sexta-feira, 3 de junho de 2011

A cada pequena ação...

03/06/2011

Tenho a impressão que alguém está batendo na porta. Deixo passar, afinal, era horário de pico no trânsito aqui de Manaus. Poderia ser qualquer coisa. Outras batidinhas nervosas.

Desisto, e vou até o olho-mágico conferir quem é. Uma senhora de aparência simples, com olhar perdido e asusstado encontrava-se do outro lado.

Abro ou não abro? Talvez fosse importante, talvez ela precisasse de informação. Por um segundo, pensei em deixar de lado. Mas eu me odeio justamente pelo fato de NUNCA deixar as coisas de lado. E abri.

-Senhora? Algum problema?

-Eu... eu estava fazendo faxina aqui do lado, o moço me deixou aqui... mas ele não deixou chave, e eu preciso voltar logo para a minha casa, está ficando tarde e...

-Tudo bem, senhora, não tem problema. Pode deixar a porta encostada mesmo, não tem perigo. Deixe um recadinho pra ele e passe lá na portaria avisando, não tem problema, não.

-Mas... é que... bom, obrigada, muito obrigada.

É muito estranho para mim ver assim, de verdade, a realidade dessas pessoas. Ela já era uma senhora de idade, e pelo visto, morava bem longe dali. Precisava pegar vários ônibus, e estava lá, temendo pelo seu emprego. E, provavelmente, temendo o elavador também.

E eu? Eu já tinha feito o meu trabalho, não tinha mais nada a ver com a história. Mas essa é a história da garota que já rodou um shopping com um menininho a procura da mãe dele. Então, é claro que ainda não acabou.

-Eu estou indo pegar meus chinelos.

-Por quê? - ela estava mais confusa, se é que aquilo é possível.

-Vou descer até a portaria com a senhora.

Nossa, o alívio foi instantâneo, e quase palpável. A mulher parecia muito surpresa, e incrédula. Talvez ela não estivesse acostumada com esse tipo de tratamento.

Ela fez tudo tão rápido... pegou suas coisas, deixou o bilhete, fechou a porta. Como se fosse um incômodo pra mim. Deixei logo claro que não.

No elevador, o celular dela toca.

-Alô? Filha? Já estou indo pra casa, não precisa se preocupar. Eu encontrei uma Filha de Deus por aqui, e ela está me ajudando. Não, não se preocupe. Já estou indo. Te amo, tchau.

A minha cara à menção do "Filha de Deus" deve ter sido única. As pessoas que me conhecem sabem que eu não sou religiosa, nem um pouco. E, mesmo assim, a mulher me considerava um anjo, somente por estar acompanhando-a até o térreo. Situação desconfortável.

Eu queria que ela parasse de agradecer. Mas, enfim... logo estávamos na portaria, e eu expliquei a situação dela para o porteiro. Demorou algum tempo, mas estava tudo resolvido.

Abri a porta para ela sair, e apontei o ponto de ônibus. Ela sorriu e agradeceu mais uma vez. Antes dela se virar, acenei e disse:

-Tchau, Dona Maria. Vá com Deus.

Pelo olhar que ela me deu, sinto que a família dela ainda vai ouvir muito falar de mim.

E a vida? Bom, a vida continuou normalmente depois que eu andei sem pressa de volta ao elevador.
Normalmente, tirando o brilhinho de estrela faiscante que insistiu em surgir dentro de mim.

Nenhum comentário: