terça-feira, 8 de março de 2011

Rebola, filha


Lembro de quando eu era pequena, e tudo era divertido. Dançar, inclusive. Hoje não faço mais isso.

Tinha 1 aninho, e meus pais me levavam para requebrar a bunda dançando o Boi lá na Ponta Negra de Manaus... E eu balançava loucamente a fralda ao som de Garantido e Caprichoso.

Você que é de outro país ou do Sudeste brasileiro não deve estar ententendo nada, mas não é esse o ponto.

OU ENTÃO a vovó aparecia com o CD de cantigas infantis e eu ficava lá pulando "PASSARINHO QUER DANÇAR, O RABICHO BALANÇAR, PORQUE ACABA DE NASCER, TCHU, TCHU, TCHU, TCHU!".

Ah, eu era a alegria da festa.
Mas aí nasceu a minha priminha, e eu saí do meu pedestal de bunda balançante. Mas isso já é outra história.

A QUESTÃO É... Como todos nós, brasileiros, sabemos, está reprisando no Vale a Pena Ver de Novo a novela O Clone, de 2000.

E eu era simplesmente apaixonada por aquela novela, já que eu adorava a tão famosa Dança do Ventre, e tinha roupas de todas as cores, e véus de todos os tipos. Enquanto meninas comuns sonhavam em ser Cinderela, eu sonhava em ser Jasmine.

Quando, na novela, chegavam as horas da Dança do Ventre, eu corria pro meu quarto e me vestia de odalisca pra dançar, mas sempre quando eu voltava, a música já tinha acabado. Era TÃO frustrante...

Aquela novela era o máximo, e eu era fã da Jade.
Queria dançar como ela.

E nisso, fazia apresentações no shopping ao lado do palhaço Jujuba, que me "patrocinava", vestida de "Jade", dançando a Dança do Ventre.

É claro que naquela época o máximo que eu conseguia era uma mínima requebrada na cintura e colocar o véu na minha cara e tirar, mas mesmo assim, achava que estava abafando.

Um dia até ganhei um troféu, com as inscrições:

"Pela brilhante apresentação de Dança Árabe
Amazonas Shopping
Junho - 2003
Ana Karla"


Mas então, em um belo dia... eu cresci.
A novela acabou.
A fita do Aladdin mofou.
As roupas foram guardadas nos confins do guarda-roupa da minha mãe.

E eu perdi a Jade dentro de mim.

E foi assim até... hoje.
Tenho um aniversário a fantasia a ir - cuja aniversariamente é a mesma prima que me tirou do pedestal de bunda balançante - e não sabia o que vestir. Afinal, não tenho fantasias, não uso fantasias.

Mas ela ORDENOU que eu fosse fantasiada.
E agora?

Tentei a fantasia de Rapunzel da minha mãe.
Mas algo parecia errado.
Não sei, era... princesa demais, pra mim.

Mas então...
"Mãe, onde estão minhas roupas de Odalisca?".

E eu passei a tarde experimentando, espirrando por causa da poeira, descartando roupas, separando algumas para dar de presente...

Até que... uma coube perfeitamente.
Azul marinho, com um véu caindo pelas costas, muito brilho, uma tiara... "Ixalá, mamãe, muito ouro".
Só quem entende sabe como é.

"Filha, está lindo".

E eu me olhei no espelho.
"Rebola, filha, vai...".

Quem era aquele ser na minha frente?
Certamente não era eu.
Então... não faria mal se...

E eu dancei.
Na frente de espelho.
Usei o véu, as mãos... E vi que a minha cintura ainda sabia "se mexer".

"Porcaria, você rebola mais que eu" - minha mãe comentou.


"É claro, né, mãe?"


Estarei fora dos dias 09 a 13.
A festa fantasia é dia 10.
E tem um casamento do meu primo dia 11.
Pós-carnaval cheio...

Um comentário:

Pipo disse...

Eu adorei essa estória. Sou testemunha que essa menina tem uma cintura bastante rebolante e, mãos bem dançarinas. Praticamente uma odalisca beduína.