sábado, 8 de setembro de 2012

Escrever é um martírio

e dói.

Dá peso na consciência, fere o orgulho, beira a decepção, dá vontade de desistir, de jogar tudo pro alto, de abaixar a cabeça e dizer "Eu não sou boa o bastante'", de se endireitar de novo, torcer o nariz e ter a audácia de dizer "Eu não preciso disso", quando no final você sabe que tudo não passa de uma ridícula desculpa para a sua falta de talento, ou sua momentânea perda de jeito com as palavras. Ou para a sua preguiça e falta de verdade - mas isso a gente abafa.

De qualquer forma, dói. Dói passar minutos - horas - encarando a página em branco, começando e recomeçando, descartando ideias (uma pior do que a outra), tentando se colocar no lugar do leitor - o que eu gostaria de ler? - e reescrevendo, editando, apagando, copiando e colando, apagando tudo de novo, voltando pro zero, indo com fé, publicando - ou jogando no lixo de vez.

Tem gente que acha que eu adoro escrever. Não é bem assim. Eu me forço a escrever porque eu preciso escrever. É praticamente uma técnica de autodefesa - e de autoconhecimento. Escrever significa entender os seus limites, saber o quanto você sabe, de quantas formas diferentes você consegue transmitir aquilo que sabe, se você é capaz de fazer alguém rir ou chorar - ou querer bater na sua cabeça com um tijolo (repetidamente) - ou até mesmo encantar, inspirar, sorrir, deixar leve pelo resto do dia. Essa é a parte boa do trabalho. É uma pena que ela só venha depois, depois da guerra contra o teclado, e em muitos casos, o feedback nunca alcança o autor de volta... e em muitos outros desmotivantes casos, nem vem - porque ninguém leu.

É deprimente gastar tanto do seu tempo útil, ter tanto trabalho para escrever uma história, quebrar a cabeça procurando metáforas, subplots, mensagens subliminares, tentar encaixar todas as pontas soltas no final, rimar, rimar decentemente, tornar algo emocionante, despertar sentimentos, procurar maneiras de deixar a narrativa mais rápida, lembrar da palavra certa - enfim. É complicado fazer tudo isso - e fazer bem. É difícil escrever algo que te faça ter orgulho no final - e bater no peito e exclamar "eu que fiz".

Mas pior ainda, é fazer isso tudo e ninguém perceber. É claro que isso é uma coisa que todos nós, escritores, temos que passar, já que ninguém é obrigado a desvendar todos os mistérios de mais outro texto/história qualquer. Não que isso torne isso menos ruim - continua sendo péssimo.

Mais uma vez - são os ossos do ofício.
É sempre importante lembrar, porém, que se o mundo dá as costas para você - como já diria o grande filósofo Timão, esse mesmo do Rei Leão - o que você faz? Você dá as costas para o mundo. E continua escrevendo. Porque uma hora - uma hora vai sair. E a dor vai ser uma daquelas dores boas, que prejudicam mas não paralisam, sabem? Igual dor de crescimento.

E como eu escrevo?
Mais ou menos assim, para quem está curioso.
Primeiro eu fico vasculhando tudo e todos por semanas até a ideia vir, E QUANDO ELA VEM, preciso escrever urgentemente todas as palavras-chaves que me aparecem, num documento à parte. A partir daí, tento escrever cenas aleatórias, aquelas que se destacaram mais no processo de criação, mas sem qualquer tipo de refinamento. A narrativa, nesse estágio, é bem medíocre, com palavras e expressões comuns e ordinárias, realmente nada de especial. Dá até vontade de desistir olhando pro meu texto assim, tão pobre, mas preciso constantemente me lembrar que a página é só um rascunho, que ainda não está terminado. A razão de escrever assim é justamente para não me perder no meio das ideias, é saber para onde estou indo com a minha história - e como exatamente vou chegar lá.

Depois de tudo escrito, vem o processo de embelezamento, refinamento. É - muitas vezes literalmente - ir apagando tudo e escrevendo um novo parágrafo logo embaixo do parágrafo original, adicionando a maior parte dos adjetivos, advérbios, expressões, piadas, etc. Quando satisfeita, releio tudo - mais uma vez - e procuro alguma parte (algum probleminha) que ficou sem solução, que não foi explorado muito bem, que tinha potencial para ser engraçado ou poético.

Numericamente falando, releio uma fanfiction minha, por exemplo, umas 20 vezes por inteiro antes de publicá-la. Um post normal no blog, 2 vezes. Uma crônica, 4 vezes. E releio tanto que a história passa a nem ter mais graça, por isso nem tenho mais noção do que realmente ficou legal, se eu realmente consegui passar a emoção que eu queria. Nessas horas peço por uma segunda opinião. Sempre peço para alguém ler qualquer história minha antes postar, porque uma crítica (positiva ou negativa) nesse estágio é algo crucial para o sucesso da coisa. Raiva da sua história também é uma reação normal durante o processo de escrita, todo autor odeia seu texto no momento em que termina, é fato, todos sabem.

Mas é nessa hora vem o primeiro feedback, e esse a gente nunca esquece. E a dor fica boa, lembra?


Por que falar isso agora? Não faço a menor ideia. Talvez simplesmente porque eu posso. Talvez porque seja fácil. Talvez porque eu esteja conseguindo.

Talvez - mais provavelmente - porque eu esteja me forçando.

Mas, enfim, SAIU.

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