quarta-feira, 6 de abril de 2011

O estranho homem do lago


Fala, Brasil.

Como vocês sabem, estou em semana de provas.

Segunda-feira, tive a minha primeira prova de redação (SÓ de redação) na vida. E eu me diverti pacas fazendo. Explico.

A princípio, pensei que a prova teria questões dissertativas, já que nós fizemos duas apostilas durante as aulas. Mas não é que eu me surpreendo quando vejo que tínhamos que fazer uma REDAÇÃO na prova de REDAÇÃO?

Pois é.
"Faça um texto descritivo sobre uma pessoa, um animal, um objeto ou uma paisagem".

Quando li isso, EU QUASE PULEI DA CADEIRA! "QUE DIVERTIDO!", pensei bem alto.

Eu adoro fazer redações, e às vezes até fujo um pouco do assunto para poder ter mais liberdade na escrita e nos conteúdos. Os professores já conhecem. Bom, ESSE ainda não, mas ele vai, ah, se vai.

Aqui vai o texto adaptado, porque eu levei o rascunho pra casa.
Sejam felizes.

OBS: O texto, a história e seus personagens são dedicados às amigas Snapetes, que logicamente irão entender todas as agonias e trejeitos do "estranho homem" que eu usei como "muso".

***

Estava descansando embaixo de uma árvore, olhando serenamente para as estrelas, quando o vi. Um vulto alto, de andar elegante, caminhando silenciosamente em direção ao lago. Parecia um decadente aristocrata com suas roupas vistosas e negras, mas levemente amassadas, como se tivesse passado um par de dias dormindo ao relento. O que faria tão estranha figura a essas horas da madrugada aqui neste campo, sempre tão deserto? E então lembrei o motivo pelo qual eu estava lá – pensar. Aquele certamente era um bom lugar para pensar.

O homem virou de costas para o lago, e com um suspiro, sentou-se. Foi quando pude ver pela primeira vez o seu rosto. Era incrivelmente pálido, como se tivesse passado meses sem ver a luz calorosa do Sol. Aliás, nada parecia caloroso em suas feições. Tinha o semblante frio, inexpressivo, como se fosse a acostumado a nunca demonstrar qualquer tipo de emoção. E os olhos, então? Negros, profundos, olhos onde não era possível distinguir a íris da pupila. E o homem ficava cada vez mais indecifrável. Os cabelos, também negros, longos e escorridos pelo rosto branco contrastavam, balançando suavemente com a brisa, e assim os faziam parecer um anjo sombrio da noite. Tal conclusão deveria ter me assustado, mas não ousei sair do lugar. Não sei se por curiosidade, ou até mesmo por hipnose.

O traço mais impressionante do rosto era o nariz – grande, adunco, mas que combinava perfeitamente com o conjunto. Era como se aquilo o tornasse especial, único. Ao todo, o homem formava uma figura, no mínimo, peculiar. Chamativa. Nunca havia visto alguém parecido por essas bandas. Seria ele mais um daqueles viajantes nômades que costumam passar pela cidade em busca de aventuras em lugares desconhecidos? Não, provavelmente não. Ele não tinha cara de que se divertisse nem que isso fosse um decreto.

Abruptamente, levantou-se com um brilho diferente nos olhos e jogou com toda a sua força uma pedra branca na água, que quicou quatro vezes antes de afundar, deixando fortes ondulações no lago, antes intocado. Vi o quanto seus dedos eram longos e finos, e suas mãos, extremamente habilidosas. Ele poderia ser um exímio pianista se assim desejasse, pensei.

Logo percebi que o homem parecia estar com muita raiva de água, e nem isso conseguia demonstrar corretamente. Céus, ele precisava extravasar, relaxar! Mas, além de tudo, parecia triste também, melancólico, daquele jeito que só vemos em homens quando perdem o amor das suas vidas.

Naquele momento, eu estava com um enorme sentimento de pena para com ele, mas não sabia se isso era algo que o homem fosse aceitar. Parecia orgulhoso, individualista, assim - guardando tudo para si. Talvez nem soubesse que era aquilo que o estava destruindo.

Talvez ele precisasse saber, pensei. Era isso. Iria até ele, o confortaria mesmo se rejeitasse a ideia a princípio, pois acabaria percebendo que o que mais precisava era de um ombro amigo, alguém para compartilhar as mágoas após anos de solidão.

Mas, então, tudo aconteceu muito rápido. Um esquilo mexeu-se nas folhagens, assustando o homem com o movimento repentino, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele havia sumido. Sim, ele havia desaparecido como pó, bem na minha frente. Estava sem reação. Ele podia ter sumido agora, não agora...

Seria ele bruxo? Fantasma? Ou até mesmo apenas um fruto da minha imaginação? Uma ilusão projetada por uma mente desesperada por respostas... ou mais perguntas?

Isso nunca saberia. Pois nunca mais cheguei a encontrar o estranho homem. A única coisa que sabia era que – se ele era então real -, havia perdido sua última chance naquela noite.

Sua última esperança.

Eu havia voltado ao bosque mais cinco vezes naquela semana... mas ninguém estava lá.


***

Saindo da prova, descendo as escadas em direção à cantina do colégio, ouvi a coisa mais bonita que alguém pode dizer.

Um garoto e uma garota de 17 anos, abraçados, que também tinham acabado de sair da prova.

E ele disse com um sorriso torto no rosto: "Na vigésima linha, eu já tinha acabado de descrever o seu rosto".

Eu estava passando pelo lado nessa hora, e quase caí da escada com a declaração. E olha que nem foi pra mim. Eu nunca pensei que alguém pudesse ser tão romântico. Tá, foi estranho. Mas a menina nem ligou. Corou, e sorriu de volta.

E é isso que importa.

Incrível, né?
Homem quando quer...



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