domingo, 10 de abril de 2011

O homem do pijama listrado

Era um homem metódico, de rotinas. Após anos servindo o exército, não aguentava mais tantas surpresas, inconstância. Ele só queria estabilidade.

Todos os dias, acordava exatamente às 6:32 das manhã, rolava duas vezes na cama para o lado esquerdo, espreguiçava sempre virado para o norte, e calçava seus chinelos azuis. Primeiro o esquerdo, depois o direito, sempre assim. Depois, descia vagarosamente para a cozinha, onde cozinhava ovos com bacon e bebia suco de laranja. Deixava dois dedos de suco e lavava a louça. Movimentos uniformes, da direita para a esquerda, para cima e para baixo, e sucessivamente.

Regava as plantas, começando pelas begônias, e depois ia caminhar. Fazia isso com seu cachorro Percival, mas aí ele fugiu e deve ter morrido. Negando a morte do cachorro, pois aquilo seria uma mudança muito grande, levava um bicho de pelúcia para passear pelo parque na coleira.

E assim o homem metódico seguia a vida... Ou melhor, continuava dando replay nela.

Certo dia, eram 22:12 da noite. Hora de dormir, ele sabia. Subiu as escadas, colocou o bicho de pelúcia para dormir e seguiu ao banheiro para realizar suas higienes pessoais. Abriu o armário, puxou a gaveta, e teve um susto que quase o fez infartar... O pijama, o pijama azul listrado, não estava lá. Ele dormia com esse mesmo pijama há 12 anos. Não era possível, não podia sumir assim. Havia tirado hoje de manhã, deixado dobrado na poltrona... Lembrava disso. Era o que fazia todos os dias. Mas e se hoje foi diferente?

Ele não conseguia pensar nessa possibilidade. Todo aquele drama estava acabando com ele, e com tudo que ele havia construído para si nesses últimos anos.

22:15 - Céus, já havia passado da hora de dormir. E ele lá, divagando sobre o seu pijama. Lembrou-se do dia em que Percival tinha babado nele todinho, e levou a maior surra porque teria serviço no outro dia, e precisava levar o pijama. Pegou-se rindo com aquela recordação. Ou então, quando sua filha adentrou a sala vestindo o tal pijama listrado, extremamente largo e comprido no corpinho de criança dela. Suspirou. Pensou pela primeira vez em muito tempo sobre sua filha. Onde estaria ela agora? Casada? Com filhos, talvez?

Esqueceu um pouco do pijama, e sentou-se na cama, esgotado. Esgotado mentalmente, de tantos dias sem pensar. Sim, isso cansa, e como cansa. Ouviu a porta se abrir lentamente, mas não havia ninguém lá. Como ele já estava no inferno, resolveu abraçar o capeta.

Desceu as escadas preocupado, sem saber o que era. Estava tudo muito escuro na sala, e ele não achava o interruptor de luz. Até que sentiu algo molhado na sua mão, e gritou.

-PERCIVAL, NÃO ASSUSTE O PAPAI DESSE JEITO! - disse uma voz feminina, acendendo a luz.

***

Não preciso contar o que aconteceu depois daquele dia, pois é claro que cachorros e filhas conseguem transformar a vida de alguém. 
Mas se precisasse, já sei até como começaria...

Era um homem aventureiro e feliz, tão aventureiro e feliz como qualquer homem comum. Pois a sua felicidade era fazer de todo dia uma nova aventura...

Eis aqui o meu meigo e belo pijama que semeou a discórdia entre as minhas amigas. Pois um pijama dos Bananas de Pijamas deve ser o sonho de consumo de qualquer um. E eu tenho um, HÁ.

Nenhum comentário: