domingo, 26 de junho de 2011

Concessões


Ganha um doce quem adivinhar de onde estou falando neste momento. Não, não, deixa eu falar logo. Vocês nunca vão imaginar.

Sim, eu estou falando de Boa Vista. Do lugar que prometi nunca mais voltar... ou pelo menos, não tão cedo.

Por isso, sentem-se, relaxem e tirem os sapatos. O nosso post começa agora.

***

Viagens de madrugada, aviões apertados, casas antigas. Vida simples, pessoas simples, pessoas complicadas. Pessoas muito complicadas.

Uma criança. O sorriso de uma criança. Ela olhou para você. Ela não acha você uma deslocada. Na verdade, você é a parceira ideal para uma brincadeira.

Pule, pule com ela. Tome cuidado, ela é pequena. Converse com ela. Cante sobre os piratas, e espere sua resposta. Ela gosta, ela sabe falar.

Você não gosta de crianças – elas são bizarras. Mas hoje, hoje não.

Pessoas, muitas pessoas. Elas julgam, elas não são como a criança. Elas conhecem você. Elas acham que conhecem você.

E quem é você?

Você é a branquela estranha da outra cidade? Ou você é a amiga da criança? Difícil saber.

Talvez você não seja nenhum dos dois. É, você só é a deslocada, a ave fora do ninho.

O refúgio? O refúgio ficou para trás, bem longe. Você tenta chegar até ele, mas é lenta demais. Ou ele é lento demais. Talvez seja ele o lento demais.

O que importa é que você precisa fazer alguma coisa. E rápido.

As pessoas estão esperando. Elas encaram, elas cochicham. Elas são sua família. São mesmo? Quem é família e quem não é? Difícil saber.

O dia passa, você quer voltar pra casa. Mas sua casa está longe, bem longe. Existe outra, lá na esquina. Essa serve, por enquanto.

Respira. Tudo está bem. Respira de novo.

Melhorou?

Estranho... melhorou.

As senhoras de idade chegam. Você pensa em fugir. Não há tempo. Mas elas abraçam você. Dizem que “finalmente, você ficou bonita”.

Você não sabe se ri ou se chora.

Elas conversam, perguntam da sua vida. Lembram de quando você era apenas um grão de arroz. E se divertem. E quer saber? Você também.

O teclado balança na mesa improvisada. Você não se importa muito. Só sabe que quer escrever. Zeca Camargo na tela. Janelinhas piscando no computador. Você não liga. Só sabe que quer escrever.

E quando percebe que o fez, suspira aliviada. Lembra da criança. Será ela a mesma amanhã?

Será o mesmo, amanhã? Será...? Não. Chega de concessões.

Crianças.

Seres bizarros, não são?

Um comentário:

Aline disse...

A criança amanhã, terá uma tia pra lembrar de quando ela era só um grão de arroz.
Logo mais, a sua familia irá perguntar do namorado, não se preocupe tanto com isso.
Bjos