seu tempo.

Pois o Big Ben, a Catedral de Notre Dame, nada disso se construiu sozinho. Foi preciso pessoas. Muitas pessoas, milhares de pessoas. Cada uma com a sua história, amores, sonhos, motivações e ideais.

Pessoas. E é delas que vamos falar.

***

Vamos lá, vamos lá, quem nunca fez amigos de viagem? Ou colegas, tanto faz. Aquele cara super legal que te ajudou no ônbius, ou a menina que fez companhia na fila? Aqueles que você sabe que nunca mais vai ver, mas que mesmo assim marcaram - de alguma forma - a sua viagem, e talvez até mesmo a sua vida.

Eu conheci muitos desconhecidos. Alguns nem tão desconhecidos assim. Alguns hilários, outros que me fizeram parar para pensar. E está na hora de compartilhar essas histórias, na ordem em que aconteceram.

1. A Paulinha do BBB

Não importa o quanto você queira bancar o intelectual, você sempre vai saber o que está rolando no BBB. E foi numa dessas edições, não sei se a de 2011 ou 2010, que nós conhecemos a Paula de Roraima, que foi  trollada no Brasil todo, mas especialmente aqui no Norte. Não lembro o quanto ela durou, só sei que encontrei a dita cuja no aeroporto de Manaus, com destino ao Rio de Janeiro.

Foi um daqueles momentos em que você encara uma pessoa e o seu cérebro faz a pergunta "Te conheço?", aí você fica encarando na maior até o clique vir. E quando o "clique" veio, eu caí na gargalhada. Só sei que a menina foi no mesmo voo que a gente, e sim, ela é muito mais apresentável pessoalmente. Meu irmão discorda, mas isso por que ele deve ter essa tal Síndrome de Asperger que todo mundo fala. Enfim, eu sou legal, não falo mal das pessoas e...

Na chegada no Rio de Janeiro, ela vem e fura a fila na minha frente no banheiro. Bitch. Fiquei sabendo que ela foi barrada numa festa dias depois. Bem feito.


2. A moça do metrô de Barcelona

Andar de metrô é a melhor forma para se conhecer uma cidade. Tudo fica mais perto, mais barato, e de quebra você ainda conhece os nativos em seu habitat natural. 

De repente, entra uma moça com um cachorro. Você vê pelas suas feições que é bonita, mas infelizmente essa beleza está toda mascarada por piercings e um cabelo loiro que um dia já teve dreads e atualmente está meio azul - e totalmente crespo. Roupas meio maltrapilhas, mas sempre têm esses europeus meio excêntricos. O cachorro deitado embaixo no banco, e a moça com um sorriso no rosto. Estranho.

Mais estranho - e engraçado - foi quando o cachorro confundiu um brinquedo de cachorro que anda com uma autêntica fêmea da sua espécie e saiu correndo pelo metrô em busca da sua amada. A dona do cachorro - ou do brinquedo - uma menina de 8 anos, ria a valer. E eu também, né.

No meio da viagem, a moça parece ter feito amigos. E começou a contar pra eles em espanhol que na verdade era italiana/francesa, e que estava tentando juntar dinheiro para se mudar para Paris/Londres, mas por enquanto as coisas não andavam bem. Na verdade, foi só essa última coisa que eu entendi, o resto ficou meio confuso. Enfim, a estação da moça chegou, e ela saltou para fora com seu amiguinho peludo, não sem antes se despedir de todos.

Quando a porta fechou, comentei com meu pai: "É cada um...", e ficou por isso mesmo.

No outro dia, acreditem ou não, eu a reencontrei no meio da rua. Mas não forma que gostaria. Ela estava sentada no chão frio em cima de uma coberta suja, dormindo encostada na parede, se cobrindo com o máximo que podia, com uma mão em cima do pelo do cachorro, sentado fielmente ao seu lado, e outra apoiando um cartaz que dizia algo como: "Tenho fome. Tenho sede. Não tenho casa. Por favor, me ajudem.".

E nenhuma sombra de sorriso no rosto.


3. O Steven Spielberg

Certo, este não é um desconhecido. Mas eu era pra ele. Ok, ainda sou. Mas ele não é mais - literalmente - para mim.

Serei breve neste relato para manter o efeito fantástico da coisa.

Imagine, só imagine, estar sentado no segundo andar de um ônibus turístico, em uma cidade linda como Barcelona, e de repente sobe na próxima estação um dos maiores cineastas de todos os tempos?

Aconteceu comigo. Eu bem que tentei tirar foto escondida dele, mas não deu muito certo, sempre ficava alguma coisa na frente. De qualquer forma, consegui mais tarde na viagem. Tudo bem que era o boneco de cera dele. Mas esse que é o efeito fantástico da coisa.



4. A mulher da Pizza Okay em Milão

Pizza italiana é pizza italiana, mesmo que ela seja só "Okay". Enquanto comia feliz meu pedaço de pizza COF COF do tamanho do mundo COF COF, surge essa moça duvidosa, de cara bem francesa. Cabelos curtos e repicados, boina, maquiagem forte, tomando café numa pizzaria. Só café.

E não só isso. Ela está me encarando. Sem parar. I'm sexy and I know it, okay, mas isso já passa um pouco dos limites. Foi assustador. O mais engraçado é isso - ela não parava de encarar. De me encarar. Meu irmão fez bullying comigo pelo resto da viagem todinha. Eu fiquei internamente feliz porque alguém - mesmo que fosse uma psicopata lésbica francesa - alguém gostou de mim. Viu? Ponto pra mim.


5. Os franceses que vão dominar o mundo

Eu sempre quis viajar de trem, e fiz isso pela primeira vez nessa viagem, no trajeto Milão/Lausanne, e mais uma vez de Lausanne para Berna, capital da Suíça.

A vista é de tirar o fôlego, claro, é uma pena que não consegui sentar na janelinha. Por quê? Porque tinham dois franceses ao meu lado, pai e filho, cheios de cadernos, anotações, jornais e desenhos em cima da mesa. Desenhos peculiares. Algo do tipo Código da Vinci, com uma atitude à la Nicolas Cage em A Lenda do Tesourou Perdido, tentando roubar a declaração de independência dos Estados Unidos. Ou podia ser nada, sei lá.

Eles conversavam baixinho, como se estivessem dando conselhos para o outro... E não me notaram a viagem inteira.

6. A vovó francesa e o vovô suíço em Lausanne

Na parada entre os trens, ficamos esperando numa parte coberta da estação, porque, logicamente, aquilo era a Suíça e estava congelando. Foi quando entrou uma senhora e um senhor, conversando animadamente em francês, ela usando um capuz muito engraçado. Tudo bem para mim, no worries. O problema foi quando a vovó resolveu começar a falar comigo. Em francês. E você conhece esses vovôs - eles nunca escutam quando você diz que je ne parle pas français. Eles só continuam falando, felizes por estarem conversando com a juventude. 

Quando eu convenci a vovó de que não era francesa, ela encasquetou que eu era americana, e começou a falar com um inglês carregadíssimo, impossível de entender. Ou quase impossível, porque aí eu consegui convencer ela de que era brasileira, de uma cidade chamada "Manaus". "OHHH, MANAUS", ela disse. Contou que já tinha lido um livro sobre a cidade, e que era um livro muito bom. Legal. Pensei que o papo tivesse acabado, mas como eu fui bobinha.

Ela me perguntou tudo, absolutamente tudo sobre a minha existência, e deu instruções exatas de como se chegar no aeroporto de Londres. Agora pergunta se eu entendi. Era extremamente confuso, e de tempos ela fazia notas em francês ou alemão com seu marido, que eu descobri ser suíço, e descobri também que eles estavam voltando de uma visita a mãe dele, uma senhora adorável.

Eles deviam ter uns 70 anos.
Pois é, Suíça, o segredo da vida eterna deve estar por lá.


7. O recepcionista do hotel de Paris

Dizem muitas coisas por aí, oh, como dizem, e uma dessas coisas é que os franceses são todos mal-educados e que odeiam inglês. E imagine chegar em Paris com isso na cabeça, sabendo no máximo uma ou outra frase em francês. Mas o preconceito foi quebrado logo de cara.

Todos os franceses que nos atenderam eram - por falta de termo melhor - muito gente fina. Especialmente o recepcionista do nosso hotel, Guillaume, que fez de tudo para a nossa estadia em Paris fosse melhor, e assim nos deixando mais confortáveis a respeito dos franceses, que, afinal, não são tão rabugentos assim. Ah, tá bom, talvez só um pouquinho.



8. A cagona da Torre Eiffel

Ah, a Torre Eiffel, símbolo do romance, da França, do turismo, mas principalmente, da bosta. Pelo menos para mim, agora. E eu não consigo parar de rir toda vez que eu lembro.

Chegamos de metrô praticamente na praça onde a belezura se encontra, e posso dizer que realmente é essa coca-cola toda. Mas isso não interessa agora. O que interessa é que dentro de um banheiro químico do lado da Torre, havia uma senhora. E não era um banheiro químico qualquer, o bicho era automático. A porta se trancava sozinha. E pelo visto, abria também.

Bem no momento que estávamos passando, a porta se abriu e revelou uma senhora de peso, digamos, avantajado, rosto vermelho, olhos fechados com força, sentada no vaso. O pessoal que queria usar o banheiro caiu na gargalhada, e a mulher, por falta de reação melhor, também. E nada da porta fechar de novo.

Acho que aquela foi a visão do dia. E não a Torre Eiffel.


9.Os brasileiros perdidos por aí

É fácil reconhecer um brasileiro no exterior. Eles falam alto, e sempre estão perdidos. Sempre. É possível ouvir comentários do tipo "Não, acho que não foi desse lado que a gente subiu, tenho quase certeza que foi em outro andar..." ou então "Olha, baratinho, só 10 reais...", "É em euro, sua burra".

O único lugar que eu não encontrei brasileiros foi na Suíça, mas era sempre bom encontrar um, mais idiota que fosse. Dava pra se sentir mais perto de casa, mesmo no frio do inverno europeu. Porque brasileiro é tudo igual.


10. A moça que faz sonhos realidade na Disney

Lola é o nome dela. Trabalha na Disneyland Paris, o que deve ser um dos melhores empregos do mundo. Tarefa do dia? Garantir que eu tivesse o melhor aniversário da minha vida.

O dia era 10 de janeiro, e foi a Lola que me atendeu no City Hall do parque. Extremamente simpática, explicou meus direitos de aniversariante e meu deu um button com meu nome, que exclamava "HAPPY BIRTHDAY", um pergaminho com o autógrafo de todas as princesas e fez a pergunta que iria mudar tudo.

Você quer falar com o Mickey?

Dã, é claro. Ele é que eu duvido que vai querer falar comigo. Mas ao invés disso, respondi "OF COURSE I DO".

Me colocaram numa salinha com uma poltrona e um telefone. O telefone tocou. Eu, logicamente, atendi. Era o Mickey e nós batemos um papo bacana, depois ele me desejou "A MAAAAAAAAAGICAL BIRTHDAY HERE IN DISNEYLAND PARIS".

Ok, era uma gravação. Mas mesmo assim.



11. O cachorro policial londrino

Existem muitas, mas muitas, MUITAS coisas que eu quero falar sobre Londres. Mas não nesse post, nos próximos. Porque neste aqui, eu falo sobre pessoas. Ou no caso, animais.

Eu nunca vou esquecer o momento em que chegamos em solo inglês, e tivemos que passar por um tubo fechado que detectava metais, drogas, armas, sei lá o que mais, e de repente surgia esse policial armado com um cachorro do tamanho do mundo que ficava te cheirando enquanto você passava, enquanto o cara falava "Keep walking keek walking just keep walking".

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Enfim, como eu já disse, as pessoas dizem muitas coisas. Eu fico muito, mas muito, MUITO feliz em em poder dizer agora que... elas - hoho - estavam erradas.

Fim do DIÁRIO DE UMA VIAGEM PARA EUROPA - PARTE 1.


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